Juliana: Olá, começamos mais um episódio do Dazumana, da temporada “Álbum de recordações BSB”. Hoje, vamos abrir as cortinas dos acervos de teatro, metáfora que estamos aproveitando do artigo que lemos, e estamos ansiosos pelo que vamos encontrar nesse palco. Quantos bancos de documentos se espalham ou não pelo DF no que se refere às artes cênicas?
Leyberson: Pois é, já adiantamos a avaliação da professora Elizângela Carrijo de que a memória do teatro brasileiro é frágil, esperamos com este episódio contribuir na divulgação do estado dos acervos sobre essas artes aqui no quadradinho.
Juliana: e a nossa mestra de cerimônias que nos guia por esse percurso é Elizângela. Olá Elizângela, tudo bem?
Elizângela: Olá Juliana. Olá, Leyberson. Olá, todo mundo que tá ouvindo. É uma alegria estar aqui hoje para a gente bater esse papo e tô super animada para o que vem aí
Leyberson: perfeito, nós que agradecemos a sua presença e a Elizângela já estudou até o script e ela já sabe que vai vir aqui agora o momento do Lattes, que a gente vai ler um currículo da nossa convidada. A gente tem uma pequena enxugada que pode conferir a versão completa lá no site do Lattes. A Elizângela é Doutora em comunicação pelo programa de pós-graduação da faculdade de comunicação da Universidade de Brasília, ela é mestre história cultural e graduada em História, tanto no bacharelado quanto na licenciatura, pela UnB, ela trabalhou com mais de 10 anos do Correio Braziliense, coordenando pesquisas e equipes atendimento ao público processos técnicos de acervos e por aí vai. Docente desde 1997. Lecionou em várias escolas de Brasília e em 2010 tornou-se professora permanente da UnB, na graduação de museologia da Faculdade de Ciência da Informação, onde coordenou o curso na gestão de 2020 e 2022, período bem ali da pandemia. Atualmente também está credenciada como professora colaboradora do programa de pós-graduação em artes cênicas para orientação no mestrado e agora faz pouco tempo em 2023 foi requisitada para trabalhar na biblioteca e acervo digital da presidência da república do Brasil, fica lotada ali na casa civil e está cedida pela UnB É isso mesmo, faltou alguma coisa, Elizângela? Quer colocar mais algo?
Elizângela: Não, eu quero tirar. To brincando. Não, tá tudo certo. Obrigada pela gentileza da leitura
Juliana: então a gente começa agora as nossas perguntas e a primeira que a gente tem sempre feito para as nossas entrevistadas é entender o porquê de você estudar o que você estuda, que são os acervos de teatro, e se você enxerga isso como parte do nosso patrimônio?
Elizângela: Vou falar sobre a minha trajetória e respondo ao contrário, né? Primeiro vejo o acervo como um patrimônio material e no caso do teatro, que é uma expressão, que a gente pode falar assim, ela fica ali nos bens culturais de natureza imaterial, que acaba gerando materialidade dos documentos, né? Porque enquanto expressão cênica, ela produz fotografia, cenário, figurinos, roupas, maquiagens, tudo isso é uma materialidade do teatro que em algum momento vai ou não parar num acervo que é o que a gente vai conversar por aí. E como a minha trajetória, primeiro tem a ver que eu adoro Brasília. Eu Nasci aqui, eu adoro essa cidade. E quando jovem eu participei de grupos de teatro amador, eu morava no Guará, fazia parte ali de um grupo. Então o teatro foi sempre permeando assim a minha construção mesmo educacional e quando eu entrei na UnB pro curso de história, eu ficava meio que namorando, sabe, as coisas ali na nas artes cênicas e o que é muito legal na UnB é que a gente pode transitar por vários cursos. Essa ideia “Darcyneana” ali dessa coisa da gente circular pelos conhecimentos pela pluralidade, nessa visão humanística, né da da Educação também me favoreceu esse fluxo para ir para o IDA. Então, eu andei muito tempo ali pelo departamento de artes no geral e ao me formar eu fui trabalhar no Correio Braziliense, na parte de acervos, e lá eu fui trabalhar com arquivistas, bibliotecários, museólogos, jornalista. Essa formação multidisciplinar também para construção da notícia para a gente poder pensar na fotografia, no texto, na edição, na composição com vários olhares e tendo respaldo em Fontes documentais que garantiam a qualidade da informação, foram construindo em mim uma admiração muito grande assim. Porque antes eu era uma usuária do documento enquanto historiadora, quando eu passo a trabalhar no acervo, eu passo a ser a cuidadora, que estou ali no mundo da salvaguarda, né fazendo parte ali da organização da preservação disso. E aí eu juntei amores, né assim. Acervos, teatro, que eu já namorava, história, e aí eu vou começar a pesquisar, olhar isso dentro do próprio acervo do Correio Braziliense, começo a ficar achando interessante ali umas possibilidades e resolvo ir para o mestrado na história. E o mestrado na história é me mostra que os documentos são escassos ou, pelo menos, para encontrá-los seria muito difícil.
Elizângela: E aí essa pergunta teve que ficar um pouquinho congelada, eu faço um rascunho desse texto desse artigo que vocês comentaram, o nome do artigo é “Teatro brasiliense é uma história documentada?” É uma pergunta, e é desse livro “Histórias do teatro brasiliense” foi um livrinho publicado em 2004 e foi muito bacana, porque tem a colaboração de um monte de gente e foi organizado pelo Professor Fernando Villar e pelo seu aluno na época, Eliezer Carvalho. E aí nesse exercício eu já estava entrando para o mestrado e resolvo então, com a ausência de documentos e de acervos, usar o meu mestrado para fazer entrevistas. Então eu fui para o mundo da história oral para pensar a memória, a história daqueles que me contavam sobre o teatro. E, à medida que as pessoas me contavam sobre o teatro, eu ia mapeando onde poderiam estar os documentos. E continuando trabalhando no Correio, eu também fui mapeando essa documentação. E aí o resultado desta fermentação gerou a tese de doutorado contando a história do teatro no Distrito Federal a partir das matérias jornalísticas do Correio Braziliense e do Jornal de Brasília como uma fonte documental mesmo. Então entrecruzei minha trajetória pessoal um pouco com a trajetória da pesquisa, né?
Leyberson: curioso que a gente chegou ao seu tema, né? A partir de um anal de seminário que teve em 2012 e a gente leu ali. Curioso até as palavras que você utiliza para falar da situação, fala até no contexto precário dos acervos e documentos do teatro aqui em Brasília, isso em 2012. Aí a pergunta que a gente quer fazer em 2024 é: como tá isso o status-quo, teve mudança? Teve política pública? Você conta algumas coisas que eu não quero adiantar, mas que me preocupam. Porque eu falei “pô, se ela falou de um ambiente onde tem um acervo, esse ambiente não existe mais”, então eu fiquei muito preocupado, muito curioso para saber o momento de hoje
Elizângela: eu também fico bem preocupada, eu faço coro à sua preocupação. Eu posso responder, sim, houve mudança no sentido de que mesmo que tímido as pessoas aos poucos vão comentando o tema vão falando a respeito. Por exemplo, a Abrace, que é a Associação Brasileira de Artes Cênicas, ela tem um GT que trabalha com a história do teatro do Brasil, e já tem assim uns 5 anos mais ou menos que nesse grupo eles vêm falando que a história do teatro brasileiro não se resume ao Rio de Janeiro e São Paulo, mas que tem 27 unidades federativas que precisam ser exploradas. E a cada ano a participação dos Estados tem aumentado muito, e Brasília também tem participado disso. Então, assim, é tímido, mas falar sobre o assunto favorece também que as pessoas fiquem um pouco mais preocupadas sobre isso. Agora do ponto de vista da dinâmica pública não, não houve mudança, continua com a ausência de política pública, continua com as dificuldades clássicas, né? Assim que vai desde a ausência de um quantitativo de arquivistas para esses acervos, de servidores públicos do governo do Distrito Federal preparados para isso, mas enfim, a gente também pode falar um pouquinho sobre o arquivo privado, o arquivo público para a gente entender como que monta esse mosaico e para onde a gente pode correr a depender do nosso molde de pesquisa
Juliana: Quero fazer uma pergunta para quem é bem leigo do assunto. No senso comum a gente pensa em arquivo e fala em documento a gente pensa em papel. E aí eu quero te perguntar se quando você tá falando de documento desses parceiros teatrais, a gente tá falando de papel. E, pensando em todos esses acervos que você mapeou, sejam públicos ou privados, que você encontrou que te surpreendeu ou te mobilizou mais
Elizângela: Na história, a gente aprende que documento não é só papel e isso é um conceito meio tranquilo hoje, isso não é nada inovador, mas é importante essa sua pergunta porque nem sempre foi assim. De maneira factual, em 1929 com a Escola dos Annales é que começam a debater: documento é só papel? É só aquilo que está no cartório? Só aquilo que tem um símbolo real? E a partir daí vem Os Diários, as cartas, as correspondências, as fotografias, o surgimento de outras fontes como informações do passado. E como o historiador é essa dinâmica de uma cabeça no tempo presente, observando um tempo passado, e é essa dinâmica da construção das fontes, então isso foi se alargando. Quando a gente pensa em teatro a coisa fica um pouco maior porque a própria palavra teatro ela é polissêmica. Quando eu falo no teatro, eu tô falando do prédio? Eu tô falando do espaço da 508 Sul? Eu tô falando da peça em si? Eu tô falando dos artistas? Eu tô falando da do figurino? Eu tô falando do cenário? Eu tô falando do texto? Porque poderia ser também né da dramaturgia do teatro. Então veja você tem a polissemia da palavra teatro e essa compreensão complexa e dinâmica sobre a constituição das fontes documentais.
Elizângela: Então quando a gente fala em acervo de teatro, a gente tá falando que o acervo ele pode aglutinar todas essas complexidades juntas, aí vai depender da especificidade. Se é um museu, provavelmente vai ter peças tridimensionais, se é um arquivo é geralmente vai ter uma predominância de papel e fotografia, se é uma biblioteca, vai ter predominância de obras e multimeios como vídeos, DVDs, CDs, áudios, né? Então esse suporte da informação vai ser entre cruzar com essa linguagem do teatro, que é múltipla, e, se a gente ampliar então para as artes, aí fica mais múltipla ainda, né? Porque entre escultura, pintura, as partituras musicais. Então, para concluir, aqui em Brasília, não existe um acervo no sentido que a gente vá nele e fala “uau vou encontrar aqui os elementos principais da história do teatro do DF”. Não existe este local único, por isso que vai depender do que você tá querendo para você poder se mover neste espaço do quadradinho para poder localizar ou não essa materialidade desse patrimônio imaterial que é o teatro, né?
Ju: E a outra pergunta do que você encontrou, o que mais te surpreendeu, mais te impactou?
Elizângela: Olha me impacta sempre às dificuldades, eu acho que depois a gente pode contar é para não ficar um podcast de chorumelas, né? A gente só reclama, só chorando, mas vamos falar da parte, boa, bonita, uma que me mobilizou. Quando eu estava fazendo o mestrado, eu tive a oportunidade de caminhar no acervo da Dulcina de Moraes. E esse acervo tem tanta história, porque todo mundo que entra que é organizar esse acervo, mas nessa época ali por volta do ano 2000 eram uma comunidade mais pequenininha. Quem tinha chave era uma pessoa específica, tipo esse negócio meio caseiro. E a senhora, Celeste, eu tô falando aqui alguém com certeza conhecerá porque Celeste é uma servidora de anos naquela casa, ela abriu para mim o acervo pela primeira vez e eu entrando sozinha e vendo a materialidade do que eu tinha lido no livro do Sérgio Viotti que é a memória da Dulcina, aquilo me tocou a alma de uma maneira que eu olhava pelos lugares e eu me lembrava dos trechos do livro e eu me emocionava muito. E ela me mostrou duas, ela chamou a atenção dos meus olhos que estavam tentando escanear tudo, e ela falou “olha aqui, que bonito”. Ela tinha coleção de caixas de fósforos, sabonete e de cílios. E aí eu fui olhar e em especial tinha um sabonete que eu até uso a imagem na minha dissertação de mestrado na parte que tem a Dulcina é uma caixinha, e ela pega o sabonete e fala “sente esse cheiro”, aí eu senti. Ela: “era esse cheiro que existia nas escadas da faculdade Dulcina quando ela chegava e ia dar aula”. Então a materialidade da presença da Dulcina pelo cheiro tocou, meu coração é uma das histórias que eu acho bonita assim da gente contar da parte documental das coisas.
Leyberson: Eu vou deixar até a minha pergunta que eu ia fazer para depois porque eu quero ligar para duas perguntas sobre a Dulcina. Primeiro que eu falei da preocupação e a preocupação relacionada ao histórico da Dulcina porque até a própria escola tá fechada, que fica no Conic e tudo mais. Então a questão é assim: o que aconteceu com esse acervo? Onde que ele fica? Como ele é tratado? Mas antes disso tentar explicar para a gente assim, resumido assim for possível, quem é Dulcina para o Teatro e quem é Dulcina para Brasília, a importância dessa pessoa
Elizângela: Eu não sei se eu vou dar conta de contar essa complexidade toda porque senão a gente é capaz de pegar uma outra estrada, exatamente, mas eu gosto muito de lembrar que Dulcina, uma mulher é importante, esse dado neste momento, uma mulher em 1960. Ela chega aqui nesta cidade que era pura terra vermelha com uma malinha na mão vindo do Rio de Janeiro, que é aquele glamour absoluto do mundo do teatro que até hoje é forte, né? Inclusive ela tinha um teatro, o Teatro dulcina de Moraes existe ainda no Rio de Janeiro, ela era dona né com o marido dela, o Odilon ela era uma atriz brasileira renomada
Enxerto: Dizem que o teatro é uma cachaça, mas eu não creio, nunca inventaram uma cachaça tão boa assim
Elizângela: Para o Brasil, ela inclusive é uma das que vai pedir a carteira de profissionalização dos atores e das atrizes para serem reconhecidos como profissionais da arte, porque antigamente era a mesma carteirinha das prostitutas, então ela queria essa distinção entre as áreas. E ela sai do Rio de Janeiro, vem para Brasília com essa mala, chega aqui, ela tinha, se eu não me engano, 66 anos, e ela fala: é aqui que eu vou continuar a fazer teatro
Enxerto: Dulcina, por que você preferiu morar em Brasília? Ah, porque Brasília é maravilhosa. Além disso. O mais importante é que ele é centro radiador da Nação, não é daqui desta maravilha, você vai ver. Que beleza! Olha esse horizonte.
Elizângela: Imagina isso, gente, numa cidade que não tinha nada a oferecer para a grandiosidade da trajetória dela, e ela topa isso. Lógico, aí tem uma história grandona, tem a própria construção do CONIC, e a construção do CONIC a faculdade lá dentro, que é um desenho do Oscar Niemeyer. Tem uma forma como o livro diz que ela escolheu: ela vivia andando pelos Ministérios, pela Esplanada dos Ministérios pedindo um lugar para ter um teatro e ela chega numa sala de uma dessas figuras grandes assim que tinha a capacidade e o poder da caneta e de tanto ela encheu o saco ele vira e fala assim “tá, pelo amor de Deus escolhe aí onde você quer” e ela era muito mística. Então ela tampa os olhos com as unhas sempre grandes e muito bem feitas disso lá o livro, o Sérgio Viotti é maravilhoso na descrição, que ela tanto os olhos e com a outra mão com o dedo bem é assim com as unhas bem grandes, ela vai até mapa, sem ver, e aperta no CONIC e é ali que então nasce a Faculdade Dulcina no sentido simbólico, né, que ela ganha aquele espaço e aí tem a prospecção, O desenho do Oscar Niemeyer e as vendas, né? Porque ela vendeu joias, vendeu tudo o que ela tinha, ela termina a vida dela muito pobre assim. E, se eu não me engano, eu posso estar falando besteira, mas eu acho que ela morava, ela ficou um tempo morando até no Valparaíso de favor porque ela realmente tudo o que ela tinha, ela colocou naquele prédio, fechado hoje
Leyberson: e o acervo como é que tá?
Elizângela: O acervo, cada vez que eu tenho notícias dele, eu… me toca assim, eu falo ok. Mas é porque entra um grupo, sempre com muita boa vontade em querer fazer aquilo renascer. Então, seja para pelas iniciativas públicas, seja pelas iniciativas privadas, o fato é que ninguém nunca sentou com uma definitiva solução para aquele local porque tá cheio de dívidas. Então tem uma mistura aí do público e do privado e, enquanto não se define isso, todo e qualquer ação é um paliativo. E é sempre um paliativo por pessoas de muita boa vontade que levam aquilo na melhora da boa-fé, mas sem condições de dar um tratamento técnico com o início, meio e fim e abertura para a sociedade. Então o acervo da Dulcina, ele já foi do quarto andar, ele já mudou para o segundo, ele já foi para trás do palco para a parte, né do subsolo. E por que eu tô falando desses espaços? Porque a gente tem que entender que toda vez que um acervo é mudado de um lugar, você pode estar danificando aquele material. Então mudar um acervo de lugar não é algo feito igual a gente tira uma cadeira da nossa cozinha porque a gente está batendo a perna ali. Embora, às vezes, no acervo tenha uma cadeira, mas a cadeira de um acervo não é igual à cadeira da nossa casa. Então tem que ter todo um cuidado para movimentação disso. De fato ali ter uma preciosidade do teatro brasileiro, que hoje eu não sei dizer começar porque tá tudo fechado
Enxerto: o acervo de Dulcina de Moraes é guardado pela Fundação Brasileira de Teatro, que foi criada por ela e pelo esposo de Odilon Azevedo em 1955. Em meio a dívidas, o teatro e a faculdade de arte Dulcina de Moraes chegaram a correr risco de ser leiloados. O leilão foi cancelado em setembro do ano passado a pedido da Fundação Brasileira de Teatro, que agora faça um inventário das obras da artista também no ano passado em dezembro foi sancionada a Lei Federal 14.743 que escreve o nome de dulcina de Moraes no livro dos herois e heroínas da Pátria.
Elizângela: Tem os vestidos das peças dela, todos os vestidos, já fizeram até uma exposição com os vestidos. Mas eu também já fico olhando, como foi feita essa exposição? Pegou esse material? Guardou, não guardou? Enfim, mas é isso que eu tô falando, é sempre com uma boa intenção para captar recurso ou não, mas eu nunca sei de fato as consequências sobre o ponto de vista documental, e por favor não me vejam aqui como uma defensora do documento que tem que estar preservado e guardado sem o uso e sem o olhar do público, não é isso. Exatamente para proporcionar o acesso ao público é esse zelo anterior, porque eu também acho que não adianta nada a gente ter um documento muito bem guardado sem acesso. Para mim um acesso ele vem em primeiro lugar porque senão para que você guarda isso? Porque é boa parte do patrimônio brasileiro, é um monte de lugar onde as pessoas não acessam
Juliana: sobre esse tema do acesso, no que a gente leu e que você mapeia principalmente eu acho que dos acervos particulares, eles não estão disponíveis ao público. E aí por que isso é uma questão e que precisa até em termos de como deixar isso a abertura para as pessoas visitarem, o que precisa ser feito para as pessoas terem acesso a esse material?
Elizângela: A gente tem, né de maneira grosseira, né? Os arquivos privados e os públicos. Vamos nos concentrar no privado agora que foi a sua fala inicial, o privado ele pode ser abrir em dois subgrupos, um é o dos particulares e o outro das instituições. Então, os particulares são das pessoas que vão guardando na própria casa à medida que elas vão fazendo suas peças de teatro, elas guardam isso por diversos motivos. Pode ser para prestar conta porque ela pegou uma grana no FAC, então ela precisa de documentos para poder fazer prestação de contas então ela vai lá e pega uma gaveta, um armário da casa dela, e todas as peças que ela vai fazendo ela vai ali alimentando e ao final disso, ela tem um conjunto documental com a trajetória particular dela. Ou às vezes de um grupo que existe há muitos anos. Como, por exemplo, o grupo Udi Grudi, que existe há 40, 50 anos nessa cidade, o Esquadrão da vida que é o Ary Para-raios faleceu, mas a Maíra, filha dele, continua aí levando legado e tem esse material guardado. Então são casos de particulares. Ou então eu poderia falar do João Antônio. O João Antônio é um artista que ele chegou a contratar arquivistas, bibliotecários e museólogos só para tratar o que tinha na casa dele. Então o material organizado é uma história do teatro do Distrito Federal ali com panfletos, cartazes, mas é um acervo particular de interesse público, isso é importante a gente deixar claro. Que é privado, particular e de interesse público. Porque quem é um pesquisador e tem acesso a essas preciosidades fica muito feliz. Então eu poderia dizer que em Brasília tem muitos focos porque, eu não sei agora 2024, mas em 2020 tinham cadastrados 4 mil agentes culturais na Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Se a gente pensar que cada um daqueles agentes tem documento guardado, a gente tá falando aí que são 4 mil possibilidades de pontos focais, né de documentos assim que a gente teria que dar uma olhada. Mas tá, não indo tanto para esse lado, indo para as instituições.
Elizângela: Nas instituições privadas aqui em Brasília, a gente tem o acervo da Dulcina de Moraes que a gente acabou de falar aqui e os dois outros dos privados, que é o acervo do Correio Braziliense e o acervo do Jornal de Brasília. Eles são especificamente de teatro? Não, mas eles cobrem a área cultural da cidade e dentro da área cultural da cidade o teatro faz parte. E aí as reportagens que apresentam os atores, as atrizes, as peças, a dinâmica, fenômeno teatral tão lá registrados, e foi isso também que houve o meu mapeamento, então esse eu posso falar. A gente tem no Correio Braziliense 7.823 registros jornalísticos sobre teatro. E no Jornal de Brasília, a gente tem 27.641 registros jornalísticos sobre teatro. Para acessar esses acervos, como que se faz? Tem que entrar em contato com as instituições e pedir permissão. No Correio Braziliense, tem cobrado, não necessariamente, acho que para pesquisa, mas, por exemplo, para cada reportagem que você quer você paga, e se for as fotografias também, eles devem ter uma tabela orientando isso. E no Jornal de Brasília, se você não souber a data, você vai ficar ali olhando, folheando bastante ou pode fazer uso de uma obra que a professora Ana Abreu e eu fizemos que é um inventário de todas essas reportagens, onde você vai lá encontra a data e vai direto neste jornal para facilitar a vida e a pesquisa, como seja. Então do mundo privado aqui em Brasília, eu falaria então que a gente tem os particulares de interesse público, o acervo da Dulcina de Moraes, o centro de documentação do Correio Braziliense e o acervo do Jornal de Brasília.
Julliana: Só complementar. Dos particulares que você conversou, eles têm desejo de abrir os acessos dele, de ter outro espaço para colocar ou uma organização e se sim o que que falta para isso?
Elizângela: Eu acho, por exemplo, o João Antônio, o material dele existe é de ótima qualidade e já tá organizado, mas para quem ele vai doar, entendeu? Não existe em Brasília um local que receba. Ele já doou uma parte para a UnB, ele já tentou doar uma parte para o Arquivo Público do Distrito Federal, mas o Arquivo Público não recebe porque tem que ter uma política específica para isso. O B de Paiva, que é um artista que trabalhou também ao lado da Dulcina de Moraes por muitos anos, faleceu recentemente, agora no Ceará
Enxerto: não se pode dar educação simplesmente através de aprender geografia, matemática, português, não. É preciso cultura uma língua se fala com as palavras que se expressam, é necessário que todas as crianças possam através do teatro aprenderem a falar o português, aprender a descobrir o mistério do significado do passado de um povo
Elizângela: Mas é importante que se diga que o B de Paiva tinha 5 km de documento sobre teatro. Gente, é importante a gente entender, eu aprendi com os arquivistas que a gente mede documento por metro. Eles pegam os documentos assim, empilham um do ladinho do outro e vão com fita e vão medindo. Então você falar esse acervo tem 20 metros lineares, este acervo tem isso aqui, então você vai falando ali os metros lineares. Gente, o B de Paiva tinha 5 km linear de documentação sobre o teatro brasileiro e do Distrito Federal. Essa documentação até 2020 que eu saiba ficou na chácara de um amigo que ofertou para ele um espaço para colocar lá. Quando eu entrevistei o B de Paiva em 2004, ele morava em Luziânia. E por que ele foi parar em Luziânia? Porque o aluguel era mais barato, porque a casa dele tinha que ser muito grande para guardar esse acervo. Ele ia para onde cabe o acervo. Então você entrava, a sala era cheia, as fotografias são interessantíssimas, o corredor da casa, para você chegar na cozinha, você passava por todos os personagens do teatro brasileiro. E aí ele tinha um amor muito grande por essa papelada, vamos dizer assim. Só que a esposa dele é Lurdinha, vi aquilo como trabalho para ela, porque era ela que limpavam que mantinha. Vou criticar Lurdinha? De jeito nenhum, eu entendo perfeitamente Lurdinha. Imagina eu ter que passar por um arquivo para ir cozinhar um ovo, né? Essa era a vida. À medida que eles vão envelhecendo as casas vão ficando menores, ele vem para o Guará, enfim até ele para o Ceará, aí ofertam esse lugar. Então imagina toda essa documentação numa chácara, num depósito. Espero eu que coberta com uma lona, não sei dizer. Então assim o que falta, né? Política pública mesmo, espaço. Qual é a instituição que receberia? Para mim tem que vir do governo do Distrito Federal. Sendo do governo do Distrito Federal, quem tem que estar à frente disso, e a secretaria de cultura, que hoje é a secretaria de cultura e economia criativa, né? Então as pessoas daquele grupo têm que sentar e conversar com os arquivistas também do Governo do Distrito Federal do próprio quadro, inclusive, e pensar, junto com os artistas, que caminho pode ser dado para essa documentação. Porque a do João Antônio, por exemplo, voltando a ele, se ele quiser muito doar, como B de Paiva tentou doar antes de ir para o Ceará, ele não consegue. A gente tem que agradecer muitas pessoas, que guardam em casa, que guardam com esse carinho porque se não fosse ela nós não teríamos nem vestígios disso. Por outro lado. Como é que a gente acessa? Você tem que conhecer a pessoa, a pessoa tem que deixar você entrar na casa dela. É delicado, é intimidade da pessoa. Então, eu falo sempre que é um acervo particular de interesse público, porque é nessa frase “interesse público” que é o meu v está o segredo para a sociedade civil cobrar uma solução ou construir essa solução junto ao governo do Distrito Federal.
Leyberson: Volto aqui é uma questão da preocupação com o tempo das coisas, com a memória e tudo mais. A gente tá fazendo uma temporada sobre álbum de recordações, então a gente imagina que a gente vai ter ali um livro de fotografias, contando um pouco sobre o que é Brasília. E quando a gente já sabe a importância do Acervo do teatro ok, mas para quem tá convencer e sensibilizar o ente público. Por que o teatro é importante na história de uma cidade, né?
Eu penso assim primeiro a importância do teatro. Engraçado, eu nem tinha pensado tanto na Dulcina, mas ela hoje está presente aqui na fala. Mas ela, no livro do Sérgio filhote que conta a biografia dela, diz que a gente não sabe tanto sobre teatro porque a gente não tem a cada esquina um palquinho para as crianças poderem brincar. Porque ela diz que num local onde tem futebol, sempre deveria ter do lado um pequeno palco, porque enquanto alguém estivesse jogando bola estariam as crianças ali brincando no palco e essas coisas seriam naturais na nossa cultura de reconhecer esse espaço da interpretação, de contar histórias. Porque a vida é isso, né, gente, é um eterno contar de histórias. A gente mantém as pessoas vivas enquanto a gente conta história sobre elas, né? Porque todos nós somos finitos, todos nós morreremos, mas, dentro do pedacinho que a gente vai espalhando na vida de muita gente, a gente espera que esse pedacinho se reverbere em histórias contadas. Agora imagina o teatro com a potência que é de contar a história. De contar uma história já ali da dramaturgia, do próprio corpo do ator e da atriz, da perspectiva psicológica do personagem, se colocar no lugar do outro é um exercício que a gente poderia levar para empatia, mas que para mim transcende. Eu acho que se a nossa sociedade do Século 21, tivesse isso naturalizado, se colocasse no lugar do outro, escutar, contar história, a gente teria um grau de comunhão e de percepção de que nós somos iguais e muitas dimensões, sabe? Então eu acho que o teatro tem essa potência, então fazer teatro para mim é lembrar no corpo e na tridimensão em movimento, sem as telas, um momento que é único. Porque se você for numa peça no sábado e voltar nela no domingo é outra peça, porque a interpretação pode estar diferente, o público também cria uma química diferente no ambiente, é impressionante, mas é uma arte efêmera. Se você viu, viu. Você pode até filmar, mas a filmagem de um teatro é o teatro ou é o primo do cinema? Eu não sei, não vou entrar nesse debate que eu vou ter algumas pessoas que vão brigar comigo, mas o momento de uma peça de teatro é muito especial. E aí eu pensando nessa imaterialidade como também ocorre com a dança, a apresentação de uma dança, ou nas expressões dos saberes, dos coletivos é capturar isso em materialidade é sempre fragmento, mas se você tem pelo menos esses fragmentos, a gente tá no coletivo, na sociedade brasileira, na sociedade brasileira, construindo o nosso caráter coletivo, a nossa faceta artística e cultural. Uma cidade que não se reconhece nos seus movimentos teatrais porque desconhece, ela desconhece não só o atual porque muitos não vão ao teatro, como ela desconhece esses atores e essas atrizes todas. A gente falou muito da Dulcina porque ela ficou famosa, mas quantos outros nomes foram importantes para a construção desse teatro? Uma das coisas que aprendi nesses levantamentos documentais, eu achei as 16 primeiras mulheres que apresentaram teatro em Brasília na década de 60, e os 15 primeiros rapazes. A gente pode não conhecê-los, saber pouco ou nada deles, mas eu os reverencio como pessoas completamente importantes para chegarmos até hoje nesse 2024 em que a gente está falando de teatro. Eles estão presentes entre nós mesmo que a gente não tenha essa consciência porque em Brasília não se conta história sobre o teatro da cidade, mas ao contar histórias a gente tem que pensar neles também
Enxerto: Se você ficou curioso para saber quem são essas pessoas que marcaram a história do teatro de Brasília, o nome de todos eles está disponível no site dazumana.com
Juliana: queria aproveitar para falar mais um pouquinho do inventário do Correio Braziliense. Entender o porquê você decidiu fazer o inventário desse jornal e como foi o processo? Porque da minha cabeça estou chutando não teria lá uma etiquetinha cultura o teatro então Imagino que foi um trabalho árduo para conseguir mapear tudo.
Elizângela: Sim. Assim, o que está publicado, o inventário publicado ou do Jornal de Brasília, mas ele existe só porque existe o do Correio Braziliense, a experiência enquanto experiência metodológica. Do Correio Braziliense, foi feito em 2006, ele foi finalizado. Uma equipe da qual eu fazia parte pegava jornal por jornal, porque a gente fazia parte do centro de documentação do Correio Braziliense e um dos Servidores que ainda tá lá que é o Chiquinho, o Francisco, ele também era muito empenhado no acervo. A gente fazia muitos dossiês sobre a cidade, porque na hora das coberturas jornalísticas esses dossiês precisavam estar prontos, organizados, na hora de fazer os cadernos especiais, na celebração do aniversário de Brasília, então a gente ia adiantando as coisas. Uma dessas a gente falou “vamos adiantar sobre o teatro” e a gente resolveu pegar desde a capa de 1960, que foi quando surgiu o jornal, que é 21 de abril de 1960, igual à cidade, e a gente foi página por página. E como você disse, Juliana, antes, nessa época, a diagramação do jornal não ajudava muito. Hoje em dia é bonitinho, Brasil, internacional, cultura. Mas isso também é um trabalho lindo, né? Se a gente for pensar a transformação do design dos jornais, como isso tem a ver com a cultura também. Mas enfim a gente foi pegando folha por folha e retirando essas informações. Então até afinar a ficha também dessas informações, o Francisco foi muito importante nesse processo e as outras pessoas também, mas a gente tá falando aí de 15 pessoas folheando ali por três anos para poder chegar a isso. E quando a gente foi para o Jornal de Brasília, aí eu já era professora da UnB. Fiz um projeto de iniciação científica com bolsa do CNPq, a professora Ana Lúcia também entrou nessa pegada e a gente conseguiu um edital da FAP DF. E aí com essa grana do edital da FAP DF que a gente conseguiu colocar aí ao todo quase 50 pessoas, porque montou uma base, era uma base para tá no ar. O domínio existe, mas hoje ela tá fora do ar. A gente tá tentando resolver tecnologicamente isso. Então é uma base de dados também construída, esperamos que ela volte ao ar em breve, mas ela existe. Então assim, você vê que a iniciativa enquanto Universidade, ela vai acontecendo, mas é difícil porque é um pedacinho dentro de um montão que tem que ser feito sob o ponto de vista de política pública
Leyberson: falando aí da questão de baixar do PDF e tudo mais, trago minha última pergunta, que é a questão da digitalização. Eu não quero jogar na tecnologia soluções fáceis, mas como que você vê a questão do nosso próprio processo de fiscalização do Acervo do teatro que já é tão difícil acessar o imagine para digitalizar. Como acessar algum lugar que pode estar sob gotas de vazamento e como digitalizá-lo antes que ele se perca materialmente e como ele pode coexistir com o físico? Imagino que um vestido da Dulcina, para pegar um exemplo, seja muito mais importante visualmente e às vezes até tatilmente do que simplesmente estar digitalizado em foto, 3D, que seja. Queria que você trouxesse um apanhado.
Elizângela: Vamos entrar nos acervos públicos, me permita assim só falar um pouco do público e depois a gente entra na digitalização, vai fazer sentido o que eu vou falar. Então assim, enquanto acervos públicos, a gente pode falar que tem o governo do Distrito Federal, e aí lá dentro dele tem um Arquivo Público e tem também o acervo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Tem ainda dentro desse público, mas já não do GDF, os que tem dentro da UnB que eu acho que vale a pena comentar um pouquinho, e do, não é a sede central, mas a gente tem aqui em Brasília, o arquivo nacional que fica no Museu da Imprensa, ali tem peças teatrais censuradas pela ditadura militar, a lista tem mais de 251 nomes com peças que foram censuradas aqui no Distrito Federal. Posto isso, vamos agora voltar. O Arquivo Público do Distrito Federal, ele tem lá nas documentações daquilo que um dia se chamou Fundação Cultural do Distrito Federal (FCDF), esse material lá que é da década de 70 de 80, ele está digitalizado. Ele tem físico em caixinhas de arquivo que a gente não acessa como público, tem que ter um pedido especial para entrar no acervo, mas a priori o público não acessa, mas tem a sala do usuário que são vários computadores que ficam espalhados, eles te dão acesso à pasta FCDF e você vai ficar brincando ali de achar o que você quer. Por quê? Porque está digitalizado está identificado, mas não está tratado para a busca do usuário. Então você não consegue chegar lá e colocar, por exemplo “Bené 70”, foi uma pessoa muito importante, foi um produtor de teatro muito importante aqui em Brasília, porque só o documento está digitalizado, então é aquele monte de arquivo digitalizado. Se você me perguntar “Elizângela, você prefere achar ele no papel ou ele no digital? Eu te diria que é mais fácil achar ele no papel do que no digital por causa da forma como eles ficam organizados nas caixinhas, mas ele já está digitalizado. Se fizesse um tratamento da informação junto com a digitalização, aí me parece que tem um atendimento ao acesso, que é para mim o Ponto Central do direito do cidadão. Não adianta existir se não tiver acesso. Mas então quer dizer que os arquivistas de lá não trabalharam em direito, fizeram pela metade Não sei dizer, eu nem iria para esse caminho da crucificação do Servidor Público, porque quem conhece a máquina por dentro sabia que existem os excelentes servidores que carregam a máquina nas costas e que provavelmente só existe isso digitalizado porque alguém topou digitalizar, pouquinho que seja. Agora é possível fazer isso de maneira sistemática e séria? É. Já foi tentado. Que eu saiba não. Então eu vou repetir, serei enfadonha, mas não vejo nenhum sentido em digitalizar só por digitalizar, porque você vai migrar o problema para a nuvem, na verdade, todo mundo fala “essa sala tá cheia de documento, vamos digitar”, mas aí você não higieniza a documentação, não trata a documentação, não cuida dela primeiro. Você pega ela e digitaliza, sabe o que você fez? Você pegou aquela bagunça que estava na sua frente e jogou para a nuvem. Agora você tem a bagunça física e a bagunça digital. Então, para você chegar a uma excelência da digitalização, você primeiro trata o documento material. Se ele tiver bem tratado, eu vou te dizer, a digitalização é um pulo, é muito rápido, hoje em dia as máquinas são maravilhosas, e as bases de dados também poderão ler e permitir o acesso público. E tem outro, tem lei, eu já vi aí uns debates de senadores e deputados propondo que, uma vez digitalizado o documento, que ele seja eliminado. Agora pensa comigo, você deleta o original e fica com a cópia só porque ela tá digitalizada? Então Falta aí um debate sério de pessoas sérias que pensam sobre a memória do patrimônio nacional
Leyberson: Fiquei com uma questão até esperançosa, que Brasília você entre aspas nova, já tem um tempo do tratamento físico, para que, na hora de digitalizar, ele não se disfarça digitalização. Não tinha parado para pensar, né?
Elizângela: Isso é verdade, a gente por ser jovenzinhos entre aspas a gente ainda tem essa documentação ainda em boa preservação entre aspas, mas a gente já entrou na era da produção onde o original já é digital que a gente chama de Nato digital, ele nasce. Que é o pessoal que trabalha no serviço público vai entender que é do SEI, que é o sistema eletrônico de informação onde você já põe o documento lá, então hoje em dia você já prestar conta via SEI, você ganha o dinheiro do FAC, você vai receber lá uma senha para você assinar o documento já no SEI. Esse SEI existe desde 2016 e, eu vou te dizer, para encontrar a documentação é um exercício, e um exercício muito ruim. Então para você ver os documentos Nato digitais estão nascendo com problemas, e o que é pior, a gente não tem o em papelinho para poder localizar, a gente já vai ter que arrumar a bagunça diretamente na nuvem. Então vai ter exigência aí do pessoal de TI e do pessoal de acervos, historiadores e arquivistas e bibliotecários vão ter que dar as mãos para poder olhar para isso e falar “como é que a gente resolve?” Tô aqui com medo de ficar aparecendo essas pessoas contra tecnologia, não é isso. Eu tô pedindo é a responsabilidade, o comprometimento com a memória e com a história ao ter tecnologia digital no meio. Para mim pode estar em papel, pode estar no digital, mas tem que estar preparada, tratada para o acesso público, para a sociedade.
Juliana: com essas últimas palavras bem impactantes, a gente chega ao final do programa, mas eu vou agradecer a participação da Elizângela e deixar o microfone aberto. Se tiver alguma coisa que você queira comentar que a gente não perguntou
Elizângela: Não, eu acho que a gente foi falando sobre um monte de coisa, né? Assim se a gente fosse desenhar cada um desses acervos também chegariam em outros, aí vira um programa né? Mas eu em primeiro lugar, eu quero agradecer, agradecer vocês pelo convite, pela gentileza, pela paciência para poder organizar a agenda, para poder afinar as datas para poder conduzir dessa maneira tão gentil e tão generosa, que vocês lançam e deixam a gente construir o pensamento. Parabéns para vocês por vocês terem essa construção e terem essa preocupação. Então parabéns e obrigada. Eu terminaria assim dizendo talvez meio que o óbvio. Nesse mundo, alguns vão dizer da decolonialidade ou daquilo que tem importância no mundo de hoje é dizer: existe teatro no Distrito Federal. A gente precisa lembrar disso e a gente precisa ser dono disso, produzir sobre isso para que a gente conheça e se reconheça não só no agora, mas nas travessias do tempo, porque a gente é finito, né? E a gente precisa contar a história e contar história é a construção de um povo, é a construção de uma coletividade, é a construção de Brasília. Brasília existe no mapa bonita, linda, maravilhosa com as suas asas, mas ela também existe no imaginário, na imaginação e na memória porque são travessias distintas, mas é nessa química e nessa teia complexa que se dá a história da cidade também. Então não dá para a gente falar da história de Brasília sem a gente pensar nesse pedaço tão bonito que é chamado teatro, que é esse patrimônio é imaterial, efêmero, vulnerável e, ao mesmo tempo, potente, resistente e que gera materialidade documental. E pede por isso que as pessoas que recebam essas materialidades nas mãos, tenham carinho e compreendam o legado que estão recebendo
Leyberson: Muito obrigada, Elizângela. A gente fecha esse episódio com a responsabilidade de tentar manter a memória viva do que a gente debateu aqui e é isso, e também ter aquele espacinho físico ali do teatro ao lado do campo de futebol, como disse Dulcina, aqui para Brasília. Então a gente agradece muito a sua colaboração com essa conversa de hoje e a gente vai encerrar o episódio avisando que o Dazumana tá lá no YouTube, se ainda existir em 2049, e em várias plataformas de Podcast: Spotify, Google podcast e iTunes. Daqui a 15 dias a gente vai voltar com mais um novo episódio. Se quiserem enviar sugestões, dicas de onde tem acervo para a Elizângela ou para a gente aqui no voz@dazumanascom
Juliana: este projeto é feito com o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, governo do Distrito Federal e realização da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal. É isso, até a próxima. Dazumana, a ciência sem jaleco.
00:00 - BLOCO 1: CONCEITOS INICIAIS
Teatro como expressão Escassez Documento é papel? Polissemia do teatro
13:31 - BLOCO 2: IMATERIALIDADE VIRA MATERIALIDADE
Dulcina de Moraes, o teatro e o acervo Políticas de preservação Acesso ao público Acervos privados com interesse público
31:21 - BLOCO 2: IMATERIALIDADE VIRA MATERIALIDADE
Relevância do teatro Inventários do Correio Braziliense e do Jornal de Brasília Tecnologia e acervos
Tese “Teatro no Distrito Federal: histórias a partir de notícias do Correio Braziliense e do Jornal de Brasília (1960-1999)” de Elizângela Carrijo
http://www.realp.unb.br/jspui/handle/10482/39406
Livro “Histórias do Teatro Brasiliense” de Fernando Pinheiro Villar
https://www.estantevirtual.com.br/livro/historias-do-teatro-brasiliense-157-6563-000
Enxerto 1 (comentário):
Fundação Brasileira de Teatro - JORNAL HOJE | Acervo de Dulcina de Moraes começa a ser recuperado ( https://youtu.be/rtLjELOqfyI )
Enxerto 2 (comentário):
Josuel Junior - Entrevista da atriz Dulcina de Moraes (1980) ( https://youtu.be/VApKB4P6QVA )
Enxerto 3 (comentário):
TV Unifor - B. de Paiva | Arte.Doc ( https://youtu.be/QrNAFFOsjRg )