Juliana: Olá, este é um novo episódio do Dazumana, da temporada Álbum de recordações BSB. Quando falamos de Arquitetura em Brasília, o primeiro nome que vem à mente é do Oscar Niemeyer, porém existem outros profissionais de destaque e que contribuíram para o modernismo do nosso patrimônio
Leyberson: E esse episódio vai ser cheio de nomes, esse é o caso do João Filgueiras, o Lelé. O reconhecimento nacional e internacional dele pode até não ser tão grande assim, mas o seu talento é imenso. No episódio de hoje, vamos falar de uma de suas obras que fica lá no Park Way, é a Casa dos Arcos, que projetou para o amigo Nivaldo Borges. Além de fazer sessões particulares de exibição de filmes, a casa recebeu o Festival de Cinema de Brasília e também a festa Réveillon das Cores.
Juliana: Para falar sobre esse casarão e o Lelé, recebemos a Sarah da Silva Almeida neste episódio. Olá Sarah, tudo bem?
Sarah: Olá, tudo bem. Obrigado por me receberem aqui.
Leyberson: Bom, Sarah, a gente que agradece. E a gente começa com o nosso ritual de leitura do Lattes. a Sarah é arquiteta e urbanista formada pela Universidade de Brasília, ela possui intercâmbio na área de design de interiores pelo Politécnico de Milano, atua no setor privado trabalhando com marketing voltado para arquitetura e urbanismo. Ela também concluiu o mestrado na Universidade de Brasília na área de Teoria e História sobre relação entre arquitetura nas obras do diretor Miyazaki. Tem interesse nas áreas de arquitetura patrimonial, museologia, cenografia, expografia, história da Arte, Design Têxtil, artes visuais, história, design, cinema e cultura oriental. É isso mesmo, Sara, faltou alguma coisa? Pode colocar a vontade aí o restante da lista.
Sarah: O principal está aí mesmo, pelo menos do meu lado acadêmico. Hoje, já tô também na casa Thomas Jefferson, eu sou maker designer, acho que juntei um pouco desses interesses todos que você leu e consegui unir o trabalho. E tô muito feliz aqui de recordar esse meu passado e acadêmica, né? Faz tempo que eu não pesquiso tanto, mas foi um trabalho muito enriquecedor que construí na UnB, que veio lá do meu TCC, aí foi parte do artigo que saiu do mestrado dessa relação de juntar um pouquinho arquitetura e cinema.
Juliana: a gente fica muito feliz de você compartilhar esses conhecimentos com a gente, e a primeira pergunta que eu faço é entender porque você decidiu estudar o nosso patrimônio?
Sarah: Boa pergunta, acho que eu sempre fui apaixonada pela cidade, pela história de Brasília, meus avós foram dos primeiros a vir para cá, professores da UnB, meus pais estudaram na UnB. Então sempre tive um contato muito próximo com a vivência da cidade, que quando eu fui fazer arquitetura e isso ficou ainda mais forte de você entender desde a estrutura do plano diretor com Lucio Costa, você trazer esse outro lado dos monumentos, das escalas, e tudo isso foi se aprofundando. Então eu consegui trazer um pouco aí nas minhas pesquisas essa ideia de preservação, como é que a gente faz para transmitir isso para outras pessoas fora da área da arquitetura, que é realmente é muito fechada. Às vezes a gente fica pensando como eu conto para um amigo essa importância, como eu faço isso, e saiu daí esse caminho
Leyberson: E a gente leu o seu trabalho falando basicamente ali a partir do Lelé, né? Que é um arquiteto bastante referenciado aqui em Brasília, talvez, e explicasse para quem não é de Brasília e para quem também é de Brasília. Quem é o Lelé, que ele tá fazendo aqui nessa história, porque você foi atrás dele. Fazer esse mini perfil aí do João Filgueiras
Sarah: João Filgueiras Lima, Lelé, ele é uma figura importantíssima, mas realmente ele era tão humilde e discreto que ele não conseguiu ter essa projeção tão grande, até por ser mais novo. O Lúcio Costa era mais velho dessa tríade aí que a gente tem que fundamentou Brasília junto com o Niemeyer, o Niemeyer ficou com essa relação mais próxima do JK depois que saiu o plano diretor, mas já era uma figura carimbada. Enquanto o Lelé não, ele era muito jovem, ele veio recém-formado Para Brasília,
Enxerto: eu acho que a experiência de Brasília foi muito importante na minha vida, não só a nível profissional, mas também a nível de ser humano. Porque eu acho Brasília, ela nasceu num período que o mundo tinha perspectiva é muito favorável, e a construção de Brasília uniu pessoas, quer dizer, havia uma solidariedade muito grande entre aqueles que foram para lá para construir. E sob o ponto de vista técnico, foi um avanço enorme na arquitetura do nosso país
Sarah: A gente tem uma professora na UnB, a Cláudia Estrela Porto, que ela era uma amiga muito próxima e ela conta de como o Lelé descrevia o aprendizado no canteiro de obras. Então ele veio para Brasília para completar a formação mesmo, a demanda era tão grande dos prédios e da construção que ele estudava à noite no barracão para saber o que ele ia fazer no dia seguinte. Então ele tem uma veia de detalhamento, de saber como faz as coisas, que é muito diferente. Então enquanto o Niemeyer é um arquiteto mais plástico, a gente reconhece muito as formas e que ele faz as curvas do concreto, o Lelé ele tem um outro olhar, um olhar para o material, de como a coisa vai ser construída. Até que para quem é de Brasília, a gente vê o ICC, o famoso minhocão, e o prédio foi detalhado pelo Lelé. O projeto é do Niemeyer, mas quem foi lá e fez o detalhamento estrutural. Então foi uma parceria que rendeu muito na cidade, ele tinha vários contatos. E o Lelé se destaca principalmente no Brasil pela Rede Sarah, ele fez assim o projeto incríveis com vários olhares diferenciados para como resolver as necessidades humanas dentro do espaço, então ele tinha esse olhar humanístico muito forte, de fazer uma arquitetura que fosse confortável, agradável, então ele ia desde o macro até a estrutura, como a coisa ia ser construída até o micro, então ele desenhou até as marcas do Sarah. Acho que é um arquiteto assim que realmente tem muitas a ser explorado e foi isso no curso que me chamou tanta atenção. Quando você vai descobrindo assim as minúcias dele é realmente uma pessoa se aprender muito tanto pelo legado pessoal que ele tem aí fantástico das relações, dos amigos, quanto desse lado técnico que é fora de base.
Juliana: a gente escuta, que você falou como ele tem uma preocupação também com conforto, não só o macro, mas pensar o ser humano ali na arquitetura. E a gente escuta algumas críticas às vezes dessa arquitetura mais moderna de que ela não é tão funcional, que falta luz, que falta não sei o quê. Você consegue dar mais exemplos de como o Lelé conseguiu levar isso para as obras dele, de pensar no conforto?
Sarah: Ah, com certeza. Acho que ele é uma grande aula de conforto pra quem tá nesse Campo, ele tem o que a gente chama de Chad, né? Então ele tem algumas estruturas que muitas vezes quando a gente olha parecem meio estranhas. Para quem vai na UnB tem o Beijódromo, que parece um suspiro assim
Enxerto: Esse é o Memorial Darcy Ribeiro, conhecido como Beijódromo, aqui na Universidade de Brasília. Beijódromo era um sonho de Darcy Ribeiro, como um local de encontro dos jovens para namorar, para paquerar, para trocar algumas ideias. E o Darcy pediu para o Lelé, o João Filgueiras Lima para desenvolver esse projeto que fosse esse ponto de encontro da Universidade de Brasília
Sarah: tudo aquilo é feito para melhorar a ventilação, então garante que o calor saia por cima, que a iluminação venha de forma difusa, então aquelas formas meio peculiares e curvas que estão na cobertura do Sarah fazem esse mesmo efeito de rebatimento da Luz, criando uma iluminação confortável para os olhos e acho que até isso né? O projeto Modernista do Lelé, ele já vai um pouco além, ele cria uma forma bem própria e autoral. Então para quem já conhece um pouco mais o arquiteto já sabe identificar várias obras dele dessa fase que ele trabalha com o metal trazendo esses elementos até mesmo pré-moldado. Em Salvador assim ele tem um trabalho muito grande que ele fez com a comunidade, e às vezes o conforto não era só o conforto térmico que a gente pensa hoje de sustentabilidade, mas o conforto do ser humano que estava construindo aquilo. Então ele tentava fazer as peças mais leves para os construtores conseguirem carregar peças de escada que ele tem um desenho incrível assim para escoamento de água nas favelas. Então ele realmente trazia isso de um outro jeito e até acho que a frente do seu tempo
Leyberson: vamos fazer aqui um comparativo para ver se faz sentido. O Lelé, se fosse na construção, ele é um arquiteto que coloca a mão na massa, se ele fosse um cineasta é aquele que filmaria também, que pegaria a câmera e daria o seu hack
Sarah: Com Certeza, acho que é desse. Ele tava ali junto e ele ouvia muito então é aquela pessoa que está para ouvir a equipe, ouvir os feedbacks e aprender todo dia sempre uma coisa nova, então compartilhar, fazer parte do dia a dia
Leyberson: Queria então saber como você aproximou o Lelé com o cinema nessa análise que você fez para gente chegar ao objeto de estudo que é a Casa dos Arcos. E aí em seguida contar um pouco do que é a Casa dos Arcos.
Sarah: É não é esse caminho aí é uma volta que cheguei por essas pesquisas mesmo que eu tava falando do meu curso e por andar na cidade. Eu já conhecia um pouco do Lelé, mas eu tinha uma casa que eu achava incrível, meus pais me levavam no Parque Way e eu via aquela casa com os arcos, uma casa muito diferente, tijolo assim. Dentro dessa estética do concreto de Brasília, achava ela bem impactante. E quando eu fui estudar e encontrei a Casa dos Arcos e descobri que ela tinha sido feita pelo Lelé, e nessa história eu fui começar a pesquisar muito mais pelo sistema construtivo, a questão do formato dela, e tive a oportunidade de conversar com o Nivaldo Júnior, que o nome oficial da residência é a residência Nivaldo Borges, Casa dos Arcos é o nome carinhoso que a gente dá para identificar ela. E nessa conversa eu fui descobrindo um pouco mais sobre as coisas incríveis que tem dentro dessa casa. Para quem já teve a oportunidade de ir ou quiser pesquisar aí as fotos, é que ela tem um cinema, então é uma oportunidade diferente para um arquiteto imaginar que alguém vai te contratar para construir uma casa com um cinema dentro, não é qualquer dia que você recebe um projeto desses. E realmente o Lelé pega esse desafio porque ele tem outra característica peculiar que é só fazer casa para amigos. Enquanto muitos arquitetos aí fazem isso como atividade principal, o foco do Lelé era umas atividades públicas, mas nesse bom relacionamento que ele tinha com as pessoas aqui em Brasília, ele fazia a exceção com os amigos dele. Ele não cobrava pelo projeto, mas criava uma casa muito personalizada, porque ele achava que você tinha que conhecer a fundo as pessoas. E nisso ele conheceu o Nivaldo Borges, que é o outro personagem importante dessa história, um candango verdadeiro, vindo de Pernambuco para cá com a sua família e ele vai começar essa empreitada junto com o Lelé aí de desenhar uma casa para uma família muito grande. O Nivaldo tinha seis filhos e uma paixão tanto pelo cinema quanto pela arquitetura e esse desafio caiu na mão do Lelé. O Nivaldo veio para Brasília a convite do banco que ele trabalhava, então ele tava meio se acomodando na cidade, mas já tinha essa questão da família grande. Para aproveitar o preço dos lotes ele comprou num bairro meio afastado da cidade, dois lotes muito grandes no Park Way. Na época ninguém tinha muito interesse. Enquanto isso eles moravam na 700, ali mais próximo ainda começando também debaixo de terra e ele tava construindo uma casa muito grande, uma casa de mil metros, uma coisa rara. E isso vai ser um diferencial mais para frente nessa história porque é como ele vai conseguir, na verdade, se liberar desse emprego do banco e fazer um super negócio que é vender essa casa de mil metros que ele nem morou para a embaixada dos Estados Unidos. É uma coisa muito louca, foi uma oferta que chegou a sair nas notícias na época, e ele aproveitou esse dinheiro para comprar outros três lotes no Parque Way. Então é uma coisa muito visionária na época e ele chama esse amigo que ele fez, o Lelé, e fala “olha eu preciso de uma outra casa”. E ele tem um grande diferencial que é o Tião. O Tião é um mestre de obras que era amigo da família, veio com o Nivaldo, morava com eles, e ele era um mestre de obra catalão-espanhol como especialidade em arcos e abóboras e o Lelé decidiu aproveitar isso. Então vai surgir aí esse programa Super diferenciado de fazer uma casa para uma família imensa com essa paixão do cinema e dos carros, mas com o mestre de obras espanhol. E ele começa a fazer esse desenho. São dois blocos principais, um bloco maior quadrado que tem os arcos vistos assim de longe que ficam os quartos, a cozinha, a sala até o quarto de costura da mãe, e ela é muito impactante. Ele fez seguindo assim essa estética diferente de arcos e abóboras, mas ainda como ele é Modernista por fora, umas linhas mais retas, a cobertura verde que infelizmente hoje não tá mais lá, mas é até um desejo da família que voltasse a ter. E tem um outro bloco menor separado que tá ali a salinha de cinema para 120 pessoas, nem é tão pequeno assim quando a gente pensa que o Nivaldo, na verdade, começou fazendo uma sensação de cinema na garagem de casa. Então nessa casinha da 700 ele já tinha uns projetores pequenos ali e juntava o pessoal na 710. Todo sábado à noite, ele botava o projetor na garagem e projetava na parede do vizinho e juntava a meninada da rua para ver. E aí ele conseguiu então começar esse miniclube de cinema que ele foi levando junto com ele. Mesmo quando ele estava construindo a casa dos Arcos que acho que é um diferencial que eu tenho que trazer aqui, a casa não foi só feita pelo Tião e por vários empreiteiros, não tinha Construtora nem nada, era a família com a mão na obra ali filhos. Cada um tinha sua tarefinha de fazer o pedaço dos Pisos todo dia, e eles foram juntos nessa empreitada. E do Barracão que Eles mudaram depois que saíram das 700 foram ficar mais perto da obra, eles também levaram esses projetos portáteis ali e faziam esse legado aí da Ascensão de cinema com a família e com os amigos. Então antes mesmo de terminar a obra da Casa dos Arcos, o anexo, esse bloco de lazer já estava pronto e já começaram a acontecer essas sessões ali para os amigos que iam marcando a cidade e tudo. Uma das partes que também foi muito importante é a questão da ditadura militar. Acho que vai entrar aqui como parte da história de Brasília. É que realmente as sessões de cinema começaram a ficar mais escassas, as pessoas tinham mais medo, então o Nivaldo com essas boas relações dele conseguia fazer um marco aqui nas em Brasília. Tem vários filmes que chegavam antes e sem cortes. Ele por ter acesso a grandes pessoas como o Karim, Abdala Karim, também tinha o Cine Karim em Brasília.
Enxerto: Abdala Karim Nabut era um goiano de origem sírio-libanesa que veio para Brasília ainda no início, na construção da cidade e se tornou um empresário no ramo da construção civil. Ele era muito apaixonado por cinema e isso deu origem ao cine Karim, que ficava na 110/11 sul, e ao Cine Márcia, que ficava no conjunto nacional, além de duas outras salas de cinema que ficavam no CONIC. Tanto o cine Karim quanto o cine Márcia fecharam no início dos anos 2000
Sarah: ele pegava os filmes e passava então para esse grupo de amigos ou de convidados e um passava para o outro, uma coisa bem Brasília de vai chamando quem tá perto. “Vamos para lá vamos pra casa dos Arcos? Hoje sábado às 9 horas tem sessão de cinema para a gente ver”, então foi quando eu percebi que tinha aí um legado incrível da arquitetura se misturando com a história do cinema de Brasília.
Juliana: Quando eu li seu trabalho, eu achei bem interessante você também descrever a visita, porque eu entendi que você fez primeiro uma visita com a turma e depois fez uma visita sozinha. E aí eu acho que isso revelou até muito para você de quem que era o Nivaldo. Eu tive essa impressão lendo você pode contar um pouco dessas visitas?
Sarah: Claro. Fui eu mesma que organizei as visitas, eu já estava querendo fazer o trabalho lá porque parte do nosso trabalho final de arquitetura é propor um edifício. E aí foi outro projeto, mas eu propus adaptação da casa dos Arcos para um centro cultural que fosse voltado para o cinema e aí eu precisava visitar para pegar medida confirmar algumas coisas, organizei, me passaram o contato do Nivaldo. Chamei vários amigos. Foi um sucesso, todo mundo queria visitar tirar foto na casa, já sabiam que era bonita e ele foi muito gentil e muito educado de apresentar a casa para a gente. O Nivaldo Júnior no caso, né? Tem que deixar claro aqui porque os dois têm o mesmo nome. Ele hoje cuida desse legado da família e do que o pai dele construiu e apresentou para todo o grupo essa história deles lá da construção da casa, ele guarda os desenhos do Lelé. O Lelé era tão próximo da família que chegou a fazer um projeto para ele, de presente quando ele casou de uma casa nova, mas essa do chegou a ser executada, mas os desenhos originais estão lá então a gente teve essa oportunidade de fazer um super tour guiado. Então eu conheci um pouco dessa história desse contato, que era um hobby a construção, mas muito focado na arquitetura. E aí eu decidi expandir um pouco mais, visto que já tinha alguma documentação do Adalberto Vilela, mas achei que cabia documentar um pouco mais a história da Casa dos Arcos. E esse foco do cinema era um diferencial. Até porque eu queria juntar um pouco com esse interesse do mestrado. E aí pedi para ele para fazer uma segunda visita. Essa foi só eu. É interessante ver a evolução da casa entre as primeiras documentações do Adalberto, que a Joana França fotografou, para quando eu fui visitar. Já tem várias mudanças. Em termos patrimoniais é um registro importante até para a gente saber reverter depois da casa, mas nessa segunda visita ele trouxe mais detalhadamente como é que foi essa transição da vida do pai da relação dele em Brasília, não só na relação arquitetônica, mas essa outra relação com o cinema com a cultura, com as pessoas que visitavam o espaço e que passaram a ter esse carinho, até por como ele faz hoje esse processo de manutenção. Então saber o valor patrimonial da casa é um grande diferencial, e o Nivaldo se abriu muito para contar isso para a gente, de como ele espera que a casa hoje tenha um destino mais cultural. A casa tá à venda até, acho que é uma das coisas que vira e mexe volta nas notícias de Brasília, porque são muito herdeiros e eles estão vendo que vai ser difícil manter a casa. Hoje ela se mantém com um casamento, os eventos festivos mesmo, eles alugam para esse espaço e tiveram que fazer algumas adequações, então mudanças no banheiro, mudanças nos revestimentos dos fechamentos especialmente, mas o Nivaldo tem um cuidado muito grande de guardar as coisas. Então as portas de madeira são brisas de muxarabi, então guardadas e podem ser instaladas de novo. E foi muito importante ter esse legado assim registrado até para a gente ter esperança aí que um dia essa casa, se for comprada, seja para um fim em público também de passar essa história adiante. É um medo realmente que a casa acabe terminando num fim privado, ou seja demolida
Leyberson: Eu queria que você contasse um pouco assim falando em memória, da sua sensação. Você já trouxe algumas coisas aí da casa que achei interessante, o telhado verde que não tem mais, as adaptações de acessibilidade nos banheiros, você fala que tiraram os chuveiros. E você tem um cuidado, uma gentileza muito grande porque o Nivaldo Jr te recebeu. Ele conta “Ó eu tirei isso daqui, mas guardei bonitinho”, então assim qual é a sua sensação como arquiteta, uma pessoa que estuda isso e que vê a importância deste lugar tendo essas modificações patrimoniais ou não assim. Eu quero saber se você teve esse dilema, essas discussões sobre até onde pode ir, até onde a gente tem que intervir, fazer alguma coisa porque as casas precisam também de manutenção, eu imagino que seja isso, tirou o telhado verde que aconteceu alguma coisa. Então queria que você contasse a sua sensação da Sarah chegando lá vivenciando isso. Como você lidou com isso, né?
Sarah: Eu acho que lidei bem. Já tinha algumas informações, mas a gente sempre fica preocupado com o que vem à frente, né? Até a importância do trabalho a gente querer fazer isso, é ver se a gente não consegue despertar o interesse de mais pessoas para valorizar esse bem. Porque a casa, esse é o programa original dela, mas a gente sabe que já tá defasado com a realidade de hoje em dia, igual eu estava falando, não tem como ela ser mais hoje uma casa. Mais de 1000 metros quadrados é um custo muito alto de manutenção, os próprios Jardins verdes da cobertura geravam um problema de infiltração que é um custo de manutenção altíssimo. Então foi uma escolha de preservação do Nivaldo mesmo assim, acho que bem responsável dele até de garantir que o jeito mais simples agora era tirar o telhado para poder tirar a cobertura verde para manter o telhado, e conseguir fazer isso ser reversível Igual a gente estava falando. Porque é importante você identificar as mudanças. Acho que em questão patrimonial a gente sempre quer poder saber de onde a gente partiu, para onde a gente tá indo, acessibilidade, essas mudanças são parte delas, e tentar fazer de forma menos agressiva possível. Então acho que eu fico com o coração tranquilo de estar com uma pessoa tão boa e que entende a importância do projeto, além da família dele, entende que é uma construção do Lelé, é uma construção muito significativa da história da cidade que tem uma colaboração aí na memória coletiva. Acho que é muito legal isso porque até os casamentos hoje em dia fazem ela ter uma importância individual para cada um que constrói esse imaginário da cidade do que é importante ou não, mas a gente fica sempre com o coração apertado de para onde vai parar, A hora que o Nivaldo não conseguir mais cuidar por questões financeiras ou pela questões familiares, como fica esse bem? Então a gente torce aí para ter alguma outra atitude que possa influenciar, quem sabe o governo, né? O tombamento. O Niemeyer tem tantas obras tombadas, mas o Lelé não tem nenhuma. Então trazer esse reconhecimento para outras pessoas que participaram da história da cidade, que é uma cidade nova, mas que agora já tem um chão, já tem registro e podia estar aí mais divulgada. Acho que essa é a impressão que fica no coração de ver um lugar tão querido, tão bonito e que está ameaçado.
Juliana: no seu trabalho, você olha para essa casa e projeta ela como um centro cultural. Pensa em iluminação, mobilidade urbana, como vai distribuir as atividades. Você pode falar um pouco mais da sua proposta?
Sarah: Posso. Acho que até eu já mudaria muito essa proposta hoje em dia, mas a ideia principal de transformar a Casa dos Arcos num Centro Cultural voltado para o cinema é completamente válida, ou qualquer outro Centro Cultural. É um espaço, um lote muito amplo que teria como ter acessibilidade pública, né? Apesar do Park Way ser isolado, tem vias, seria possível fazer transporte assim como o CCBB, de incentivo privado. Sempre dá para instalar e usar o espaço cultural para beneficiar a população. Acho que você tem tanto a aprender aí a gente ainda peca em educação patrimonial nas escolas.públicas né? Então imagina você poder levar as pessoas para fazer a visitação ali no espaço. Acho que a ideia era transformar a Casa dos Arcos num espaço para aulas, quem sabe uma expansão ali, um anexo da UnB. No meu projeto, eu fiz outro prédio mesmo, outro bloco atrás que seria mais discreto para destacar a casa principal e que a ideia era trazer salas de cinema. Um dos pontos que eu trago no artigo é como a gente tinha antes aulas de cinema fora do shopping center. Então eu acho que tem ainda essa carência de desvincular o comércio, né do cinema. É tão bom o Cine Brasília, você trazer isso como uma atividade cultural rica e uma produção nacional ou internacional diferente, a gente tem um incentivo das embaixadas, que é uma coisa super específica de Brasília você ter essa participação de fora com fomento cultural de tantos países. Então acho que tem espaço para crescer e a ideia era fazer um centro que fosse focado nisso, com espaço para produção de filmes, quem sabe aí e voltar a ter as aulas, encontros, exibições e talvez outras palestras para trocar essas ideias entre as pessoas.
Juliana: Você falou que hoje em dia você faria muita coisa diferente. Imagino que tenha ideias que você teve antigamente que você rejeitaria, mas tem alguma coisa nova assim que você pensou depois que olha seria muito legal se eu tivesse pensado nisso colocado no projeto?
Sarah: Acho que nem nova. Eu acho que eu tiraria assim, aquela coisa de você ver menos é mais. O projeto ficou muito grande até em termos de estrutura, mas acho que a ideia principal de fazer uma coisa mais discreta e aproveitar ali. Tem uma conexão muito boa com o aeroporto, o Park Way é muito próximo e a gente tem uma área que está se desenvolvendo cada vez mais, então é você mudar um pouco os centros urbanos, né? Ao invés de fazer tudo aglomerado, Brasília é uma cidade esparramada. Como você começa a atender essa demanda de outras pessoas? Acho que o projeto em si seria mais isso, dar uma enxugada para valorizar mais a casa original. Tenho certeza que faltam outros detalhamentos estruturais, tem questões de segurança que são muito mais complexas na realidade, mas eu tenho muito orgulho de ter sempre valorizado o que é o original do Lelé e o que ele pode significar para a cidade
Leyberson: A pergunta que eu quero fazer é ir além. Você falou que tá sempre no noticiário que querem vender, até porque uma questão de herança e tudo mais. Já viu alguma manifestação, seja por parte privada ou parte pública, de comprar, de adquirir ou de dar um passo além na sua proposta, ou de algo parecido?
Sarah: isso eu tô falando, mas sem ter tanta certeza. O CAU, o conselho de arquitetura e urbanismo, se interessou uma época. Algumas festas do CAU foram lá e eles consideraram comprar a casa, mas eu acho que o valor realmente é uma questão, né? É muito grande, é um espaço de manutenção difícil, qual seria o fim que dariam para ele, e os próprios donos hoje têm medo que a pessoa compre só para demolir e aproveitar o lote. Então Nivaldo falou que eles são muito criteriosos, quando vão vender assim de tentar entender quais são as verdadeiras intenções da pessoa ali. Eu sei que é essa do CAU parece que não foi para frente, seria muito legal o conselho de arquitetura usar aqueles espaço, Tem Tudo a Ver promover ali os encontros para os arquitetos. Acho que seria uma boa alternativa dentre as que já tiveram, mas por enquanto não tenho mais notícias, fica com essa Boa pergunta aí para a gente se atualizar
Juliana: eu vou dar alguns passos bem atrás que você falou rapidamente do Tião, do mestre de obra, e eu achei interessante você citar essa parceria. Fiquei imaginando o que a gente consegue ver de contribuição dele na casa que talvez fosse diferente se fosse só o Lelé com outros parceiros.
Sarah: Ah, com certeza. O Tião é um ponto essencial que definiu a Casa dos Arcos, porque o Lelé tava ali muito habituado com o concreto, os pré-moldados que já estavam em Brasília esparramados, e depois ele entra no meu tal, mas o Tião foi o que definiu a escolha do tijolo. Então você tem uma mão de obra especializada para conseguir fazer esse sistema construtivo de arcos e abóboras foi incrível. Ele mesmo cita a caixa d’água que acho que ele planejou fazer com nove metros, agora eu não lembro, e acabou com 13, porque eu Tião era tão bom que ele conseguiu aumentar a altura. E de perfeccionismo incrível. Então realmente essa importação que a gente tem de trazer pessoas de fora para construir aqui essa mistura de Brasília que foi incrível, ainda mais uma pessoa que veio do exterior. E o Lelé se impressiona com a habilidade dele e faz um projeto pensado no Tião, que ia ali guiar toda essa obra. Foi uma escolha tão certa que essa parceria continuou. O Lelé convidou depois do Tião para construir uma igreja com ele na Bahia, um projeto também que ficou muito acertado, está lá ela os arcos e abóboras do Tião definindo o projeto do Lelé. Então acho que essa é uma habilidade que ele tem como arquiteto de se adaptar ao que o espaço está oferecendo, quais são os materiais em volta, o que essa mão de obra dá conta de fazer. E ele fala que o idioma era até um problema. O português do Tião ainda tava ali arranhando, mas eles conseguiram se acertar no desenho para fazer o projeto e ter essa característica, né? O nome da casa ficou Casa dos Arcos. E realmente é difícil hoje você ver alguém com peça mais estranha na construção acima para um sistema construtivo incrível
Leyberson: fazendo um paralelo aqui também ao Nivaldinho, o Nivaldo Júnior. Tem uma passagem que você conta que ele também, de certa forma, teve que colocar a mão na massa ao fazer os tijolos, né? Queria que você contasse essa passagem, até porque talvez mostre a importância que ele tem com o fato de não vender para qualquer um e de repente tirar toda a história da casa, né?
Sarah: Ele contou muito sobre essa participação da família na obra. Eles moravam no barracão ali, no fundo, que eles chamavam de Catetinho carinhosamente, né? E todos eles tinham algumas tarefas, a do Nivaldinho era construir os pisos, ele mostrou pisando em cima: “Ó, esse aqui eu sei o traço até hoje”. Então ele fala que ele tinha que fazer quatro blocos por dia para sair, senão o pai não deixava. Então acho que todos eles ficaram com apreço, assim é especial a casa. Ele que fala que na época achava ruim, mas hoje ele entende o que foi essa participação familiar de ainda terem as formas ali no jardim de casa, então cada um dava um pouquinho e a casa foi uma construção realmente coletiva. O Tião tava ali endireitando os tijolos, mas o Nivaldo Júnior tava ali fazendo o traço, montando os bloquinhos dele para depois assentarem no chão. Então é um projeto que acaba tendo esse apreço de todo mundo ali da família.
Julana: quanto tempo que a família ficou morando na casa antes de cada irmão ir para o seu canto? E se o Nivaldo Júnior te contou um pouco sobre como era viver nessa casa.
Sarah: Olha, quanto tempo cada um passou eu não vou saber. Eu sei que no Catetinho eles passaram seis anos ali fazendo a construção da casa dos Arcos. E os quartos eram cada um com seu, os banheiros compartilhados. Então ele conta que foi um projeto diferente porque o Lelé privilegiou essa relação familiar. O Nivaldo pai gostava muito dessa socialização das festas, então a parte principal da casa é o centro, que a gente fala ali, o átrio do projeto. Quando você entra tem um espelho d’água, tinha os jardins que caíam e, no fundo, ficava um espaço que era a sala de estudo dele. Ele falou que eles e os irmãos sentavam na mesinha, mas ficava perto do ateliê de costura da mãe, e a mãe ficava de olho ali para nenhum deles sair da linha. Os quartos eram menorezinhos, os quartos individuais, então incentivava eles estarem ali nesses espaços de convivência, na sala de estar, na piscina, mas ele conta que assim para achar o pai era ir para o anexo mesmo que ele tava sempre lá ou cuidando dos carros, ou cuidando dos filmes dele. Então deu para sentir que ele tem essa memória bem viva de onde estava cada um ali no seu espaço e até o planejamento do Lelé para adaptar isso para a família, que nem eu falei ele só fazia pra amigos. Então uma das coisas que o Lelé fez foi desenhar uma mesa de jantar maior porque não tinha nenhuma que comportasse a família tão grande com convidados. Então foi um projeto separado por fazer só a mesa de jantar da família, tem o armário da sala que ele desenhou, até o Athos Bulcão chegou a fazer um projeto para casa de um painel artístico que não foi executado, mas a fundação Athos tem até hoje o registro
Leyberson: eu fiquei com uma curiosidade de leigos. Olhando para Brasília, a gente tem muita os grandes patrimônios formados de concreto armado, com grandes voos livres que é uma característica, mas, ao mesmo tempo, essa casa ela tem grandes voos livres e ela não é baseada em concreta Armado ou estou enganado, ela é baseada na estrutura de tijolo. Tem alguma outra em Brasília ou será realmente que ela é única vamos dizer assim?
Sarah: eu acho que assim, até o Cine Brasília, né? A gente tem ali os tijolos, alguns revestimentos, tijolo aparece como complemento. Acho que a forma da Casa dos Arcos é única em si só, mas se você dá uma juntada com o que tem em Brasília que é diferente, a gente tem os arcos nos Palácios, né? Então a gente sai ali dos arcos de concreto do Niemeyer, mas junta com esse revestimento cerâmico que estava antigamente nas passagens. Hoje a gente reformou as tesourinhas e não tem mais, mas antigamente as tesourinhas estavam com as pastilhas de tijolo cerâmico, que tinham esse mesmo aspecto. Com fim mais estético, porque na casa dos Arcos é realmente estrutural, mas acaba criando essa identidade da cor que tem a ver, acho que até a gente paga associar aí com a terra do Cerrado, tem muitas coisas que juntam
Leyberson: só fazer uma referência é uma curiosidade. Eu só consigo associar mais próxima ao fato de passar debaixo de um arco estruturado por tijolos ao santuário da Aparecida do Norte, que trabalha com essa lógica de tijolos também. Então por isso que eu falo assim, porque é um método construtivo muito interessante e que não é comum você encontrar, por exemplo, um Tião, que até esse nome é curioso para um Catalão, encontrar um especialista em organizar tijolos para não cair. Então assim, eu fiquei com essa questão levantada até para a questão da preservação mesmo. A gente demolir isso é demolir um método construtivo muito importante né?
Sarah: Sim. Mas até o Lelé faz um híbrido porque a casa tem concreto armado também, então para sustentar a parte delas tem algumas vigas bem largas de concreto na lateral que dá para ver, então ele consegue juntar o que ele tem mesmo ao redor para trabalhar, mas eu concordo assim. Acho que o exemplar do que foi feito ali é diferente até para a própria cidade, pensando assim nos poucos exemplares que a gente tem desse tipo aqui.
Juliana: nossa conversa tá muito divertida porque você fala da casa e joga ela com algum vínculo com Brasília. E aí uma pergunta muito diferente, se a gente fosse planejar um tour Lelé no distrito federal, quais seriam os caminhos que você acha que a gente passaria?
Sarah: aí eu tinha que ter dado uma refrescada mais na memória, mas assim, com certeza as duas sedes do Saara, né? A gente tem o Sarah do Lago Norte e o Sarah de Brasília. Acho que o Beijódromo. O livro do Adalberto dá com maestria as quatro casas
Enxerto: A dissertação de Mestrado da Adalberto Vilela arquiteto pela FAU, da UnB destaca quatro casas projetadas pelo Lelé, todas elas em Brasília. São elas a casa feita para o médico Aloysio Campos da Paz, uma casa de pedra à beira do Lago Paranoá, de concreto, a residência de José da Silva Neto no setor de chácaras do Lago Sul e uma das obras mais recentes dele em Brasília, a residência Roberto Pinho, no Altiplano leste, que é uma área rural que fica cerca de 20 Km da Praça dos Três Poderes, que é feita em aço, e, claro, casa Nivaldo Borges A Casa dos Arcos no Parque Way que é feita de tijolo
Sarah: a gente volta para esse aperto do coração de ver que algumas a gente nem consegue mais ver no estado original, uma das residências que fica aqui no lago sul foi comprada e teve uma grande reforma alterando drasticamente a estrutura de concreto dela com as paredes de vidro, então dá esse apertinho no coração. Mas tem coisa do Lelé espalhado por todo lado. Acho que passar na UnB não tem como ali, ver o ICC, mesmo que seja do Niemeyer, ver esse trabalho conjunto deles
Leyberson: Eu lembro de dois que eu gosto muito do Lelé, mas de forma assim sem conhecer muito, no Setor Comercial Sul, é dele?
Sarah: Ah, sim, são maravilhosos. São dois edifícios, um com um brise laranja e outro com brise verde.
Leyberson: É porque eles são bastante funcionais, você passa debaixo dele, mas eles são impressionantes.
Sarah: Com certeza, eu botaria aí nesse tour, o Morro Vermelho e o Camargo Corrêa, pelo menos para começar aí uma introdução ao Lelé.
Leyberson: Finalmente eu queria mais dicas para deixar o pessoal mais curioso para pesquisar depois projetos futuros. Que você está aprontando agora, tá buscando mais casas com cinema?
Sarah: não, eu dei uma parada acadêmica. Acho que fiz por muito tempo essa relação do cinema e da arquitetura e eu acho que é um campo que vale muito a pena ser explorado, que nem a gente estava falando no começo. Aí o meu mestrado foi sobre a importância da arquitetura nas obras do Miazaki e entender o quanto a arquitetura não só material, né? Mas essa arquitetura que tá sempre aí das telas, imaterial, elas constroem o nosso Imaginário, elas trazem muitas sensações diversas . Então foi entender como a arquitetura toca também é não só o tato, mas os olhos a gente escuta arquitetura, você passa todo dia. Tô meio afastada das pesquisas, mas tenho um carinho muito grande. Acho que isso muda o nosso olhar, então a minha recomendação para todo mundo é essa pesquisa natural de você perceber por onde você está indo, qual é o seu caminho do trabalho, aquele prédio que te marca todo dia. Onde você passa. Aqui em Brasília é tão cinematográfico a cidade por si, só que ela já é uma pesquisa automática, você atravessar a ponte JK de carro é uma experiência. Se você tiver tempo ali para olhar, você já vai ter uma memória natural, acho que todo mundo passa na cabeça por se a Esplanada não tem como então Brasília tem uma. Acho que eu tenho que voltar um pouco para as pesquisas, meu orientador foi muito parceiro em topar qualquer empreitada, acho que é a UnB tá de parabéns por sempre trazer tantas pesquisas diferentes e que para quem é do campo das humanas se sentir incentivado a explorar e juntar tantas conversas que são naturais. Os campos se unem aí de várias formas, arquitetura e cinema, arquitetura e todas as artes, a música, o teatro, então acho que sempre vou ter essa paixão de estar aprendendo uma coisa nova.
Juliana: Eu vou fazer mais uma pergunta difícil, mas eu prometo que é a última. Gostei muito disso que você falou da imaterialidade que surge da arquitetura, de algo muito concreto, né? E aí eu lembrei que você começou essa conversa falando que você conheceu a casa dos arcos quando seus pais te levaram lá e aí você também fala das visitas no artigo que dá para perceber esse seu envolvimento. E aí eu queria saber da Casa dos Arcos especificamente., quais foram os sentidos que ela despertou em você desde quando você conheceu até terminar o seu trabalho? E também não só sentidos, mas sentimentos
Sarah: importantíssimo. Acho que foi a primeira vez que eu senti esse vínculo com a cidade e entendi também essa parte da cidade como uma identidade minha de ter visto essa transformação, de ter ido lá pequena e ter a memória como parte do caminho da casa da amiga, depois de me ver como estudante primeiro depois como profissional e sempre foi um lugar que me trouxe muitas reflexões. Acho que entender quem era o Lelé, eu tinha muitos questionamentos sobre a profissão, se eu devia ficar ou não. E ver que tá valendo disso, entender que o Lelé fazia que era pelas relações com as pessoas. O Nivaldo também por querer receber. Então entrar na casa e ter esse tempinho, eu fiz visitas inclusive sozinhas que nem tão citadas no artigo eu fui lá para desenhar. Eu gosto muito de desenhar então passei um tempo sentado ali na frente vendo entendendo a forma, a proporção e acho que Brasília sempre inspira muita gente e ali na casa dos Arcos foi um lugar que eu me encontrei assim de ter várias perguntas pessoais respondidas, de ter esse carinho da evolução, da cidade e a minha. Ver que a casa mudou e eu também.
Juliana: E é possível para quem quiser, assim entendo que não dá para entrar porque tá sendo usado para festa, mas quem tem interesse olhar a casa de longe, sentar lá e desenhar também refletir.
Sarah: Olha, a casa, uma outra curiosidade é que ela não tem portão, ela não tem um muro. Então uma coisa assim super rara da gente ver em Brasília hoje em dia. Nos finais de semana, ela está sempre alugada para os eventos então, por favor, não não passam lá sem avisar a gente Nivaldo, senão eu vou deixar ele em maus lençois aqui, mas acho que durante a semana se, quiserem mandar uma mensagem, eles têm um site, um Instagram hoje da mansão dos Arcos, que dá para entrar em contato e agendar as visitas, eles recebem vários alunos da UnB ainda. O Nivaldinho acho que ainda faz visitas guiadas, então ele gosta de apresentar a casa. E poder ter essa oportunidade de conhecer uma brasília Modernista diferente,
Leyberson: Para fechar, eu fui atrás aqui de mais informações do Lelé aí viu com a sua obra do Lelé que você pensou se deu tempo de jogar no Google. E, para a Sara, uma sala de cinema em Brasília que você lembre que não ficava dentro do shopping, você tem alguma? Passando duas missões.
Sarah: A minha tá fácil, que é o drive-in. Eu não citei ele antes, mas acho que aqui em Brasília a gente tem muito orgulho de ainda ter o drive-in. Virou filme faz parte aí da história, o projeto da tela é um super projeto Modernista assim, a tela é imensa, é ponto turístico já para quem vem de fora curtir uma sessão. Vai com a família então com certeza que era mais disso aqui na cidade para a gente ter vários pontos de encontros diferentes.
Juliana: Respondendo o Leyberson, eu não sabia que era do Lelé, mas que ela falou logo no início e é um prédio que eu acho encantador que é o Beijódromo que eu acho a proposta muito legal, porque ele é uma homenagem para o Darcy Ribeiro e não é um prédio carrancudo super institucional, muito pelo contrário. O nome é legal, tem aquele redário do lado de fora ou dá para andar ali perto, eu acho um prédio muito legal na UnB
Leyberson: ó, só vou listar. Ótima escolha, mas saiu pelo caminho fácil, né Ju ? Fui jogar no Google, HRT que eu acho que você falou do hospital, né Hospital Regional de Taguatinga, e eu lembrei de uma que também tem uma memória afetiva que é a antiga Adsbrav, que também é do Lelé, eu não tinha essa noção, mas que de alguma forma quem passa na W3 Norte, não consegue não lembrar daquele prédio, que é hoje outra concessionária lá e tudo mais
Juliana: Bem, então acho que a gente esgotou por hoje, mas eu vou deixar o microfone aberto para Sarah para as últimas palavras que ela queira dar. Eu quero agradecer a sua participação também
Sarah: é e eu agradeço vocês pelo convite. Acho que é isso, estava meio afastada da pesquisa, então foi um bom cutucão para lembrar do trabalho do carinho assim e matar a saudade. Acho que vou dar um pulinho lá na casa dos Arcos, depois passar na frente. E divulgar mesmo é um trabalho super importante que vocês estão fazendo aí de trazer o patrimônio material e imaterial. Acho que é uma discussão que a gente sempre tem que voltar a pensar, conversar com a família tentar ver como a gente transforma isso numa coisa mais palpável para as pessoas conseguirem ver o carinho, que isso é cuidado e é um bem-estar que a gente cria coletivo na cidade da história, o que a gente quer deixar para os outros? Então adorei o papo. Obrigado pelo convite e sucesso aí também. Vou escutar os próximos.
Leyberson: Bom, Sarah, a gente agradece muito a sua participação, mesmo que aconteça tudo de errado o materialmente com aquela casa, já tem aqui um registro e material que vai ficar pra história. Eu acho que é um tijolinho colocado na pesquisa sobre o fato muito importante de Brasília que está se construindo cada vez mais. E a gente encerra então o episódio avisando que o podcast das humanas tá no YouTube e em várias plataformas de podcasts, Spotify, Google podcast e iTunes. Em 15 dias a gente vai voltar com novo episódio e se vocês quiserem enviar sugestões, mensagens para a Sarah e para os outros convidados, nosso e-mail é voz@dazumana.com
Juliana: Este projeto é feito com o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Governo do Distrito Federal e realização da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal. É isso, até a próxima. Dazumana, a ciência sem jaleco.
00:00 - BLOCO 1: LELÉ EM BRASÍLIA
Aprendizado no canteiro de obras
Projeto para os amigos
Nivaldo Borges
Arquitetura e cinema
15:25 - BLOCO 2: LEGADO DA CASA
Visitas à Casa
Nivaldinho e a preservação
Futuro do edifício
Educação patrimonial
23:00 - BLOCO 3: ARQUITETURA E BRASÍLIA
Salas de cinema
Mestre de obras
Tião
Prédios do Lelé
Adalberto Vilela
Como marcar visita
TCC “Centro Cultural Lelé: ressignificando a Casa dos Arcos” de Sarah Almeida https://issuu.com/sarahalmeida57/docs...
Artigo “A Casa dos Arcos na história do cinema de Brasília” de Sarah Almeida https://periodicos.unb.br/index.php/p...
CRÉDITOS:
Enxerto 1 (comentário): Canal Casa Sul - A arquitetura de Lelé ( • A arquitetura de Lelé )
Enxerto 2 (comentário): SomosQuali-A - Conheça o Beijódromo! ( • Conheça o Beijódromo! )
O Dazumana é um podcast informativo de divulgação científica. Comentamos fatos da vida para entender as teorias, sempre com finalidades educativas. Artigo 46 da Lei 9.610/1998.