Episódio 7

Feira Central de Ceilândia – EP7 | Dazumana #53

Vamos de mocotó? No episódio de hoje, falamos sobre a Feira Central de Ceilândia com a doutoranda em Patrimônios Alimentares Daniela Leite. Ela explica o potencial turístico desse lugar e a cultura típica das feiras. Ali a rua vira casa e todos participam das conversas. E você? Qual é o seu prato favorito nesse lugar?

Sobre o episódio

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Juliana: Olá, este é um novo episódio do Dazumana da temporada álbum de recordações bsb. Hoje vamos falar de feiras como patrimônio que refletem a cultura e a convivência entre as pessoas. Leiam. Quando você vai para esse espaço que gosta de fazer?

Leyberson: eu preciso ter ali um pastel e um caldo de cana no mínimo, né? E nessa hora a gente vai conversando com os feirantes, sabe um pouquinho da origem dos produtos e tudo mais e aí eu queria saber se a gente consegue fazer isso também ali na feira permanente de Ceilândia ou feira central de Ceilândia que, na verdade, é o objeto de tudo da nossa convidada de hoje.
Juliana: É isso a gente vai descobrir conversando com a Daniela Carvalho Bezerra Leite. Oi Daniela, tudo bem? Você tem um prato favorito de feira?

Daniela: Olá pessoal, tudo bem? Na verdade, meu prato preferido da feira é ir à feira, mas vamos conversar sobre isso

Leyberson: Fiquei curioso aí então. Mas antes a gente queria apresentar um pouco mais a nossa convidada lendo o currículo Lattes esse ritual clássico aqui do Dazumana. Daniela é doutoranda em patrimônios alimentares culturas e identidades pela Universidade de Coimbra Portugal, mestra em turismo pelo centro de Excelência em turismo da Universidade de Brasília, especialista em docência em gastronomia pela Faculdade de Tecnologia em hotelaria gastronomia e turismo de São Paulo, pesquisadora de gastronomia, identidade e cultura alimentar, vinculada ao Foods, grupo de pesquisa em inovação educação empreendedora e sustentabilidade aplicadas à gastronomia e ao turismo. É professora do ensino básico, técnico e tecnológico da área de gastronomia do Instituto Federal de Brasília, desde 2012, é a autora também do livro “O burburinho da Feira: uma história de comensalidade e hospitalidade”. Bom, Daniela, é isso mesmo? Faltou alguma coisa aí nesse cardápio de feira?

Daniela: É isso mesmo, tem algumas outras coisas, alguns outros eventos que participei, mas resumidamente para a gente falar de feira, esse currículo já basta

Juliana: Eu quero começar perguntando como a nossa Temporada é sobre patrimônio material e imaterial, se você enxerga a feira central de Ceilândia como um patrimônio do DF e porque

Daniela: Sim, enxergo. Enxergo porque se a gente for falar e incluir o conceito aí de salvaguarda, a gente tem na feira um local que guarda essa memória, não guarda a sete chaves onde nada se muda, ela faz com que aquela identidade permaneça aberta, não só para os moradores de Ceilândia ou para os frequentadores habituais, mas também para o público em geral, para o turista, para qualquer pessoa que se disponha a esse momento de conviver na feira.

Leyberson: A gente tá dentro de um contexto de Brasília, muita gente conhece a Ceilândia. Para a gente falar da feira e quem nos ouve de fora do Distrito Federal. Como que a Ceilândia surge eh em Brasília e como que a feira surge em Ceilândia?

Daniela: Então esse foi um dos motes da minha pesquisa, escolher a Ceilândia e por que a Ceilândia. Inicialmente Brasília foi construída por pessoas que vieram de fora, obviamente. A gente tem primeiro uma construção no papel, tem uma determinação no papel de que Brasília vai ser um centro do Poder e isso é institucionalizado, então isso é posto no papel, JK falar e falou “vou construir Brasília”. E aí para essa construção no meio do nada, parece que precisarão vir pessoas de fora, então vieram pessoas de todos os lugares do Brasil, Nordeste, o próprio Goiás, Minas, do Sul, vieram pessoas de todos os lugares do Brasil em maior ou menor quantidade e que fizeram essa construção de Brasília. Quando Brasília estava pronta, digamos assim, aquelas as partes principais ali e aí vamos falar assim do centro do Poder, Brasília como centro do Poder como Esplanada dos Ministérios para funcionar a capital federal, a nova capital federal. Quando essa parte estava pronta, esses trabalhadores, esses construtores de Brasília foram marginalizados porque não tinha emprego para eles aqui, então, eles foram marginalizados. E aí é onde acontece Ceilândia. Então esses trabalhadores construtores de Brasília foram transferidos para outras áreas, entre elas a Ceilândia. Então é como se pegassem os trabalhadores de Brasília, colocassem numa área onde não tivesse condições para moradia. Então essas pessoas foram transferidas para uma outra área saíram da parte central de Brasília e foram transferidas para uma área um pouco mais distante que é a Ceilândia

Enxerto: A cidade surgiu em março de 1971 em uma área de 20 km quadrados ao norte de Taguatinga nas antigas terras da Fazenda Guariroba, que vieram da Vila IAPI. O grupo foi a regimental a partir da campanha de erradicação das invasões a c i sigla que daria a origem ao nome da cidade, ou seja, Ceilândia.

Daniela: Ali eles tiveram que construir a vida deles, e aí uma questão importante que a gente precisa para nossa subsistência é a alimentação, a alimentação e o comércio de uma maneira geral. E a feira nasce nesse momento também onde eles foram transportados para lá precisavam organizar o comércio de alguma maneira e a feira da Ceilândia surge nesse primeiro momento de uma maneira muito simples e aí ela vai evoluindo. Então quando a gente fala isso acontece lá em mais ou menos em 1970, mas a feira do modo que ela é hoje, ela tem uma reinauguração em 1984, e aí ela já assume essa cara mais ou menos do que ela tem hoje. Claro que ela foi evoluindo, a estrutura física dela vai melhorando ao longo do tempo até chegar no que a gente tem hoje. Além dessa desse molde da exclusão, né dos excluídos. Então os trabalhadores foram transportados para outra área, foram retirados da zona central de Brasília e transportados para essa outra área, tem a questão também de que hoje Ceilândia é a cidade mais populosa do Distrito Federal. Então quando a gente fala de uma maneira geral, “eu vou para Brasília”. Ta, mas você vai para onde de Brasília, né? Porque Brasília tem uma área enorme. Quando a gente fala de Brasília, a gente precisa entender se a gente tá falando de da região administrativa de Brasília que vai incluir aquela parte mesmo do avião que a gente conhece ou se a gente tá falando do quadradinho do Distrito Federal. Porque a Brasília de verdade a Brasília da onde a vida acontece, ela não tá naquela partezinha lá da Esplanada dos Ministérios, porque ali se a gente for pensar bem, a gente tem gente de todos os lugares, a gente tem a política acontecendo, a gente tem um centro do Poder Nacional acontecendo, mas isso não reflete obrigatória ou essencialmente na vida dos Brasilienses, né? Porque a gente precisa incluir todas as regiões administrativas, a gente precisa pensar no distrito federal como o quadradinho completo e a Ceilândia consegue provar isso absolutamente porque a cidade mais populosa do Distrito Federal é Ceilândia. Então a gente tem uma força de pessoas na Ceilândia muito grande, então assim conhecer Brasília é conhecer o quê? A gente pode morar em Sobradinho e não conhecer a Ceilândia e a gente tá dentro do quadradinho do Distrito Federal. Então esse foi o grande mote de eu querer estudar a Ceilândia, porque era a cidade mais populosa e porque tem um histórico de exclusão é muito grande, e não faz, para mim, o menor sentido nem como pesquisadora e muito menos como brasiliense.

Juliana: Considerando que você falou que inicialmente vocês tiveram trabalhadores que vieram de fora e aí foram excluídos do centro de Brasília e levados para Ceilândia, mas a gente tem então também uma diversidade de culturas, já que são pessoas que vieram de outras regiões essa diversidade se reflete na feira de que modo?

Daniela: Se reflete completamente tanto que o slogan da feira é “ponto de encontro e reencontro de nordestinos”

Enxerto: tem gente de todos os lugares, mas os nordestinos são maioria por aqui segundo a última pesquisa distrital por amostra de domicílios moram aqui no DF 480.472 nordestinos. Em Ceilândia, por exemplo, 21% dos moradores são do Nordeste.

Daniela: ali eles formaram um local de reencontro mesmo. Uma situação muito peculiar da feira que me chamou muita atenção durante a fase da pesquisa é que tem sempre um som ambiente na feira, sempre um som ambiente, tem o local do som lá na feira, da transmissão do som. E aí toca músicas variadas, hoje, né? Tocam músicas variadas, fazem algumas propagandas, fazem um chamamento para algumas bancas e tal, mas ele tem um lugar de destaque ali e fica normalmente escondido, né? É um backstage ali. E aí eu perguntei por que a barraca de som fica no meio da Feira, assim algo muito acessível para todo mundo ver. Justamente porque era através do alto-falante da feira que às vezes alguns nordestinos usavam para encontrar outros nordestinos, como assim Daniela? A pessoa queria encontrar algum nordestino que tinham vindo trabalhar em Brasília, mas não tinha notícia dele. Ia lá na feira da Ceilândia, ia lá no som da Ceilândia e dizia “eu tô procurando a Daniela Leite de tal lugar”. E aí eles anunciavam na feira “Daniela Leite sua família ou sua tia, ou sua avó tá te procurando, venha aqui na barraca do som que ela tá aqui querendo saber notícias suas” e tal. Então as pessoas começam a ir na feira para encontrar os nordestinos que estão aqui em Brasília, e que estão em Ceilândia e aí eles passam a se reencontrar na feira. Ah, mas você não foi à feira, você não tava na feira, mas alguém te conhecia. E aí vai lá te falar “Daniela, estavam chamando seu nome lá na feira, sua tia tá atrás de você”. E aí você ia lá na feira e falava “eu sou a Daniela, quem tá atrás de mim?”. E aí normalmente era alguém que tinha mandado um recado para alguém, porque vamos lembrar que a gente não estava na era da internet, muito menos do telefone celular facilitado que todo mundo tem de WhatsApp ou de outra rede social qualquer que conecta as pessoas, então a forma de conexão dessa época era outra. Vale lembrar que a gente teve alguns acidentes, houve alguns óbitos durante a construção. E aí as pessoas às vezes não voltavam, não davam notícia e aquilo começou a fingir as pessoas e aí essa barraca da do som servia para unir. Isso avança, obviamente, as pessoas que tinham que ser encontradas foram encontradas, mas aquela sensação, aquele sentimento de que ali você encontrava ou reencontrava nordestinos se fixa. E, além disso, é natural que os feirantes que produzissem alimentação ali fossem nordestinos. E aí o que o nordestino vai fazer? Ou qualquer um outro, mas nesse caso o que o nordestino vai fazer? A comida nordestina, e isso se perpetua até hoje

enxerto: a feira central de Ceilândia é um mundo à parte a cultura nordestina está muito presente seja nos sotaques ou nos produtos e tem muita coisa que você só encontra aqui de roupas a artigos de couro de comida fresca a comida viva, mas o que é a feira da Ceilândia é mais tem são histórias e memórias.

Daniela: Então a gente tem, as bancas de alimentação ali são essencialmente Nordestinas que fazem e vendem essencialmente comida nordestina. É claro que a feira não está estagnada no tempo. Você não tira uma foto e guardar e ela não tá imutável, até porque a cultura nem é isso, cultura ela muda. Então é claro que a gente tem adaptações ali das comidas e a gente tem complementações da globalização. Então a gente vai ter batata frita, vai ter enfim o pastel, a gente tem uma complementação da globalização, mas a essência da alimentação ali é nordestina. Enfim, tem algumas coisas que se faz com bode, mas lá não é com bode, sim, é natural, aqui no centro-oeste, a gente não tem a criação ou o consumo de bode como efetivamente tem no Nordeste, mas a gente tem adaptações. E aí essas adaptações não desconfiguram completamente o sentimento de se comer uma comida nordestina como ela é feita na feira de Ceilândia.

Leyberson: Você falou da Rádio. Você falou assim do som, que me lembrou a ideia do rádio poste e também você falou que por ser antes da internet as pessoas iam lá pegar informações, trocar ideias e tudo mais, então a gente de certa forma é uma rede social. E aí eu fiquei bem bastante curioso pra saber como é que você entrou nessa rede social da feira da Ceilândia. Qual foi o convite? Como você chegou lá? Foi por um cardápio para um prato? Você já nasceu por ali? Queria que você contasse a sua experiência. Como você encontrou a feira como objeto de estudo ou até mesmo antes, como é que você conheceu a feira

Daniela: Então, essa é uma questão de pesquisadora mesmo. Eu queria estudar a feira da Ceilândia por conta dessas questões que eu já disse, mas eu também não sabia como que eu ia entrar na feira da Ceilândia. E aí vamos pensar, gente. O projeto ele não nasce do dia para noite um projeto de pesquisa, ele não simplesmente Brota na sua cabeça e você executa da noite para o dia, ele leva um tempo você vai amadurecendo ele durante um tempo. E eu lembro que eu participava de um a gente chamava de “almoços literários”, a gente fazia uns almoços literários na UnB no centro de Excelência em turismo, uma vez a cada 15 dias e a gente estudava diversos autores uma vez a gente estava. A proposta daquela quinzena, era estudar o poder simbólico de Bourdieu. E aí Bourdieu vai falar mais ou menos assim no poder simbólico: que os agentes e as instituições dominantes tendem a incutir a cultura e a visão do dominante nas suas pesquisas, nas suas investigações. E isso me incomodou porque eu falei “eu não quero fazer uma pesquisa com uma visão dominante”, por que o que é o dominante? É uma pessoa com instrução que vai lá pesquisar alguma coisa, então eu não quero chegar com esse conhecimento de mestre da academia para fazer uma pesquisa numa feira que é um lugar, é um laboratório vivo. Então você tem que chegar de uma forma diferente, na minha opinião. Existem muitas pesquisas importantes que são assim, mas eu, essa pesquisadora aqui não queria isso. Eu queria uma outra visão, eu queria visão deles, eu queria a voz da Ceilândia, da feira da Ceilândia e não a voz da Daniela e aí eu comecei a conversar sobre isso. Aí a Dra Marutschka falou: “Espera aí, então, vamos entrar por aí com a etnografia”. Porque a etnografia é justamente isso, é você dar voz aquela comunidade que você está estudando e isso é demorado, isso é muito demorado, é um Processo muito demorado e muito longo e é uma coleta muito rica assim porque é muito profunda. Então eu fui entrando aos poucos, você tem que ir com frequência, com regularidade e para participar daquela vida. Então eu ia, tudo que eu tinha que fazer numa feira ou num Centro de Comércio, eu ia até a feira da Ceilândia, então precisava comprar fruta e verdura, eu ia para feira da Ceilândia. Eu precisava comprar um presente, eu ia para feira da Ceilândia. Vinha um amigo me visitar uma amiga me visitar eu levava na feira da Ceilândia. Eu queria almoçar, eu ia na feira da Ceilândia. Então eu comecei a ir passeando e como consumidora, não estava analisando, não tava nada, eu tava vivendo a feira da Ceilândia. Quando eu me senti confortável quando aquele ambiente pra mim era um ambiente confortável, aí eu comecei a minha pesquisa, aí eu fui entrevistar, aí eu fui me apresentar como pesquisadora. E aí alguns até “mas como assim, você é pesquisadora? Você vem aqui toda semana, você tá pesquisando o quê? Você está me pesquisando há muito tempo”. Eu “não, não tô te pesquisando há muito tempo, comecei a pesquisar agora tá aqui ó, a data”, só que aí já tinha esse relacionamento, as pessoas já me já tinham me visto lá em algum momento porque a feira é assim, né? É um espaço de comércio, sim, mas é um espaço de comércio diferenciado, um dia a aproximação entre as pessoas a pessoa para e olha no seu olho, ela para e ver o que você quer, ela te dá espaço para conversar. Então aí nesse momento, aí eu comecei a minha pesquisa não de fato, porque né, na verdade, todo esse tempo eu já estava colhendo informações, mas não propositadamente, não tava fazendo anotações, eu estava vivendo aquele lugar. Aí depois no relato etnográfico, eu conto essa experiência com detalhes, aí eu revivo esses momentos com o máximo de detalhes possíveis, e claro, uso dessas dessa outra fase que foi a pesquisa em si com questionário com entrevista. Eu também utilizo esses dados nas minhas pesquisas em relação à feira. Então eu entrei desse jeito, foi uma opção minha dar voz à feira da Ceilândia pela feira da Ceilândia mesmo, mas é uma construção, a pesquisa social ou humana, ela é mais delicada assim na minha visão.

Juliana: Uma curiosidade. Você falou de muito um olhar cuidadoso. Quando você fala que não quer a visão dominado sobre as pessoas que estão excluídas e esse cuidado de chegar lá e falar “ah, minha pesquisa tá começando agora”, existem outros cuidados em termos éticos que você tomou para adentrar ali na feira e para poder começar essa interação?

Daniela: sim, e esse é o mais difícil, todo mundo fala assim a escrever uma dissertação de Mestrado ou um artigo é muito difícil para mim, não foi difícil para mim, uma difícil foi você ter que deixar de lado todos os seus pré-conceitos, preconceito assim de conceitos mesmo, você tem, você forma durante toda a sua vida, visões, ideias, memórias. Você cria isso na sua cabeça e ok, a gente é assim, o ser humano é assim, a gente precisa fazer isso. Só que para você deixar o outro falar, e você relatar o que o outro tá falando, você tem que estar livre disso, você tem que estar limpa e aí deixar isso numa outra caixinha. Eu falo assim que tive que abrir uma caixa na minha cabeça e colocar tudo isso porque eu não vou jogar fora tudo isso também, porque essa sou eu tô eu na minha vida particular. Eu preciso guardar isso se eu vou usar isso depois ou não se eu vou transformar isso depois ou não, isso é outra história, mas neste momento da pesquisa eu preciso guardar isso e deixar a pesquisadora neutra entrar em campo. E isso foi difícil. Por isso que eu digo assim que eu fui muitas e muitas e muitas. Todo mundo já me conhecia, mas eu precisava me sentir confortável nisso assim. Tá bom, ok, agora aqui eu consigo separar o que é a Daniela indivíduo do que é Daniela pesquisadora. E aí é que fui me apresentar como pesquisadora. E isso é difícil, mas é possível, né? Então assim. “Ah, você fez o que, fez trabalho? Não você precisa ir desmontando nas suas cabeças isso

Leyberson: eu queria puxar um pouco mais pelo aspecto do turismo, porque você conta que quando começou a ter essa imersão você ia desde almoçar, comprar uma coisa um dia a dia, como levar pessoas para conhecer a feira, né? Quando começa, o que seria o turismo cidadão? Quanto que começa e como se diferencia? Por exemplo, ou se faz parte também a pessoa que está na feira para ouvir um recado de alguém ou para comprar uma alface para o dia a dia. Quando acontece essa figura categórica que você discute que é essa o turismo Cidadão?

Daniela: o turismo cidadão foi uma das mais gratas descobertas para mim em relação ao turismo. E aí foi também com a Dra Maru que ela traz esse conceito de turismo cidadão e eu achei Fantástico, principalmente quando a gente pensa em Brasília assim, eu achei fantástico. Fantástico porque a gente pouco conhece, o brasiliense pouco conhece Brasília. Vou falar especificamente de Brasília, porque não só o meu objeto de estudo, como é a minha, né? Eu sou de Brasília, então vou falar de Brasília. Brasília tem 31 regiões administrativas. Normalmente no nosso cotidiano a gente sempre faz as coisas por perto quanto mais perto. Ainda mais hoje em dia essas questões de deslocamento, tudo a gente faz por perto. Então a gente vai, conhece ali uma duas três regiões administrativas que é onde a gente vive. E o vive, que eu falo, é a rotina, onde você vai todo dia. E aí muitas vezes, a gente não conhece nem 15 regiões administrativas, a gente não conhece nem metade das regiões administrativa da nossa própria cidade. Suponho que isso aconteça com outra cidade, só que nas outras cidades tem outros nomes, se chama bairro, e o cidadão ali, ele não conhece muitas vezes a própria cidade. E aí o turismo cidadão traz essa possibilidade de você conhecer a sua cidade. Hoje a gente está chamando de “ocupar os espaços”, mas para mim nada é mais é do que fazer o turismo cidadão na sua própria cidade. Aí você falou “qual é a diferença da pessoa que vai lá comprar uma alface da pessoa que vai fazer turismo?”. A pessoa que vai comprar uma alface, ela vai na sua rotina, aquela é a rotina dela, você não quer comprar uma alface a 30 km de distância. Você está precisando da alface na hora do almoço, você vai na esquina comprar uma alface. Então isso é a rotina da pessoa, ela não tá fazendo turismo cidadão, ela tá dentro da rotina dela, ela foi lá comprar a alface e pronto. Qual é a premissa do Turismo cidadão ou do Turismo? Vamos falar primeiro qual é a premissa do Turismo? É que a gente tenha um estranhamento que a gente saia da nossa zona de conforto que é a nossa rotina e vá para um estranhamento esteja aberta a um estranhamento, a receber o novo, o desconhecido. E a gente vai falar também de um deslocamento, só que um deslocamento é um deslocamento subjetivo, o que eu posso mandar 50 km e estar nesse deslocamento ou eu posso andar 20.000 km e praticar esse deslocamento, mas o que a gente precisa ter muito claro na nossa cabeça que a gente precisa de um estranhamento e de um deslocamento da nossa rotina do nosso cotidiano. A partir disso a gente já tem um turismo. E aí quando a gente fala de um turismo dentro da mesma cidade, a gente não, a doutora Maru fala, do Turismo cidadão, então ela vai propor que o estranhamento se materialize quando o indivíduo descobre outras formas de lazer e de entretenimento dentro da própria, cidade dele. Aí a gente já começa a ter o turismo cidadão pelo conceito da doutora Maru. E aí, sim, quando você sai de casa propõe num momento de lazer seu ir para um lugar diferente desconhecido onde você vai estar com uma visão, uma Mente uma cabeça aberta para o desconhecido, para desfrutar daqueles momentos, para viver uma experiência diferente do seu cotidiano, aí você tá praticando o turismo cidadão. E o turismo cidadão é fantástico, porque ele resgata a cultura da sua própria cidade, porque te dá a possibilidade de conhecer a sua própria cidade, de fazer turismo na sua própria cidade. Olha só, quando eu saio de casa, eu sou brasiliense, sou nascida e criada em Brasília, se eu saio de casa e vou para o Congresso Nacional ou para o planalto, eu tô fazendo turismo? To. Por quê? Porque sai da minha rotina. Agora, por que se eu for para uma feira eu não tô fazendo turismo? To também. São turismos diferentes, mas são experiências diferentes da minha experiência de rotina. É claro que eu tô falando assim, se eu for para o Planalto, se eu não viver nesses lugares, se não trabalhar nesses lugares, né? Se eu for uma deputada ou uma assessora parlamentar, não, eu não tô fazendo turismo, é a minha vida. Agora, se eu vou lá conhecer aquele espaço, eu tô praticando um turismo de cidadão também Cívico ainda por cima, mas é um turismo cidadão. E as feiras, sim, totalmente porque a gente vive outra experiência bem diferente que só for para um shopping, né? Se eu for para um shopping center, são espaços globalizados, as bandeiras dos shoppings. Inclusive é o mesmo shopping que tem aqui, tem São Paulo, tem no Rio, são bandeiras. Essa é a ideia da globalização, né? A padronização. Então é um espaço de comércio diferente, mais padronizado. Na feira não, a Feira da Ceilândia é diferente da Feira do Guará que é diferente da Feira do Cruzeiro que é diferente da Feira de Planaltina, que é diferente da Feira do Núcleo Bandeirante, cada feira tem a sua personalidade. Então eu digo que você quer conhecer Brasília, conheça as 10 feiras principais aqui de Brasília. A gente tem 10 feiras inventariadas, fazer o turismo cidadão por essas 10 feiras já é um bom começo para o brasiliense conhecer a sua cidade e para o turista que vem dos outros estados também conhecer uma Brasília real, a Brasília da vida real, não a Brasília da Esplanada dos Ministérios

Juliana: sobre a experiência na feira, você fala muito da hospitalidade. Tem uma frase que eu achei muito interessante que você trouxe que é a seguinte: na feira é como se a rua virasse casa, que isso significa? Como é essa hospitalidade?

Daniela: As feiras, de uma maneira geral, elas permitem que a comunicação, que o contato seja aproximado. Isso já é uma característica da feira, você pode chamar de amiga, é uma comunicação quase que é tátil, né? Você quase se sente tocada por aquela pessoa por aquele feirante. E isso não significa desrespeito. Se a gente tira essa forma de comunicação da feira e leva ela para um shopping center, por exemplo, isso já vai parecer falta de respeito, mas na feira não. Na feira isso é permitido porque a feira é um local descontraído, ela nasce assim, ela tem essa característica de ser um lugar mais leve, mais solto, mais próximo, que permite essa aproximação. E vira quase casa porque você tem uma liberdade maior, como a liberdade maior que a gente tem em casa. A gente tem uma liberdade maior na nossa casa do que nos espaços públicos. A nossa casa é mais permissiva do que os espaços públicos, graças a Deus e é assim que tem que ser, né? A gente tem que ter a liberdade na nossa casa. E a feira se parece mais com a nossa casa do que com os espaços públicos. E como é que isso se dá? As pessoas se metem na conversa, pessoas dão opinião na roupa que você tá provando as pessoas vão falar que a panela que você comprou é muito boa ou que na outra banca tem uma melhor, ou que essa daqui é melhor as pessoas vão dizer “eu comprei essa batata aqui agora, tá ótima tá fresca, vai lá e compra”, vão falar desse tempero, “esse tempero aqui chegou agora tá fresco é da barraca do do seu Fulano” todas as pessoas se metem todo mundo se mete na sua vida. Na sua vida assim, na sua conversa. Você tá conversando… teve uma vez que eu tava fazendo uma pesquisa com um rapaz e aí ele falou “Eu tenho 20 e Poucos anos e sou do Piauí” e eu anotando ali, né? Eu já estava naquele momento pesquisador. Aí vira uma pessoa lá do outro lado da barraca que fala “Não, ele não é do Piauí não. Ele é de não sei da onde ele disse que é do Piauí, mas ele não é, pede pra ver a identidade dele” é isso você fica naquela assim. Que eu faço que eu não faço? Aí o outro lá do outro lado já fala “não, ele é, sim, eu conheço o pai dele, ele é”. E aí aquilo é uma entrevista, você ali montada de pesquisadora e todo mundo se mete na conversa de todo mundo. Então é isso que faz ela ser mais acolhedora, da Feira ser mais acolhedora, e permite esses momentos de interação, completamente de interação. Teve outra vez que eu tava olhando uma mochila, eu acho que era uma mochila, aí o vendedor, o feirante e outra cliente começaram a conversar sobre o caminho que eles faziam para ir até determinado lugar na Bahia. Gente, deu 10 minutos, tinha umas seis pessoas, eles já estavam discutindo, qual que era o melhor lugar para parar, qual que eram os melhores postos, qual que era o melhor caminho. Não pega esse caminho, não pega aquele, esse aqui é bem melhor. E aí nesse momento, eu tava como cliente, ainda estava naquela outra frase. Eu só olhando aquilo ali eu falei “daqui a pouco vocês vão falar dos buracos que tem na pista com a riqueza de detalhes das informações que vocês estão trocando” e ninguém se conhecia. O ponto comum deles ali era que ele sempre fazia esse caminho de carro até tal, cidade da Bahia, e ninguém perde autorização pra ninguém. Vê se isso acontece em uma praça de alimentação de um shopping, não acontece porque aquele ambiente é diferenciado, né? É uma coisa mais distante mesmo, o que não é essa característica da Feira, a feira tem essa característica de permissividade. Você vai para feira, você já sabe que tem essa característica e, se você não sabe, você vai descobrir na hora porque todo mundo vai falar isso, todo mundo vai falar com você a forma de chamamento do cliente, a gente vê isso em novela. Para quem nunca foi numa feira, novela pelo menos já assistiu. E aí tem as novelas que o feirante e vai lá e chama “vem freguesa prova aqui pega nessa roupa Experimenta Toca”, então a feira é diferente é o diferente que fala que grita que sobe no banquinho.

Enxerto: alface-crespa, couve-flor (paródia da feira)

Daniela: isso aproxima as pessoas, põe as pessoas em comunicação. Então é daí que vem essa história da feira, de ser mais parecido com a casa do que com outros espaços públicos.

Leyberson: A gente já tá indo pra reta final do da entrevista da conversa, mas eu queria… são duas questões últimas, minhas. A primeira é só para curiosidade saber se você acabou comprando a bolsa ou uma passagem para a Bahia nessa interação e, quando você fala de hospitalidade, você até escrever um livro eu acho que é sobre a experiência da Ceilândia também, e queria saber se por mais que você fala que lá acontece um ambiente para além das relações de conflitos políticos, um ambiente de hospitalidade comercialidade. Como que a feira se importa ou ela se adapta às outras feiras, outros espaços que surgiram ao redor, como o Shopping Popular, a Feira dos Goianos, como o próprio Shopping JK que é a padronização, né? Eu nunca fui ao Shopping JK, mas eu sei o que eu vou encontrar lá porque eu conheço outros shoppings. Então como ele lida com isso, até a questão de público mesmo, de recepção?

Daniela: Olha eu não comprei a bolsa e nem a passagem para a Bahia, mas eu comprei panela, tenho uma panela até hoje, até hoje eu tenho minhas panelas preferidas aqui são as panelas de ferro lá da feira da Ceilândia. E todo mundo que me pergunta “Eu quero uma panela dessa”, eu só ir lá na feira da Ceilândia, eu mando um monte de gente na cara da Ceilândia e comprar isso. Em relação a outra pergunta em relação a como a feira concorre com os outros espaços de comércio, eles não, não sofrem muito com esses outros espaços. Tem coisas que tem na feira, eu acabei de falar, né? Tem coisas que tem na feira que só tem na feira. Tem formas de atendimento que tem na feira que só tem na feira. Porque hoje, a gente não precisa nem falar dos espaços que estão ao redor, fisicamente, hoje a gente tem um comércio eletrônico enorme então, se eu quiser comprar tudo de casa, eu compro, até a alface, não preciso sair de casa, mas a interação social ela ainda é muito importante, ela ainda faz muita diferença no momento. E a gente começa a entrar em outros lados, mas a feira da Ceilândia não sofre demasiadamente com os outros espaços de comércio que surgiram após ela porque ela tem uma forma de venda diferenciada dos outros espaços e tem objetos que você só encontra lá. Não só objetos como, vamos falar de produtos de uma maneira geral, tem pratos da alimentação da Gastronomia que você só encontra lá. Tem equipamentos ou produtos que você só encontra lá.

Juliana: Bem, vou fazer a minha última pergunta também quando li o artigo. Eu acho que fiquei muito focada nos feirantes, pensando na interação, como eles fazem a comunicação. Ouvindo você falar agora, eu fiquei pensando no outro lado da moeda, nas pessoas que vão à feira comprar e aí você chegou entrevistar essas pessoas e se você entrevistou teve alguma fala marcante, alguma coisa que elas falaram sobre como elas se sentem estando na feira?

Daniela: Eu fiz a pesquisa como os feirantes de todas as Feiras das bancas de alimentação porque o meu foco é na alimentação. Então eu entrevistei todos os feirantes das barracas de alimentação com exceção de um que não quis dar entrevista e entrevistei pelo menos três clientes de cada barraca de alimentação. O que mais me chamou a atenção que assim que foi muito marcante para mim, eu lembro do rostinho dele até hoje, é que perguntei para ele porque que ele vinha à feira e aí ele prontamente falou “porque na feira eu estou” aí eu falei “gente…”, Ele falou é “na feira eu estou, eu estou na feira, eu tô presente, né em corpo e mente eu estou” e aquilo para mim foi impactante, me deu margem para pensar em muitas coisas até pessoais. Mas enfim.

Juliana: E aí a gente falou também do livro, que fala sobre essa hospitalidade.

Daniela: Sim um livro que fala sobre comensalidade e hospitalidade que nasce dessa pesquisa na feira da Ceilândia e vai falar bastante de hospitalidade também e da comensalidade

Juliana: e esse livro está disponível onde para quem quiser comprar e ler?

Daniela: Amazon, ele é um livro da Editora CRV, CRV também faz a venda do livro e é isso, coloca na internet o que acha. Vai falar sobre a feira da Ceilândia, ele vai falar um pouquinho sobre as outras feiras aqui de Brasília, essas outras 10 feiras do inventário, mas o foco mesmo vai estar na feira da Ceilândia.

Leyberson: Eu vou trazer uma pergunta que não é a última porque eu já fiz a minha, mas lá no começo, a gente perguntou para você, o que você mais gosta da feira e você respondeu de quinta-feira vocês de estar na feira, né? Mas da parte de alimentação, então só pra gente fechar tem alguma coisa aí que te marca, coisa que você vai comer, alguma coisa que você quer deixar aqui com água na boca.

Daniela: para não causar muita polêmica, então eu recomendo meu chamariz da feira da Ceilândia é o mocotó. E aí todas as feiras têm o mocotó, então eu não vou ficar mal com ninguém. Todas As feiras têm o que eu recomendo eu experimentar porque também não são iguais cada feira faz um mocotó de uma maneira diferente todos com características da feira da Ceilândia, mas cada um do seu jeito é como se a gente fosse pensar num chefe de um restaurante que vai fazer um filé para ao cada um vai fazer o seu fileira com a sua personalidade com o seu toque na feira da Ceilândia. É a mesma coisa cada banca vai ter um mocotó com o seu toque, então você vai ter o seu preferido, mas eu não vou falar qual que é o meu, claro

Juliana: bem. A gente chegou ao fim do episódio. Eu quero agradecer muito a participação da Daniela e deixar o microfone aberto para as últimas palavras também

Daniela: bom quero agradecer vocês a oportunidade de falar novamente sobre a feira da Ceilândia que foi um momento muito gratificante, foi uma pesquisa muito boa de fazer e me deu saudade da feira.

Leyberson: Acho que eu vou voltar a fazer uma visita à feira muito em breve porque me fez lembrar de como é bom estar na feira da Ceilândia, a gente que agradece a sua participação também. Fica aí a dica do livro que ela deixou, né? O Burburinho da Feira e a gente encerrar então o episódio deixando avisando que o das humanas está em várias plataformas de podcast como Spotify ou podcast iTunes e outros e em 15 dias a gente volta com novo episódio e se vocês quiserem ver as sugestões ou até mesmo mandar dicas, qual o mocotó você mais gostou das feiras, manda por e-mail do voz@dazumana.com

Juliana: Este projeto é feito com o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Governo do Distrito Federal e realização da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal. É isso, até a próxima. Dazumana, a ciência sem jaleco.

00:00 - BLOCO 1: CEILÂNDIA
Surgimento da Ceilândia e da feira
Pessoas vieram para construir
Desigualdades da ocupação do território
Cultura nordestina
Barraca de som

12:48 - BLOCO 2: PESQUISA SE DESENVOLVENDO
Entrando na feira
Etnografia
Cuidado com o olhar
Ética e “pré-conceitos”

19:24 - BLOCO 3: VIVENCIANDO A FEIRA
Turismo cidadão
Espaço de comércio diferente
A rua vira casa
Comunicação

CRÉDITOS:
Enxerto 1 (comentário): Arquivo Público do Distrito Federal - 03 Minuto da Memória Candanga – Aniversário de Ceilândia ( https://youtu.be/UyDHyvruF-0?list=PLnspp1smP7SQ4yiaKXDD6uGpGJYuoOd8w )
Enxerto 2 (comentário): Record Brasília - Conheça a história de nordestinos que fazem parte da memória de Brasília ( https://youtu.be/pqT3lHlC3O4 )
Enxerto 3 (comentário): minhabsb - Ceilândia #MinhaBrasília além dos eixos ( https://youtu.be/KksQB46WlhU )
Enxerto 4 (comentário): RICtv Londrina - Feirante cantor reencontra a irmã depois de aparecer no BG ( https://youtu.be/o0bhjaepOG0?t=234 )

O Dazumana é um podcast informativo de divulgação científica. Comentamos fatos da vida para entender as teorias, sempre com finalidades educativas. Artigo 46 da Lei 9.610/1998.

Materiais extra:

Dissertação “Feiras como espaços de hospitalidade e identidade coletiva: Feira Permanente da Ceilândia/DF” de Daniela Leite
http://icts.unb.br/jspui/bitstream/10482/18658/1/2015_DanielaCarvalhoBezerraLeite.pdf

Livro “O burburinho da feira: uma história de comenslaidade ehopitalidade” de Daniela Leite
https://www.doispontos.com.br/o-burburinho-da-feira-9788544431115/p

 

Entrevistada: Daniela Leite
Pesquisa e locução: Leyberson Pedrosa e Juliana Mendes
Gestão e Produção executiva: Carolina Villalobos
Montagem: Gabriella Braz
Edição de som: Ricardo Ponte
Música tema: Ricardo Ponte
Tema do lattes: The Angels Weep de Audionautix
Design gráfico: Bárbara Monteiro
Ilustração: Juliana Mendes
Transcrição: Gabriella Braz
Janela de Libras: Brenda Kroslowsk
Redes sociais: Zizi Villalobos
Assessoria de Imprensa: Rafael Ferraz
Site: Marcelo Nogueira