Episódio 1

Temporada Álbum de recordação BSB

Arqueologia dos Tombamentos – EP1 | Dazumana #47

Quantos bens tombados do Distrito Federal você consegue citar? A doutora em Arquitetura e Urbanismo Daniela Barbosa traz para o episódio 12 patrimônios materiais do quadradinho, como a Igreja São Geraldo, o Centro de Ensino Metropolitana, a Igreja São José Operário, a Casa da Fazenda Gama, a Escola Industrial de Taguatinga e vários outros. Escute nossa conversa para entender as justificativas e o discurso para escolher quais imóveis preservar.

Sobre o episódio

Entenda mais sobre este conteúdo

Juliana: Olá, estamos começando mais uma temporada do Dazumana. E esses episódios fazem parte de um especial. O Álbum de recordação BSB: memórias e valores do DF. Sabemos que a história da construção de Brasília foi objeto de inúmeros filmes, reportagens e livros, é uma narrativa que mobiliza os habitantes do Distrito Federal e de todo o Brasil, mas, no senso, comum ainda frequente a ideia de que nada havia nesse território antes da chegada dos Engenheiros e dos Candangos que ergueram a cidade

Leyberson: Mas nada poderia estar mais longe da verdade. Cidades como Planaltina, Brazlândia e Luziânia cederam suas terras para essa empreitada, porém, já possuíam culturas e histórias próprias, até mesmo a proposta da Nova Capital percorreu um longo caminho até se concretizar. Ou seja, há histórias bem no plural que ainda podem ser reviradas por aqueles que são apaixonados por esse quadradinho

Juliana: E essa é a nossa inspiração na temporada Álbum de Recordação BSB. Vamos explorar o patrimônio material e imaterial percorrendo várias regiões administrativas do DF

Leyberson: Aí rapidinho para quem tá chegando agora nesse podcast, a gente se apresenta. Eu sou o Leyberson, brasiliense de pais mineiros e sigo ao lado da Juliana Mendes.

Juliana: Também Brasiliense de pai mineiro e de mãe goiana. E quem parte conosco nessa primeira viagem é a Daniela Pereira Barbosa. Oi Daniela, tudo bem?

Daniela: Olá, pessoal. Tudo ótimo.

Leyberson: Daniela, quer revelar aí as suas origens?

Daniela: Vamos lá: eu sou brasiliense também, e, igual a vocês eu, minhas origens são de Minas Gerais e de Goiás.

Leyberson: Estamos em casa então. Perfeito, bem-vinda novamente e agora começamos o ritual de leitura do Lattes da nossa convidada. Daniela é Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela UnB, na linha de pesquisa Teoria e História da Cidade e do Urbanismo, com o período sanduíche da Universidade Paris Diderot. A sua tese foi indicada pelo Programa de pós-graduação da faculdade de arquitetura e urbanismo da UnB ao prêmio Capes de Tese Edição 2022. A tese foi premiada no prêmio UnB de pós-graduação também na edição de 2022 e a tese finalista para o Premium Antaq 2022, ela também é mestre em design linha de pesquisa design e cultura e sociedade, especialista em docência virtual e presencial no ensino superior pela Universidade Católica de Brasília e bacharel em desenho Industrial com habilitação em programação visual e em projeto de produto pela UnB. Vamos lá que tem mais. Docente em design e comunicação visual, além de consultora pelo programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em interfaces de usuário. Realiza pesquisas na área de design digital, patrimônio cultural e sobre a relação entre design e cidade. A área de interesse inclui ainda cartografia e território, assim como a história das cidades e do Design, não vou nem perguntar se é isso mesmo, está faltando alguma coisa, tem algo acrescentar?

Daniela: Eu também sou membro do grupo de pesquisa capital e periferia da faculdade de arquitetura e urbanismo na Universidade de Brasília, né? Onde eu tenho a intenção aí de cursar um pós-doutorado, a gente vê que a pesquisa é sempre eterna. É isso aí.

Juliana: Falando em pesquisa, a minha primeira pergunta para você entender o que despertou esse interesse para olhar e estudar o nosso patrimônio

Daniela: Bom, eu sou designer, né? Como vocês viram no meu currículo. Eu não sou arquiteta, mas no mestrado em design eu comecei a analisar a relação ali do Design com a cidade, e nisso eu fui me apaixonando cada vez mais pelo estudo da cidade e daí um doutorado na arquitetura me pareceu um caminho lógico. Comecei a me interessar mais por isso, comecei a fazer aula como aluno especial e a partir daí eu ingressei realmente no doutorado na arquitetura com um projeto que não estava nada estruturado, não era nada parecido com o que foi finalmente, mas tinha lá uma questão do patrimônio material que eu pensei que seria uma pesquisa interessante de se realizar. Era algo que eu já vinha mapeando lá no durante o mestrado, mas não de forma assim muito claro, muito abrangente. E aí o interesse surgiu daí. E, como a pesquisa no Plano Piloto, a pesquisa sobre o Plano Piloto, na verdade, já é bem mais desenvolvida, já é bem mais estruturada. E a gente tinha que partir para algo inédito, né? Eu, com a minha orientadora Maria Fernanda, a gente foi delineando o projeto nesse sentido. Então o patrimônio relativo às denominadas Cidades Satélites, né? As outras regiões administrativas que não são um Plano Piloto. Me pareceu ali uma pesquisa que poderia ser interessante, né? E a gente ia desvendar ali esse processo. E realmente foi muito bacana, porque quando a gente começou a fazer isso não tinha ainda quase nada estruturado, nem o próprio site da secretaria de cultura do Distrito Federal, responsável por esses tombamentos, tinha uma informação muito precisa da história e da memória desses bens e daí foi quando a gente começou realmente falar: “não, a gente precisa estudar isso, a gente precisa analisar isso”. E foi daí que surgiu a pesquisa

Leyberson: Curiosidade, foi por volta de que ano? 2022 você defendeu, você começou a pesquisa mais ou menos ali 2018?

Daniela: Foi em 2017, quando eu comecei como aluno especial e no final de 2017, eu ingressei no doutorado, foi, foi isso mesmo

Leyberson: e você teve ali vários achados, são 12 bens que você mapeou, imagino. Queria que você explicasse um pouquinho assim. Listasse primeiro e falasse desses bens que foram além do Plano Piloto como patrimônio aqui de Brasília

Daniela: Todos esses bens, eles foram tombadas a nível local, né? O primeiro deles é o Catetinho, exceção, foi tombado primeiramente pelo Iphan em 1959, é uma casa de madeira, a primeira casa presidencial. Em seguida, em 1982, a gente teve os três bens tombados na cidade satélite de Planaltina que é ali uma cidade centenária que são o Museu Histórico E Artístico de Planaltina, a Igreja de São Sebastião e a Pedra Fundamental. Em seguida, em 1985, foi o hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira, que hoje em dia o Museu Vivo da Memória Candanga que havia uma estrutura de madeira assim como o Catetinho. Depois, em 1989, foi tombado o Relógio de Taguatinga, já uma estrutura permanente. Em seguida, em 1993, a Igreja São Geraldo no Paranoá. Depois o Centro de Ensino Metropolitana em 1995. Em 98 a Igreja São José Operário na Candangolândia. Em seguida, em 2006, a Casa da Fazenda Gama que é uma antiga Fazenda também Centenária. E por fim a caixa d’água da Ceilândia Tombada em 2013 e o Centro de Ensino Médio EIT, que era antiga escola industrial de Taguatinga em 2014. Desses bens, alguns, claro, eu já conhecia né? Como morando em Brasília, então já tinha ouvido falar da Caixa D’água da Ceilândia, já tinha visitado o Museu Histórico de Planaltina. Sabia que existia um Museu Vivo da Memória Candanga, mas eu não tinha noção de que eram um conjunto patrimonial relativo às cidades satélites de Brasília. Eu nunca tinha pensado assim por essa ótica. E também alguns eu não não sabia da existência, algumas igrejas de madeira, por exemplo, eu não conhecia, eu só vim descobrir realmente quando a gente decidiu partir para essa análise desses bens tombados

Leyberson: Rapidinho. De 2022, você defende, a última, o último bem tombado ali é o EIT, a escola antiga escola industrial de Taguatinga foi mapeada e foi Tombada em 2014. Depois disso você teve conhecimento de outro tombamento. Vamos dizer que essa sua lista tá mais atualizada

Daniela: não, a gente teve outro que eu não tenho certeza se ele já foi tombado ou se ele ainda tá no processo que seria o Complexo Saia Velha que é uma antiga Usina, antes mesmo de da construção de Brasília já existia essa Usina então. Eu vi que eles estavam ali no processo também de tombamento desse local. E também teve outro Casarão histórico em Planaltina que também teve a discussão para o tombamento dele.

Leyberson: Perfeito, já fica a nota mental aí para nossa editora de áudio buscar informações de atualização para colocar na matéria

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Enxerto: Atendendo ao chamado dos apresentadores, digamos assim, aqui é a Gabriella editora do podcast e eu vim trazer algumas atualizações. Sobre a usina do Ribeirão Saia Velha, ela realmente teve o processo de tombamento efetuado em 2022, mas pela Secretaria de Estado de Cultura do Goiás, já que ela fica em Cidade Ocidental, que é aqui no entorno do DF. Já o casarão histórico de Planaltina que foi falado aqui era conhecida como a casa de Dona negrinha que era um imóvel particular, mas que ficava sob a área de tutela do Museu Histórico e artístico de Planaltina e por falta de manutenção acabou que essa estrutura foi se degradando até que o proprietário do imóvel decidiu demolir. O que foi um causou uma revolta muito grande entre os amantes da história de Brasília e entre todos os moradores de Planaltina e do DF

Juliana: então, eu também vou fazer uma pergunta de atualização antes da gente entrar na metodologia. Porque na sua fala você disse que no site da secretaria de cultura, responsável pelo tombamento, não tinha muitas informações e a sua pesquisa é toda parte dessa fonte, né de processos de tombamento. E aí eu fiquei pensando se hoje em dia a gente encontra mais informação ou se ainda tem essa lacuna. E aí pensando hoje, eu tava olhando nas redes sociais, passei rápido nem li muito a notícia, mas parece que com a reforma do Buraco do Tatu que é o túnel que liga asa norte da asa sul, o governo do DF descobriu entre aspas que haviam Marco Zero da cidade lá, só que o Iphan já sabia disso há muito tempo. E aí eu fico pensando também nessa lacuna de informações que existem para a gente preservar o patrimônio

Daniela: Sim, eu pensei exatamente isso. Assim, Brasília numa cidade relativamente nova e tem coisas sendo descobertas que foram fotografadas. Que as pessoas sabiam que aquilo existia e aquilo de alguma forma se perdeu, então eu acho muito interessante até da gente pensar assim como a história de Brasília, ela pode ser sempre revisitada, como a gente pode ter sempre ali alguma coisa para aprimorar, para pesquisar e para descobrir mesmo sendo uma cidade tão recente. E eu acredito que esse tenha sido o meu caso também, no caso da minha pesquisa. Ainda hoje, se você entra no site da Secretaria de Cultura. Você não acha essa informação com facilidade. A gente encontra, por exemplo, “aniversário de tombamento da caixa d’água da Ceilândia” alguma matéria e aí eles explicando né? “Ah foi a população que solicitou tombamento a caixa d’água foi tombada, por esse motivo foi tombada em tal data”

enxerto: apesar de ser uma propriedade particular da Caesb que a população tem acesso restrito, ela simboliza para a população a luta, a busca por uma terra prometida porque a maioria da população de Ceilândia é de origem nordestina e essa população veio nos anos 50 para construir Brasília porque coincidiu a construção de Brasília com um período de seca no Nordeste.

Daniela: Mas assim, uma listagem desses bens, a gente não encontra. Eu falo que dei muita sorte que eu estava no lugar certo e na hora certa no doutorado, porque por um acaso eu tinha uma colega que trabalhava na Secretaria da Cultura e ele me convidou para ir até lá. E ele falou “Olha a gente tem ali o material todo sobre esse tombamento”. E aí eu fui lá e eu me senti um pouco uma arqueóloga, digamos assim, né? Não sei se a comparação mais correta, mas porque eu descobri que tinha lá todo esse material com as justificativas do tombamento, então o material de pesquisa mesmo sabe de pesquisa e coleta de dados. Então digamos assim, eles decidem fazer o tombamento falar uma bem que já existe tá, do Catetinho. E aí eles falam tá o que é o Catetinho aí vão atrás de planta do Catetinho vão atrás de entrevistas de pessoas que ajudaram a construir o Catetinho. E isso se torna uma documentação muito rica. Que eles colocam numa pasta e deixam lá na própria Secretaria da Cultura, e isso leva ao modo da minha pesquisa. Eu tive que realmente ir lá presencialmente manipular essa informação, descobrir esse material, um era totalmente diferente do outro porque imagina, um é de 1959 e o outro de 2014. Então em uma era máquina de escrever era outro tipo de comunicação e o outro a gente tem ali informação sobre a escola que achou na internet, né? Então tudo isso foi anexado ao dossiê, à documentação. Então um dos trabalhos do doutorado foi justamente desvendar esse material. Por isso que eu falo que é um pouco arqueólogo assim, porque a gente tem que mesmo ficar olhando né, ficar vendo o que é ficar tentando interpretar, tentar se colocar no lugar da pessoa que fez aquilo na época. Então teve esse trabalho também de documentação que foi bem bacana.

Leyberson: E como foi essa sensação de arqueóloga? Só para entender melhor? Por exemplo, pegar o Marco Zero que a Ju citou. Ele tá ali, é uma referência abstrata, né geográfica de marcação de localização que tinha uma notação muito pequenininha, um MZ que alguém colocou um dia. Agora com a abertura do Buraco do Tatu fizeram os desenhos fazendo assim o desenho de Lúcio Costa para dizer que é ali que teve. Então assim foi uma espécie de materialização de algo simbólico. Você com os dossiês em mãos como é que você se sentiu de fato, você se sentiu um pouco também Pioneira de Brasília desbravando esse universo? Que assim pelo menos eu não conhecia esses 12 como tombados, alguns, sim, por exemplo, algumas Eu fiquei impressionado como o EIT, por exemplo, foi uma grande surpresa para mim.

Daniela: Eu imagino. Sim, a gente sente que a gente pode buscar referências além do que tá na internet e eu achei isso muito interessante, né, que a gente. Referências que são inéditas e quem parece que ainda não foram exploradas, mas que tava lá estão lá disponíveis para consulta, estão lá disponíveis para análise e que a gente pode ir lá pegar e explorar e interpretar aquilo e nisso A gente ajuda, né na construção do conhecimento sobre Brasília e até np resgate da história. Da cidade, e extrapolando ali os limites do Plano Piloto, que era, justamente, o nosso anseio mesmo, nosso objetivo, né?

Juliana: Já que você falou disso de extrapolar o Plano Piloto teve um autor que você citou que eu achei muito interessante que ele traz três discursos que justificam o tombamento eu vou até ler aqui para não errar: um é uma suposta pré-existência da capital como anseio histórico da Nação, o dois é o período da construção da cidade como uma aventura heroica e o três a cidade como expressão máxima do modernismo. Será que quando a gente vai para fora do plano piloto esses discursos se alteram um pouco porque tem outros motivos pelos quais esses patrimônios são importantes?

Daniela: Vamos lá foi o Tiago Perpétua, né? Que fala isso no trabalho dele, é incrível ele também. Bom é uma das conclusões que cheguei na minha tese é que, apesar da gente estar lidando com um patrimônio que está fora do Plano Piloto, o discurso de tombamento, né as justificativas para o tombamento desses bens não se constituiu como uma história paralela à oficial, a uma história alternativa à oficial. A gente vê sempre essa tentativa de inserir esses bens, de inserir essa história, digamos a história dos candangos, a história dos Pioneiros desbravadores ou a história centenária ali do Distrito Federal antes de ser Brasília. A gente vê sempre essa tentativa de inserir isso na história monumental de Brasília da forma que a gente coloca “Ah, vamos tombar aqui uma igreja de madeira relativa aos Operários”, por quê? Porque os operários foram importantes para a construção da monumentalidade, então é sempre tentando colocar aquela história operária ou aquela história de Goiás dentro ali da monumentalidade do Plano Piloto de Brasília. Essa é uma conclusão que eu cheguei: não dá para separar eles, não dá para simplesmente dizer que eu vou trabalhar, não vou trabalhar com Plano Piloto, porque tudo aquilo está relacionado. Apesar de que a gente tem algumas justificativas e alguns anseios locais. Então, é Eles tão pleiteando, por exemplo, mais investimento no museu ou uma valorização maior daquelas cidades satélite, tão querendo alguns outros motivos ali reforma, por exemplo, numa escola. Então eles querem que o tombamento seja efetivo para que aquele bem da comunidade seja preservado, mas há justificativa assim, é sempre apelando né para essa monumentalidade. Falando “olha nós existimos Brasília só existe por nossa causa então tem que valorizar também o que tá aqui”, isso foi muito interessante, no início da pesquisa não esperava por isso eu achava que ia ser uma história paralela que ia ser assim o lado b, o lado que ninguém contou, mas não, a gente vê que está relacionado, né que os próprios discursos eles foram construídos em torno também da monumentalidade. Não se resume a isso, mas tem isso muito forte como justificativa para esses fundamentos.

Leyberson: Eu vou pular muito, mas é no começo da nossa apresentação. A gente falou que a ideia do Nada em Brasília, faz com que a gente também não tenha noção dessas ocupações que teve por trás de Brasília, que constrói a sua própria história, o seu próprio patrimônio. E quando você lê a história do Catetinho que é um clássico, né? Que a gente tem aqui. Você até cita muito com o dossiê. Deixa claro que tem esse espaço você cita né? A ideia de um vazio civilizatório, né? Como se aqui nada existisse, aqui nada, tivesse e Brasília chegou e Fez-se a luz, né, em Brasília. Então eu queria que você Contasse um pouquinho dessa narrativa, né dessa lógica para construir Brasília considerando o planalto central como esse ermo de não ter nada e se esse argumento ele ainda funciona, e como que a gente tem que tratar esse argumento do vazio civilizatório, desbravamento ou descoberta, né?

Daniela: Essa questão do vaso de civilizatório e populacional demográfico é um, digamos, é uma contradição entre os discursos dos dossiês. Porque o Catetinho ele foca muito nesse ponto, até porque era a imagem que o próprio Juscelino Kubitschek, ele queria passar de que eles estavam desbravando um território inóspito, território que estava cheio de cobra, cheio de nada, né? Não tinha nada aqui, não tinha ninguém morando aqui então esse lugar ele precisava ser ocupado e Brasília viria justamente para estar nesse vazio populacional, mas, ao mesmo tempo, quando a gente pensa no tombamento dos bens de Planaltina o que eles estão falando é: Olha só, a gente já existia aqui e a gente auxiliou nas campanhas anteriores pras comissões que vinham aqui em busca da mudança da capital, e nós já tínhamos aqui a nossa própria cultura, nós já tínhamos o nosso próprio povo, nós tínhamos as nossas festividades a nossa culinária. Então, eles falam isso que aqui não tinha, um vazio. Aqui tinha, sim, pessoas e que essas pessoas teriam sido essenciais ali para a fundação de Brasília. Então eu acho muito interessante essa questão do Marco inaugural. Em vários dossiês isso aparece de formas diferentes, então no Catetinho ele aparece como um Marco inaugural de Brasília porque aqui foi o primeiro a primeira construção de Brasília e de fato, né? Quando decidiram que aqui seria a Nova Capital, o Catetinho foi a primeira construção erguida para este fim, mas a pedra fundamental, por exemplo, ela foi lançada em 1922 como uma promessa da futura capital do país. E no dossiê de tombamento da pedra fundamental de novo aparece esse discurso do Marco inaugural de Brasília, que eles falam “aqui sobre esta pedra de certa forma se construiu uma cidade lançou-se uma cidade”, então eu acho interessante isso também. e na casa da fazenda Gama, que foi também me surpreendeu esse o Catetinho Já esperava e a pedra fundamental também, mas a casa da fazenda Gama não. E eles falam né que a visita do Presidente Juscelino Kubitschek a casa da fazenda Gama que na época em 1956 era uma fazenda assim, uma fazenda normal que moravam pessoas que tinha lá os animais e tudo mais e ele veio. Hospedou para conhecer um pouco mais do sítio. E aí eles falam que a visita da Juscelino marcou a transferência da capital. Então a gente vê né, como por várias justificativas diferentes, eles falam como tudo começou a partir daquele local ou daquele evento, daquele monumento. Isso é muito interessante. Eu não vejo isso como uma briga de discursos, né? Claro que cada um ele quer puxar um pouco a sardinha para o seu lado, mas eu vejo mais como cada um que é assim inserir ali na história de Brasília da sua própria forma, seu próprio o jeito. E aí o discurso do vazio realmente aí é uma contradição mesmo, porque ele compete com a ideia de que sim, que havia uma civilização aqui havia uma ocupação, né? E aí TEM o outro discurso mais oficial assim sobre Brasília, ala que aqui não tinha nada e tudo foi construído assim a partir do zero.

Enxerto: Caminhões vão levando ou trazendo material de construção. A Mística de Brasília contamina o país de onde caravanas de candangos marcham para o planalto central, não havia nada, absolutamente nada neste imenso território

Juliana: Além desses discursos quando eu tava lendo seu trabalho. Me interessou muitos desejos e o porquê das pessoas quererem alguns tipos de tombamento. E aí três me chamaram a atenção porque me dá uma sensação assim de resistência, de luta Operária, que é o hospital Juscelino Kubitschek, a caixa d’água de Ceilândia e o relógio de Taguatinga. E eu queria pedir para você falar um pouquinho desses três e como eles se relacionam com essa luta.

Daniela: Bom, vamos lá, o hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira, ele foi tombado em 1985 em um momento muito particular do Brasil. Se a gente for pensar Estava acabando ali o período militar, então a gente estava entrando na retomada do Poder ao serviço. E aí os políticos da época. Estavam ali mais abertos para os anseios da população. Então, ele tem ali essa particularidade, né, que os anteriores ali que o Museu Histórico de Planaltina, por exemplo, não tinha, e de fato não foi um processo pacificado porque o hospital ele funcionou durante a construção de Brasília como um hospital de campanha, ele era de madeira, mas ali tinha médicos, tinha enfermeiro e o pessoal inclusive morava lá, depois ele foi desativado e ele foi abandonado. E aqui em Brasília, a gente tem uma história disso, um histórico, um local abandonado, mas com uma relativa estrutura ele acaba virando o quê? Moradia. Foi justamente o que aconteceu com esse hospital abandonado, as pessoas começaram a ocupar o local, só que o local ele tinha um proprietário que era o Iapas, e o Iapas decidiu que ia demolir o hospital. Nisso a população falou assim não “nós não aceitamos isso” e apelaram para o símbolo de Brasília, esse Hospital é símbolo de Brasília. Foi o primeiro Hospital da nova capital, é um símbolo operário, é um símbolo da memória candanga. E, de fato, até então, apesar do Catetinho ser de madeira e o hospital também. Então a gente tem ali os dois meios de madeira e o Catetinho já foi tombado, já tinha sido tombado, o Catetinho ele é mais representativo assim de uma memória oficial mesmo, né? Porque foi pedido do próprio Juscelino, enquanto o hospital foi uma reivindicação operária das pessoas que moraram lá e muitos deles eram antigos operários ou seus descendentes. E aí eles pediram, todos solicitaram um tombamento enquanto ainda estava rolando a tentativa de demolição, as ameaças de demolição. O Iphan com o órgão local que na época se chamava Depha, que é o Departamento De Patrimônio Histórico e Artístico do Distrito Federal, que hoje em dia mudou várias vezes, mas é ali na Secretaria de Cultura do DF, eles compraram a ideia do tombamento. Falaram “Não, realmente né? É um hospital que merece uma atenção, a gente pode promover ali o tombamento desse local”. E levaram adiante o processo, porém no dossiê de tombamento do hospital fica muito claro, pela ação popular que solicitou o tombamento, que as pessoas queriam que aquilo voltasse a ser um posto de saúde, que as pessoas queriam ali uma infraestrutura de saúde, né para uso da comunidade. E também no fica muito claro que o próprio Depha, que era o departamento de patrimônio do Distrito Federal, vislumbrou ali uma um ponto turístico naquele local. Falou “não aqui a gente quer trabalhar com a memória Operária de Brasília, mas para esse lado turístico”, então a população saiu vitoriosa nessa questão do tombamento, porém eles queriam que se transformasse novamente no hospital, num posto de saúde, enfim para atender ali as suas necessidades e não foi o que aconteceu. Hoje gente tem um museu vivo na memória candanga que é um equipamento público de extrema importância. Para o Distrito Federal. Só que a gente percebe que é uma memória candanga muito aderente a ideia do que o Juscelino Kubitschek considerava como Candango, então é ainda uma memória idealizada, né do Construtor de Brasília e apagam um pouco ali essa luta essa tentativa de tombamento e de transformação noposto de saúde, não foi o que aconteceu. Já com relação aos bens de Taguatinga e de Ceilândia, a gente vê muito claro nos dossiês de tombamento a memória dessa luta operária, mas o processo de tombamento em si, digo desde a requisição até o aceite da Secretaria de Cultura até o tombamento não teve ali uma um conflito foi um processo mais pacificado mesmo de “Ah nós queremos, nós reivindicamos, nossa população acredita que aquele bem é importante” e enviaram ali o protocolo a documentação e o processo foi levado adiante. Já o do hospital, ele teve realmente muitos entraves. Teve Gente do próprio da própria Secretaria de Cultura da Depha que era contra tombamento, porque dizia que era era um barraco que existam em vários barracos de madeira em Brasília, que Brasília é um dia já foi um canteiro de obras, então não dava para tombar tudo quanto era a barraca de madeira e outras pessoas falaram “Não, mas isso é representativo da memória e da história sim”. Agora um ponto comum nos processos do hospital e dos bens de Taguatinga e de Ceilândia é esse Anseio pela valorização dessa memória operária de Brasília. Na caixa d’água da Ceilândia eles falam né? A gente precisa valorizar os operários de Brasília, os trabalhadores que hoje em dia moram em Ceilândia que ajudaram a erguer Brasília e depois foram simplesmente abandonados à própria sorte. Então, eles falam isso que é muito relevante assim para justificar o tombamento. Então eles ajudaram e depois eles foram jogados ali em Ceilândia, né? Teve um processo de remoção. Taguatinga a mesma coisa, foram ali as pessoas que deram tudo, que estavam lá no canteiro de obra para construir Brasília e depois ficaram em Taguatinga. “Então nós construímos ao mesmo tempo, Brasília e Taguatinga”, é o que eles falam no processo de tombamento, na justificativa. Então na documentação a gente tem isso muito claro, essa questão das lutas, de uma luta que valeu a pena das dificuldades dos Desafios, mas na questão do processo mesmo para o tombamento, o do hospital foi o que teve um entrave assim que foi bastante significativo

Leyberson: Pensando nesses entraves, pensando nos operários que fizeram parte desses espaços de tombamento, que subiram essas paredes de madeira ou de concreto dependendo do bem tombado. E aí eu lembro do meu pai, que o meu pai veio em 67 para cá, ele é um operário, né que veio para cá. E é muito difícil estabelecer em que lugar ele esteve em Brasília durante esse período inicial, seja Gama, Brasília, cidade livre, região metropolitana. Enfim é isso. Tinha barraco para qualquer lugar, levantava, descia e ia construir outro lugar, foi parar em Taguatinga. E a minha pergunta sobre isso é na hora de tombar, na hora de encontrar um bem cultural, na hora de saber quais madeiras mantém em pé e quais derrubam se o Lobby econômico ele faz frente, né? Porque eu percebo, por exemplo, a casa fazenda do gama, né que você traz assim existe um interesse turístico e o interesse comercial ali do Country Club Brasília, se não me engano. O EIT também, por que o EIT foi escolhido e não, por exemplo, eu vou dar um exemplo bem bairrista, as Vilas que foram as primeiras ocupações de Taguatinga, Vila Dimas, Vila Matias, as suas praças e as suas ocupações? Por que exatamente o EIT, né? É essa escolha? Você acha que isso tem a ver com uma questão econômica porque quem estudou ali teve mais condições de defender, como é que o tombamento se estabelece em relação à desigualdade, né?

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Isso para mim ficou bem claro, na verdade, no caso do tombamento do Centro de Ensino Metropolitana, que hoje em dia é uma escola lá no Núcleo Bandeirante, e na área de tutela da do Centro de Ensino Metropolitana tem a Igreja Nossa Senhora da Metropolitana, que é em madeira. Só rapidamente assim o um bem quando ele é tombado, ele tem a área de tutela que é uma área assim ao redor que é definida ali pelos técnicos do tombamento e que vai dizer que aquilo ali, apesar de não ter o bem tombado, aquilo ali também vai ser protegido. Então a gente tem o centro gente no Metropolitano que é uma escola e a igreja que não é tombada, mas tá na área de tutela. E aí eu fiquei me perguntando assim, por que a igreja não foi tombada e o Centro de Ensino, foi? E aí no processo de tombamento, nas justificativas e no dossiê tá muito claro que eles queriam muito que essa escola fosse reformada, que ela fosse guardada. Então para a comunidade, talvez fizesse muito mais sentido eles terem garantido uma escola para as crianças estudarem do que

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Fazer o tombamento de uma igreja que a manutenção vai ser assim, não vai exigir tanto a manutenção diária, né? Porque as crianças estão lá diariamente na escola. Então eu achei que fez sentido nessa parte de valorização do que é que a comunidade realmente precisa hoje e não só da memória da construção de Brasília, né? Porque eles queriam que essa escola fosse realmente mantida. No caso da casa da fazenda Gama, a gente percebe que para o Brasília Country Club é também um status você tem um bem tombado ali no clube que iria atrair visitantes, né? Porque eles fizeram ali uma série de reformas. Não é exatamente a reforma. Mas eles equiparam o local com o objeto da época para que as pessoas visitassem aquele Museu e entendessem melhor porque aquilo ali é importante. E aí aquilo vai atrair mais pessoas e tudo mais.

Enxerto: Juscelino Kubitschek encontrou a fazenda com sua vegetação densa, suas águas límpidas e sua sede, uma casinha simples, mas encantadora. A primeira visita do Presidente Juscelino Kubitschek à região da Nova Capital foi em 2 de outubro de 1956. A comitiva presidencial desceu Numa estação de passageiros improvisada, lá foram mostrados ao presidente os primeiros planos de construção da Nova Capital, depois, a Comitiva presidencial seguiu para a fazenda Gama, onde seria construída a residência provisória do presidente

Daniela: E lá em Taguatinga, a antiga escola industrial no processo de tombamento, eles falavam muito da ameaça de demolição. Então eles vão citando todos os bens de Taguatinga que, pra comunidade, para as pessoas que estão lá pleiteando o tombamento, que estão pedindo tombamento, seria considerado importante, e foram simplesmente demolidas. Eles falam da caixa d’água de Taguatinga, que existiu e foi demolida. Eles falam de uma praça que também teria sido demolida, falam de outros bens.

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Tudo para se tornar um banco, para se tornar uma agência dos correios. E aí eles até fazem essa comparação. Ah, enquanto no Plano Piloto a gente tem ali espaços verdes e espaços de convivência, em Taguatinga, a gente tá simplesmente demolindo tudo, todos os espaços de convivência, para dar lugar a correia e usar outros equipamentos, que para a comunidade, claro que vão ser importantes, claro que as pessoas vão usar, mas que assim não queremos perder nossos espaços de convivência. Então para isso o tombamento do relógio de Taguatinga, eles falavam da importância de se manter ali aquela praça. E a escola a mesma coisa, havia ali um receio de que essa escola fosse demolida e que construíssem outra em local mais afastado e bem desvalorizado. Então eles queriam realmente garantir que aquela escola continuasse ali onde ela tá. E realmente né? A gente tem essa questão ali do poder e da especulação imobiliária e o tombamento, a princípio, de certa forma, ele é uma… ele é algo contra isso, né? Ele é um aliado, ele pode ser um aliado contra a especulação imobiliária e a favor ali do que as pessoas gostariam que ficasse na cidade. Claro que nem sempre é assim, mas ele pode ser visto também dessa forma.

Juliana: Eu quero retomar o que você falou um pouquinho atrás de uma visão idealizada do Juscelino Kubitschek para os candangos. Para quem tá escutando o podcast, e não é de Brasília. Eu ia pedir para você explicar o que é o candango e quais são essas várias visões possíveis dos candangos.

Daniela: Vamos lá então o candango, ele é o trabalhador de Brasília que veio para cá no início da cidade, então foram as pessoas que construíram Brasília, os operários, né? Mas ele contempla assim, apesar do período da construção de Brasília ter sido relativamente curto, né? Brasília foi construída ali, sei lá quatro anos. Não vamos exagerar, foi inaugurada em quatro anos, mas com muita coisa ainda em construção, então a ideia do Candango, ele acabou ganhando uma

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Importância simbólica. Justamente porque o próprio Juscelino Kubitschek, ele passou a valorizar esse trabalhador para dizer assim “olha o Brasil está a favor de Brasília, os trabalhadores são sonhadores que vieram aqui que são meus parceiros nessa empreitada.” A gente tem que pensar que o Juscelino ele tava ali lidando como oposição muito forte que dizia que ele era maluco, que dizia que ele era faraônico e que construir Brasília, assim uma coisa grandiosa desse jeito, ia quebrar o país e tudo mais. Então ele tinha que convencer a população de que ia dar certo, de que ele ia construir e que era necessário, né? Então ele usou de todos os artifícios que ele podia para justificar a Brasília e o candango veio como um dos discursos de valorização. A gente teve outros o próprio sonho do Dom Bosco que ele falou, né? Retomou ali, “olha o Dom Bosco, um padre italiano, 1400 e não sei quanto não lembro mais direito, mas bem antigo sonhou que aqui ia ser uma nova civilização”.

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Bom, então, ele retomou isso também para falar: “Olha, eu não tô sozinho nessa Brasília está predestinada a acontecer”. Né? E o candango foi uma delas. E aí o candango, ele passou a se referir não apenas por trabalhador, mas para os Engenheiros, para o Lúcio Costa, daí a pouco todo mundo era Candango. O próprio Juscelino. Inclusive no discurso de inauguração de Brasília, ele fala “a vos candangos, que eu me orgulho também de ser” ele fala alguma coisa nesse sentido. Então ele se coloca como Candango para dizer que ele também faz parte ali daqueles operários. E aí a gente tem essa imagem muito valorizada, muito idealizada do Candango, do construtor de Brasília. Se a gente for procurar as fotografias oficiais dos candangos, a gente vai perceber que foram sempre assim homens, másculos, fortes porque eles queriam passar a ideia de que eram pessoas fortes, de que eram pessoas sadias e estavam sempre numa posição um pouco heroica ou então de desbravamento, mas a gente tem fotografias, não oficiais. Que mostram essas pessoas em barracos, mostram crianças, mostram mulheres também, né? Então, é o outro lado da história ali, que não é exatamente a história oficial, mas que se firmou como sendo uma das imagens de Brasília: a do Candango, que é o trabalhador da cidade que teria vindo ali no início para construir Brasília movido por um sonho. Essa é a imagem oficial ali desse personagem e é assim é um dos pilares da construção de Brasília, né? E aí ele tá presente em vários dos processos de tombamento como uma justificativa para o tombamento daquele bem, principalmente os bens em madeira que fazem uma relação muito direta com a imagem do Candango e também os bens tombados em Taguatinga e em Ceilândia, que teriam sido ali consequência dessa chegada, dessa massa de trabalhadores que teriam ido depois para essas duas cidades satélite

Leyberson: bom, bem na retinha final, eu queria saber de você, Daniela, se é possível assim, se você fosse pensar hoje, que você gostaria que tombasse em Brasília? Pela sua pesquisa, pelo seu olhar. Pode ser um bem material como também pode ser um valor simbólico que você veio vendo aí sei lá alguma coisa que por medo da perda, por necessidade de sustentação, pela desigualdade social. O que você gostaria de manter em Brasília?

Daniela: Olha a pergunta capciosa. Eu ultimamente eu tô muito sensível com questões ambientais. Então eu acho que talvez a Floresta Nacional de Brasília, outros parques em Planaltina, todas essas reservas naturais, eu nem sei, olha só isso aí. Nem sei se é possível tombar uma reserva natural, eu acredito que sim, mas ela tem outras vezes legislações específicas para esse tipo de preservação. Mas eu acredito que esse tipo de bem, esse bem ambiental, é super importante, ainda mais com desmatamento e o cerrado perdendo cada vez mais ali espaço, eu acredito que isso eu preservaria em Brasília com certeza. Isso me lembrou até uma questão assim bem rapidamente que não sei se todo mundo percebe isso quem é de Brasília, mas aqui a gente não tem, no Plano Piloto, pelo menos não tem uma vegetação exatamente do Cerrado, né? Porque justamente na época da construção achava-se assim “nossa é muito feio isso essas árvores tortinhas aí baixinhas, vamos tirar vamos botar a vegetação da Mata Atlântica que era muito melhor”. Então até isso a gente perdeu, a gente tem, claro, que resta muita coisa, mas muitas árvores que a gente tem aqui, elas vieram do da Mata Atlântica. Então a gente tem ali uma capital no meio do Cerrado que tem aí algumas árvores bem exóticas, né? Que não são daqui. A gente, claro, que acha muita coisa daqui também, mas é o cerrado foi muito devastado. Eu não sei hoje em dia se a gente fosse simplesmente construir uma coisa aos modos que foi Brasília desmatando tanto, se o processo ambiental assim não seriam bem mais complicado, né de se fazer e até uma discussão com certeza, bem mais acalorada sobre isso. Acho que isso fugir um pouco do tópico porque tava falando de patrimônio material e imaterial. Enfim, mas eu acredito que essa questão ambiental é bem importante mesmo e a gente tem que pensar mais nisso

Leyberson: e é bom que as árvores do Cerrado continuem no cerrado, né?

Daniela: Com certeza

Leyberson: faz sentido

Juliana: e é interessante também que a gente tá ampliando a visão do que é patrimônio, do que vale preservar. Bem, a gente tá chegando ao fim do programa, tá praticamente esgotando o tempo, mas eu queria agradecer a participação da Daniela. Vou deixar o microfone aberto para palavras finais, mas queria fazer uma última pergunta. Desses 12 bens que você pesquisou, todos eles estão abertos para visitação, a gente pode ver, como é que funciona?

Daniela: Sim. Todos eles exceto a caixa d’água da Ceilândia, porque ela tá num local cercado, mas a gente consegue ver de fora. Eu acredito que. Eu fui lá, né? Eu fui lá como pesquisadora e dei uma olhada. Eu fui em todas, na verdade, é e me surpreenderam muitos viu? Tem uns que pela foto a gente acha que é pequenininho você chega lá ele sol enorme, mas todos são abertos para visitação. A Caixa D’Água, eu acredito que tem um processo um pouco diferente, que é um equipamento público de infraestrutura, mas os outros, sim, você pode ir lá visitar e é uma visita bem bacana, eu super recomendo

Leyberson: Então vou deixar para você fazer uma despedida, dar um recado geral para todo mundo além da preservação obviamente do meio ambiente aí sobre esse olhar sobre até as pesquisas relacionadas ao tombamento. Se também você está pensando em algum desdobramento de pesquisa nessa área também, alguma coisa que você não conseguiu pesquisar, e deixar as palavras finais para você.

Daniela: Obrigada pessoal, eu gostaria muito de agradecer a oportunidade. Acho que é uma conversa muito enriquecedora. E o tema do patrimônio, eu acredito que seja bem mais abrangente do que tá na minha pesquisa, né? Com certeza assim esse patrimônio fora do Plano Piloto. Para quem se interessar por isso, acredito que o patrimônio imaterial ainda é algo que pode ser muito bem explorado, que é algo que eu não explorei. É algo que eu gostaria de fazer, mas aí eu foquei realmente no material, mas a gente tem também o patrimônio imaterial tombado, tanto no plano piloto, quanto fora do plano piloto. E acredito que seja uma pesquisa que seria de peso também sabe de entender ali como que se estruturaram esses processos e tudo mais, mas gostaria de agradecer e lembrar que eu faço parte do tamanho do Grupo de Pesquisa Capital e Periferia lá na Arquitetura da Universidade de Brasília e existem várias pesquisas que estão ali também explorando além do Plano Piloto de Brasília, pesquisa sobre grafite, sobre Goiás, sobre enfim os Inconfidentes sobre várias coisas. Então é bem interessante e quem tiver interesse é dar uma pesquisada ali no nosso grupo de pesquisa que é bem bacana

Leyberson: Daniela, muito obrigado novamente. Deixo aqui para quem quiser procurar aí o artigo que ela escreveu “O patrimônio de Brasília para além do Plano Piloto, documentação e valores de preservação”, a gente vai deixar o link. Tem muitas fotos legais, inclusive dos próprios dossiês que ela enfileirou para fazer análise. E a gente encerra então o episódio avisando que o Dazumana tá no YouTube e em várias plataformas de Podcast: Spotify, Google Podcasts, iTunes por aí vai. Em 15 dias a gente volta com um novo episódio e se vocês quiserem mandar sugestões, críticas, qualquer coisa o nosso e-mail é voz@daz humana.com.

Juliana: este projeto é feito com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, governo do Distrito Federal e realização da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal. É isso, até a próxima Dazumana, a ciência sem jaleco.

 

00:00 - BLOCO 1: BENS TOMBADOS

O início da pesquisa

Informações disponíveis dos tombamentos

Marco Zero do Buraco do Tatu

 

14:06 - BLOCO 2: VALORES ASSOCIADOS À CAPITAL

Discursos do tombamento

Para fora do Plano Piloto

Desconstrução do vazio civilizatório

 

27:30 - BLOCO 3: O PORQUÊ DOS TOMBAMENTOS

Área de tutela

Razões para preservar

Idealização dos candangos

Bem ambiental

Enxerto 1 (comentário): Rurouni André - CEILÂNDIA - Caixa D'Água é Tombada como Patrimônio Histórico ( https://youtu.be/X8DDVnlwV1I )

Enxerto 2 (comentário): @jenisswalker4725 - História do Brasil: os Candangos, operários pioneiros de Brasília ( https://www.youtube.com/shorts/FNfoukhxeiU )

Enxerto 3 (comentário): BSB COUNTRYCLUB - Museu Sede Fazenda Gama - Primeira Visita Presidente JK (02/10/1956) ( https://youtu.be/m_zYZPX-7dg )

 

O Dazumana é um podcast informativo de divulgação científica. Comentamos fatos da vida para entender as teorias, sempre com finalidades educativas. Artigo 46 da Lei 9.610/1998.

 

Dissertação “Uma cidade construída em seu processo de patrimonialização: modos de narrar, ler e preservar Brasília” de Thiago Perpétuo

http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20Thiago%20Perp%c3%a9tuo.pdf

Materiais extra:

 

Tese “O patrimônio de Brasília além do Plano Piloto: uma análise de dossiês de tombamento, 1959-2014” de Daniela Barbosa

http://icts.unb.br/jspui/bitstream/10482/42001/1/2021_DanielaPereiraBarbosa.pdf

 

Entrevistada: Daniela Barbosa

Pesquisa e locução: Leyberson Pedrosa e Juliana Mendes

Gestão e Produção executiva: Carolina Villalobos

Montagem: Gabriella Braz

Edição de som: Ricardo Ponte

Música tema: Ricardo Ponte

Tema do lattes: The Angels Weep de Audionautix

Design gráfico: Bárbara Monteiro

Ilustração: Juliana Mendes

Transcrição: Gabriella Braz

Janela de Libras: Brenda Kroslowsk

Redes sociais: Zizi Villalobos

Assessoria de Imprensa: Rafael Ferraz

Site: Marcelo Nogueira