Episódio 3

Temporada Álbum de recordação BSB

Inventários de Brazlândia – EP3 | Dazumana #49

Já imaginou fazer um inventário do patrimônio local? É isso que estudantes da Escola Parque da Natureza de Brazlândia fizeram. Com o acompanhamento de professores como a doutoranda Simone da Rosa, as turmas associaram a educação patrimonial à ambiental. Vamos conhecer quais são os bens valorizados pelos alunos de Brazlândia?

Sobre o episódio

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Juliana: Olá, este é um novo episódio do Dazumana, da temporada “álbum de recordação BSB”. A figurinha que vamos acrescentar à nossa coleção hoje é de Brazlândia, mais especificamente vamos falar da Escola Parque da Natureza de Brazlândia.

Leyberson: A gente vai tentar mostrar como os campos da educação ambiental e da educação patrimonial podem se articular. Assim, vamos conhecer uma escola viva, nela ocorre um fluxo entre ação e reflexão, ou seja, educadores e educandos buscam a teoria a partir do que a prática demanda.

Juliana: Quem nos guia nesse tour pela Escola Parque da natureza de Brazlândia é a Simone Menezes da Rosa, professora que desenvolveu sua dissertação de mestrado sobre essa instituição. Olá Simone, tudo bem?

Simone: Olá pessoal, prazer. Satisfação estar aqui com vocês. Desde já parabenizo essa síntese, ficou muito bem construído.

Leyberson: Simone, a gente é que agradece a sua colaboração e o aceite para participar desse programa e a gente vai começar com um ritual bem clássico aqui que é a leitura do Lattes da nossa convidada. A Simone que tá aqui com a gente é doutoranda pelo programa de pós-graduação em artes cênicas da Universidade de Brasília. Ela é mestra em artes pelo programa ProfArtes da UnB também. Especialista em educação do campo pelo programa de pós-graduação em meio ambiente e desenvolvimento rural da Universidade de Brasília. Ela é graduada em licenciatura em artes plásticas pela UnB, professora da Educação Básica da Secretaria de Educação do Distrito Federal. A Simone integra a coordenação da escola de teatro político e vídeo popular do Distrito Federal do coletivo e grupo de pesquisa Terra e Cena e também do programa de extensão “Diálogos: Universidade-Escola”. Simone é isso mesmo? Faltou alguma coisa? A gente teve ali uns cortes de áreas de interesses que você falou “não precisa contar agora não”. E aí quer colocar mais alguma coisa?
Simone: Acho que tá perfeito.

Juliana: Tá certo então, a primeira pergunta que a gente costuma fazer para as nossas convidadas entrevistadas é entender o que motivou o interesse para olhar para o patrimônio da nossa cidade? E aí como você faz essa relação da escola com o meio ambiente, com o patrimônio? De onde surgiu esse interesse?

Simone: Ontem, eu estava refletindo sobre isso porque eu estou de licença agora da escola, então nos últimos três anos, eu não tô mais acompanhando o projeto, mas estava refletindo sobre os outros sete anos que eu passei dentro da Escola Parque da Natureza de Brazlândia. Quando a gente chegou, assim, não só eu como grande parte dos meus colegas, a gente chegou assim, muita novidade, a maioria recém-formado como eu e com uma formação de uma graduação em área específica, no meu caso, era em artes visuais, tinham professores das diversas linguagens de artes e professores de educação física. E de repente a gente tomou posse e foi mandado pra essa escola que também estava assim, o espaço estava alugado na época era uma chácara e tinha um projeto, um início de um projeto.

Simone: E aí já aparecia a educação patrimonial e a educação ambiental como base epistemológica das escolas junto com o projeto de escola parque que eu também penso que é um patrimônio. Então eu lembro que era um choque assim, uma novidade para todo mundo, inclusive para as diretoras da época que era Cláudia Simone e a Claudiane que escreveram um projeto que pensaram em trazer esses dois campos aliados às artes e o corpo, a gente se perguntava como fazer assim. Então, a educação patrimonial ela cai no nosso colo e ela cai no nosso colo por conta do território de Brazlândia, então o entendimento de que a educação patrimonial junto com a educação ambiental deveriam ser tratadas de maneira articulada tem, por Brasilândia tem uma densidade histórica, né? Ela é a segunda cidade mais antiga do Distrito Federal, a primeira é Planaltina, ela é anterior ao Distrito Federal. Então ela é uma enquadre para narrativa de que aqui não existia nada
[Enxerto] Brazlândia foi criada oficialmente em cinco de junho de 1933, não como cidade, mas como uma subprefeitura do município goiano de Santa Luzia, hoje Luziânia. Em 1938, voltou à categoria de povoado e ficou assim até 1964, quando se tornou uma região administrativa do Distrito Federal.

Simone: E ela tem uma densidade cultural muito grande que reforça uma certa identidade, uma certa identificação cultural com aquele território e a gente entendia aquilo ali como potencialidade, como a potencialidade de fortalecimento da relação de conhecimento daqueles sujeitos com o território. Então a gente tinha uma noção dessa importância, mas a gente não sabia muito bem como lidar com isso na prática pedagógica e eram as intensificações de formação continuada, né? E aí parceria com o IPHAN, parceria com a Universidade de Brasília, parceria com os agentes locais de cultura e isso instigou outras formações, né? Então no meu caso eu acabei indo para o mestrado muito instigada por essa escola recém-inaugurada e por esse choque de trabalhar num espaço muito diferente e com perspectivas epistemológicas e pedagógicas que eu não tinha tido acesso.

Juliana: Na sua fala, você disse que as escolas parques você considera como um patrimônio, né? Então para a gente entender melhor assim, se pudesse explicar rapidamente o que é uma escola parque né? Se a palavra parque tá aí relacionada à educação ambiental diretamente ou não? E como ela se conecta, na verdade, a quem trouxe o conceito, o Anísio Teixeira, né?
Simone: Ela não está relacionada diretamente, assim a gente consegue encontrar um ponto, né? No ideário de Anísio Teixeira, mas ele não vai estar escrito na letra. Então essa ideia de escola parque, ela é anterior à União de Distrito Federal. A primeira foi a Carneiro Ribeiro na Bahia quando o Anísio Teixeira propõe… O educador Anísio Teixeira que foi um baiano muito significativo na nossa história pedagogos do Brasil, signatários escola nova. Então ele estava pensando modelos de educação transformadora no seu tempo ali em meados do século XX, mais para o início do século XX. Ele tem uma formação, o Anísio Teixeira, ele tem uma formação ligada ao John Dewey, pertencente ao movimento escola nova, o que estava acontecendo nos Estados Unidos, ele vai lá conhece e percebe que existe um movimento de trazer o corpo para dentro da educação, um movimento de que você aprende de maneira integral e aí não é só tempo integral, mas é uma educação integral, ela vai contemplar as diversas falências do ser humano, né? Não só cognitiva intelectual, mas a corporal a manual.

Simone: Então a partir daí ele traz o pensamento de uma relação, a escola, uma escola curricular entre aspas onde tem as matérias as disciplinas convencionais e outro tempo articulado que era dessa escola do corpo, dessa escola das artes, dessa escola das manualidades e tem uma questão muito interessante que é uma escola onde o trabalho não alienado, ele tá vinculado a essa relação, então Anísio questionava muito por que que o trabalho intelectual ele é tem uma simetria tão grande com relação ao trabalho manual. Agora o interessante é que quando Anísio traz a concepção do movimento de escola nova e pensa na realidade brasileira, ele traz algumas transformações para regiões periféricas.
[Enxerto] Respiramos pela democracia, mas nunca lhe fizemos pagar o preço. O preço da democracia é a educação para todos, é a educação que faz homens livres e virtuosos.

Simone: E aí ele consegue dar um salto e nos índices de educação dessa primeira experiência da Carneiro Ribeiro que ficava no bairro, fica, né? Não sei se ainda é se o nome do bairro, em Salvador. Quando Brasília vai ser pensada né, como um todo existe aqui uma ebulição de quem tava com pensamento mais avançado no Brasil, de quem já tinha tido experiências… Então na educação superior tem Darcy Ribeiro pensando toda a reforma universitária e na Educação Básica também em diálogo, então os dois construíram muito em diálogo. No pensamento, a gente tinha o Anísio Teixeira pensando o sistema de educação em Brasília. E aí ele traz uma proposta articulada com o planejamento urbanístico da cidade que é muito interessante, né? Então em cada quadra teria uma escola clássica e a cada quatro quadras uma escola parque que atenderia os estudantes dessas quatro escolas clássicas e essa escola parque, ela também teria essa função de ser um espaço de diálogo da diversidade, da diversidade nas escolas. Então no pensamento utópico de Anísio, ele fala, tem uma frase que a célebre que, na verdade, é do Justiceiro Kubitschek, que é aqui estuda o filho do do embaixador com o filho do servente né, do servidor. Fala isso na inauguração da Escola Parque da 308 Sul, que foi a primeira escola do Distrito Federal e a única inaugurada junto com a cidade, né? Praticamente junto com a cidade. Só que esse é um projeto interrompido, né? Logo em seguida, vem a ditadura militar, eram para ter 20 escolas parques só no plano piloto, nós temos cinco escolas parques no plano piloto e todas construídas, assim inauguradas com muita luta, assim passava anos, inaugurava uma, passava muitos anos, inaugurava outra.

Simone: Em 2014, são inauguradas duas novas escolas parques com a novidade de que elas foram fora do eixo plano piloto, uma na Ceilândia e uma em Brazlândia. E aí vem um enclave, agora só fazendo uma ressalva, tem outra escola parque da natureza que a escola parque se eu não me engano do núcleo bandeirante, ela é mais nova do que a nossa, mas voltando, então quando ela inaugura tem um enclave de pensar uma escola parque que ela não tá nesse plano urbanístico, então a escola parque como patrimônio no sentido da ideia, como patrimônio no sentido do projeto físico urbanístico integrado. E aí a gente se perguntava como que ela vai se colocar nesse território, né? Essa concepção que foi pensada dentro de uma complexidade maior como que ela vai se desenvolver e desdobrar em uma realidade com as suas peculiaridades com as suas especificidades como de Brazlândia que eu comentei da densidade histórica, mas ela também é um dos cinturões verdes Distrito Federal, ela abastece, tem a responsabilidade de abastecer mais de 60% dos recursos hídricos do Distrito Federal, ela abastece com hortifrútis granjeiros do Distrito Federal, então ela tem toda uma especificidade característica daquele território

Juliana: Se a gente fosse comparar, porque assim alguns dos nossos ouvintes não são de Brasília, eu queria pedir para você comparar, quais são as práticas, atividades que você pode exemplificar dessas escolas parques no plano piloto e aí quais são as práticas, os projetos que você até menciona no seu artigo em Brazlândia. O que acontece nessa escola, que é uma escola parque mas também uma escola da natureza, como que a gente usa a realidade desses alunos para as práticas educativas?

Simone: Eu vou comentar o que eu conheço das escolas parques do plano porque não é o meu campo maior de conhecimento e eu vou me aprofundar então nas práticas da escola de Brazlândia . A escola parque da 308 Sul, ela tem uma estrutura impressionante assim a gente tem anfiteatro, tem salas de dança preparadas com polinômio assim uma biblioteca muito boa. Ela é uma escola que deveria ser escola modelo para muitas outras e ela se abre pra comunidade. Como ela tá dentro ali do espaço volta dentro de uma estrutura adequada, ela se abre para que a comunidade use aquele espaço. Então ela tem uma agenda cultural onde eu não sei se continua, mas onde artistas poderiam fazer as suas apresentações no teatro. Ela já foi utilizada para reuniões para encontros. Então eu vejo que existe uma porosidade na escola parque do plano que possibilita uma integração comunidade escola e não só comunidade escolar, mas comunidade de maneira geral, a escola parque de Brazlândia, ela foi inaugurada em uma chácara, ela demorou para se reconhecer como escola do campo. Mas ela é uma escola do campo porque a maioria dos sujeitos que acompanham são sujeitos camponeses. São sujeitos camponeses da agricultura familiar, então a agroecologia ela é a base da escola parque. Ela é a base da escola parque não só por um desejo de que seja, mas por dois motivos principais: um por uma condição de estrutura e aí eu já explico melhor e a outra pelo saber desses sujeitos camponeses que estão ali, pela valorização desses sujeitos camponeses.

Simone: Então, logo quando a gente chegou, tinha muita folha, né? Tinha uma quantidade gigantesca de folhas que caiu daquelas árvores e aí no primeiro mês os servidores foram lá e tacaram fogo nas folhas para dar conta do resíduo, né? Aí eu me lembro de uma professora falar assim na coletiva “gente, mas uma escola da natureza colocando fogo? Olha o absurdo isso aqui.” Dali a gente foi aprender a fazer compostagem. Então a escola, ela foi fazer a compostagem porque ela precisava dar conta do resíduo dela para ser coerente com aquilo que ela dizia que ela era, que ela era uma escola de educação ambiental. Além disso, além da agroecologia, passava um rio por trás da escola e esse rio a gente ia acompanhado o dia a dia quando que ele baixava que ele subia. E aí na história entre aspas, a gente foi fazendo as nossas pesquisas com os estudantes. A gente pegava um bambu, marcava e acompanhando ao longo do ano todo como que isso se dava até que a gente resolveu ir na universidade e a universidade respondeu prontamente com um programa estagiário, um programa de extensão para nos ajudar a fazer o acompanhamento dessa água. Então é uma escola que ela propicia, vou falar propicia ainda, mas logo explico, que seja um grande laboratório de experiências da articulação desses campos. Depois a gente montou um viveiro na escola ainda com apoio desse mesmo programa de extensão, um viveiro para que ele pudesse reflorestar, fazer o reflorestamento de zonas, principalmente de zonas ripárias, próximas de cursos de rio. Ficava acontecendo, por isso que a água tava baixando, tava assoreando o rio, por falta da vegetação ciliar. Paralelo a toda a trajetória portuguesa da escola, ela também… é uma cidade, Brazlândia é uma cidade que tem um movimento de hip-hop fortíssimo e ela tinha um skate park que era onde esse núcleo das batalhas de rima, do movimento hip-hop se encontrava. Esse skate park, ele foi fechado um pouco antes da escola abrir, então a escola ela tornou as oficinas pedagógicas significativas para o que era daquela comunidade, a gente chama as aulas, as oficinas, de “expressões pedagógicas”, então uma delas é a de skate. Então é uma escola que tem aula de skate, de skate park, é uma escola que tem aula de brasilidades, que nos seus projetos ela carrega as especificidades de Brazlândia, então o projeto maior da escola, chama-se “Cerrado Vivo” que é o acompanhamento do Cerrado com uma série de estratégias pedagógicas.

Simone: Eu acho que essas são as especificidades assim da Escola Parque de Brazlândia e em relação às escolas parques do plano. Fui falando com algumas ressalvas porque esse primeiro espaço que possibilitou esse laboratório grande de experiências, ele era um espaço alugado. E de 2018 para 2019, a escola foi retirada dessa chácara e até hoje ela anseia voltar para o espaço que possibilite ao exercer toda a sua vocação. Ela está desde 2019 no espaço provisório que é um espaço bem menor e que daí a escola tenta manter o seu político pedagógico, sua vocação com muita criatividade de todos ali do corpo docente e tal, mas ela sofreu uma perda significativa quando teve essa mudança.

Leyberson: Mas ainda é um espaço no campo, digamos assim, ou foi para a cidade?
Simone: Foi para cidade. Junto com crítica… essa situação porque além de ter mudado a escola parque com outro espaço tirado da chácara para a cidade, ela foi alocada no espaço onde também aconteceu um projeto de cultura e Brazlândia, para quem não é do Distrito Federal, mesmo para quem é do Distrito Federal e não conhece Brazlândia, é uma cidade que tem poucos aparelhos públicos de cultura. Ela tem um museu, mas era muito assim, tinha, ela tinha um parque que a gente podia acessar o galpão para fazer os eventos, não tem mais, ela tinha um cinema, não tem mais, então ela, a cidade, ela foi perdendo muito aparelho de cultura. E esse espaço onde a escola está alocada hoje ele era chamado de polo de arte e cultura, onde aconteciam oficinas, aulas tanto para os estudantes da rede pública quanto para a comunidade. E aí no movimento de ou fecha a escola, ou muda ela de lugar, esse projeto ele foi anulado né, o projeto polo, porque ele não tinha uma força institucional como uma escola e a escola foi transferida para lá então nesse movimento teve uma perda significativa para toda a cidade e é um espaço que fica no centro da cidade assim, a sorte que ele fica do lado do Parque Veredinha, então, ainda às vezes dá para dar um pulo e chegar no Parque Veredinha, mas perde a possibilidade de ser um laboratório vivo, esse laboratório de que o espaço te provoca a repensar suas práticas.

Leyberson: Brazlândia é uma prova viva de que aqui não era só mato, né? Tinha Brazlândia, tinha Planaltina e eu imagino que isso deva refletir no dia a dia da escola lá, na escola parque, por isso que eu perguntei se ela tava meio urbano, no meio mais do campo, né? E eu queria entender assim, enquanto e formação de brasileiros e brasilienses, né? Como os estudantes se entendem dentro de Brasília assim? Eu acho que o seu artigo que você fala um pouco sobre isso, não sei se é sobre o Brasil se ele se identificava com brasileiros ou como um brasilienses, né? Mas eu queria entender assim, eles se sentem brasilienses, eles discutem é a importância de Brazlândia para o Distrito Federal? Essa questão, assim, nessa cultura mais campestre. Como é essa discussão lá dentro? Se é possível identificar algum tipo de patrimônio imaterial, digamos assim.

Simone: É interessante a sua pergunta, me veio à mente uma vez que um grupo de estudante da arquitetura da Universidade de Brasília, foi fazer uma pesquisa com os nossos estudantes e nessa pesquisa tinha imagem de vários patrimônios tombados de Brasília e aí iam perguntando “vocês conhecem?” se eram os nossos estudantes, porque nesse período a escola estava aprendendo a educação infantil ao 9º ano e essa turma era uma turma de 5º ano, então o ele sempre perguntando “vocês conhecem esse daqui?” e era o Congresso Nacional, “você conhece esse aqui?” “ah essa daqui eu conheço!” aí “qual que é ?” “Torre Eiffel!” e era a torre de TV. Então assim você vê como é que no imaginário, às vezes, Paris tá mais próximo do que a torre de TV. Então existe uma série de tensões é ao mesmo tempo que uma vez eu tava dando aula para uma turma que era de uma escola do campo, se eu não me engano, era da Chapadinha que é uma região rural de Brazlândia, aí quando eu fui falar que a gente ia fazer a caminhada patrimonial, que é uma caminhada que a gente faz pelos pontos das alguns pontos da cidade de Brazlândia, pelo Lago, é uma caminhada urbana. E aí eu fui contar que a gente ia fazer isso e tal e a menina falou “Ah, então nós vamos lá para Brazlândia?” Então lá pra Brazlândia, eu não sei se eu saberia dizer qual que é o reconhecimento deles, assim, no sentido de se abra é brazlandense ou se é brasiliense, se é brasileiro. Acho que brasileiro, sim, eu acho que a ideia de nação se sobrepõe aí, mas eu não, é uma pergunta que talvez caberia fazer para eles assim. Como que eles se reconhecem? Porque a nossa perspectiva, nessa ideia de patrimônio tanto material e imaterial, eu acredito que era uma perspectiva e que seja mais popular no sentido de perguntar o que eles entendem por isso, então a gente fazia sempre uma primeira anamnese, fazia uma avaliação diagnóstica, nos primeiros dias de aula. E aí a gente perguntava, quais eram os patrimônios que eles reconheciam de Brazlândia e apareciam n respostas assim, entre elas, uma vez chamou atenção que em vários formulários apareceu assim, “Farmácia do Claudinho”, acho que era isso se eu não me engano, eu acho que era isso e aí chamou atenção e tal e aí para quem era Brazlândia, que no caso eu não sou de Brazlândia, eu fui conhecer Brazlândia para trabalhar lá, mas para quem já era de Brazlândia na hora sacou do que tava falando. É porque esse farmacêutico, ele é uma referência na cidade, é ele que muitas vezes quando a pessoa não consegue atendimento no Hospital, ele vai lá e fala o que quer que a pessoa deva tomar. Então os nossos estudantes reconheciam que aquilo ali, na conversa do que era patrimônio, patrimônio é aquilo que é relevante para a comunidade, patrimônio, é aquilo que a gente acha que é importante, aquilo que a gente acha que não deve faltar na cidade e tal. A partir dessa conversa eles reconheceram que aquele sujeito, o Claudinho, era relevante para aquela comunidade, então claro que a gente chegava até o patrimônio que é reconhecido, né? O patrimônio que já tem a chancela, mas para chegar até lá a gente achou que era importante começar por esse patrimônio, do nosso reconhecimento. Então, lá no avançar do ano letivo, a gente fazia visitas pros pontos turísticos de Brasília, né? Nem sempre conseguimos o ônibus, mas nesses primeiros anos da pesquisa a gente sempre fazia assim um recorrido pelos patrimônios Federal e tal aqui de Brasília, né? Plano piloto e tinha uma coisa, um pouco de…. que talvez estranha-se, talvez se sentisse que não era para estar ali, sabe ou uma certa euforia. Então “nossa, a gente tá sentado na grama de Brasília”, isso foi uma fala de um adolescente assim, porque esses passeios a gente fazia mais do sexto ao nono ano, então tem uma tensão né, tem uma tensão dessa relação dos locais, assim como existe uma tensão do rural e urbano porque os estudantes do campo, camponês também estudavam com os estudantes das escolas urbanas. Quando eles chegavam lá na Escola Parque eles são redistribuídos e isso era de propósito. Só que não é Pacífico, né? Então alguns estigmas do pé de Toddy não sei que é, vire e mexe aparecia e é ótimo que apareça porque se aparece é oportunidade para a gente ressignificar esses locais, né?

Juliana: Você falou desse diagnóstico, de perguntar dos monumentos de Brazlândia, Brasília. Isso é o que você chama de inventário participativo? Se for eu queria pedir para você explicar mais como que seria essa metodologia? E o que você faz depois? Quando o inventaram está pronto.

Simone: É, não, o diagnóstico, ele seria uma avaliação cega mesmo. O inventário participativo, ele foi desenvolvido pelo IPHAN, ele é um documento assim, como a gente pode chamar? É quase que uma proposta pedagógica porque ele é bastante didático, ele foi desenvolvido pelo IPHAN.

[Enxerto] Os inventários participativos de bens culturais são fruto e o mecanismo de diálogo entre as pessoas, as instituições e as comunidades acerca daquilo que têm representação histórica ou artística, um valor coletivo na salvaguarda dos saberes e fazeres que representam a sociedade ou território em que este está inserido

Simone: Nesse inventário participativo, ele traz algumas questões para que a gente possa fazer um estudo, uma pesquisa, de algum patrimônio. Então ele é bem bacana, assim é um material que eu recomendo do ponto de vista pedagógico, a gente usou muito a metodologia do inventário participativo no cruzamento com a educação ambiental e deu super certo, então a gente tinha um projeto que chama “Adote uma árvore” e aí cada turma escolhia uma árvore da escola, né? Porque a chácara, vamos supor o ipê-amarelo e a gente inventaria essa árvore e acompanhando ao longo do ano toda essa árvore. Então começava assim a pergunta “pesquise uma música lenta, conto poesia blá blá blá que tem a relação com essa árvore”, “pesquisa a história dessa árvore”, só que isso você pode aplicar com outros patrimônios, você pode fazer com o Carlinhos, é Carlinhos o da farmácia, não é Claudinho, você pode fazer com o Carlinhos, você pode ir lá entrevistar o Carlinhos usando a metodologia do inventário participativo então, ele é um material que tá pronto do IPHAN e que ele estimula a você indagar, pesquisar, investigar patrimônios ou material e o vegetal. E aí vou aproveitar sua pergunta para falar de um outro inventário que corre em paralelo e que na época da pesquisa não conhecia, mas que pode ser também um instrumento interessante do ponto de vista da educação patrimonial. Na educação do campo, as escolas do campo são inventariadas, então tem uma política na Secretaria de Educação que chama vários históricos ambiental das escolas do campo. Ele também tem toda uma base com Roseli Caldart, com Mônica Morina, com uma série de pesquisadoras que formularam essa concepção de você pesquisar a escola, especialmente os sujeitos camponeses. Então o modo de vida, como que produz? Qual que é a produção daquela região? Produção agrícola? Da onde que vem a água daquela região? Existe ali uma série de métodos, publicado nesse… em trabalhos como esses que citei, de como que você pode inventariar o seu território. É uma política da Educação do campo, mas que com certeza ela pode ser utilizada também por outras modalidades da educação, educação urbana, educação especial, enfim. A nível de exemplo, nós temos uma escola aqui no distrito federal que descobriu uma contaminação na água da escola, a partir desse trabalho do inventário do território da região.

Juliana: Se eu puder só complementar, Leyberson, para eu entender bem certinho. Tem esse inventário, várias metodologias que podem aplicar, você deu esse exemplo da contaminação da água e aí eu queria entender se esse inventário serve como uma prática para a gente realmente conhecer essa realidade onde estamos inseridos ou se ele pode dar eventualmente passos além? Por exemplo, se encontrar a água contaminada, o que a gente pode fazer?

Simone: Olha, Juliana, uma coisa que você tinha mesmo me perguntado sobre o desdobramento dele, eu não me atentei a responder, obrigada por retomar. O do IPHAN, inclusive eles estimulam que seja levado adiante, de que se for uma questão reconhecida pela comunidade, então vamos com a orla, vou trazer para as orlas de Brazlândia, a orla do Lago de Brazlândia, ela foi… há uns três anos tentaram retirar, como que eram dispostas as pedras portuguesas lá que foi pensada por um artista de Brazlândia, o Galeno. E aí eles iam retirar, já estavam tirando as pedras e iam passar cimento por cima, né? Teve uma mobilização social para que voltassem aspectos. Então dentro da perspectiva do IPHAN, quando ele faz a proposta para participativo, é que a partir dessa pesquisa, desse reconhecimento, a gente possa cutucar, entre aspas, o IPHAN para que ele faça o tombamento e o tombamento nesse sentido, se a escola tivesse feito, por exemplo, da orla do Lago de Brazlândia, poderia ter feito a salvaguarda desse espaço e garantindo que não passaria o cimento, né? Então ele tem essa possibilidade, ele tem esse anseio de que ele deu o próximo passo, né? Esse dessa escola de que eu estava te falando, eu acredito que eles levaram adiante, não sei qual foi o desfecho, agora na educação pública e básica do estado a gente esbarra muito na burocracia, né? Porque o inventário da EPNBraz, por exemplo, ele pontua essa questão do espaço e tem 10 anos que isso não se resolve, foi destinado uma área, mas não construiu a escola, então assim são passos muito lentos que esse trabalho que inicia pedagógico e que é a parte mais gostosa e mais bonita, eu acredito, chegue nas mudanças concretas, nas mudanças da realidade que essa pesquisa consiga alterar a realidade. O CEF Veredinha, por exemplo, que fez o inventário da escola do campo. O inventário que eles fizeram esse ano diagnosticou duas coisas: o assoreamento de um rio e a outra é que o irmão de um estudante foi atropelado esse ano porque a escola tá na beira da pista e é uma pista de de 100 km/h, eles só querem que tenha pelo menos uma placa de pare e uma faixa de pedestre para que o estudante possa atravessar de um lado para o outro. E estão aí pelejando e não consegue. Agora, sim, foi a partir do diagnóstico da realidade que eles foram perguntar e vivenciar a experiência do estudante que conseguiu trazer à tona. Então acho que dentro da escola, da perspectiva da escola, ele desvela as camadas da realidade, ele pode tirar o véu que cobre, agora dá o passo além, ele esbarra numa série de burocracias e aí precisa mesmo ter muita garra para não esmorecer pelo caminho.

Leyberson: Eu queria retomar uma coisa que você disse lá no começo que você considera a escola parque como patrimônio e que você fala “ah vou falar mais sobre isso”, até para entender. Queria que você fizesse uma defesa desse argumento, até para entender porque se for assim se é um patrimônio. Teoricamente, como a escola parque da natureza, ela precisa estar associada, principalmente à educação ambiental ou ambiente propício para isso, né? Me parece que hoje ela vive em conflito com seu próprio existir, né? Então eu queria que você defendesse esse sentido da Escola Parque como patrimônio. Até porque assim hoje eu tenho privilégio de ter uma escola parque na minha janela, consigo ver assim, eu já tenho eu abro vejo as crianças as professoras fazendo trabalhos com plantação, com árvores e com laminado e ninguém estraga, parece que faz parte realmente ali do cenário Urbano aqui do plano, né? Onde eu tô nesse momento, então me parece viável esse argumento, eu queria ouvir da sua voz que tem essa experiência do dia a dia, da práxis.

Simone: Bom, te respondendo, a minha defesa é feita porque é direito (risos), porque é direito do estudante ter acesso a essa escola e ter acesso a melhor escola que ele pode ter e existe uma demanda represada de mais de mil estudantes, porque quando ela sai da chácara e vai para esse outro espaço, todos esses estudantes do sexto ao nono ano deixam de ter acesso porque o espaço não contemplado. Então a minha defesa é que uma cidade que está perdendo perdendo perdendo perdendo… há anos, ela vai perder de novo? É direito dessa comunidade, direito dessa comunidade de ter tanto polo de arte, cultura, como ter escola parque da natureza de Brazlândia. É patrimônio enquanto direito e a gente tinha eu acho que muito claro assim que quem tinha que defender a escola era a comunidade então para fazer sentido, para que essa escola seja patrimônio, ela tem que ter diálogo com a comunidade, ela tem que fazer sentido com a comunidade, por isso que a gente fazia questão de fazer as caminhadas pela cidade, a gente fazia questão de participar dos desfiles, nós já fizemos outras, que a gente pode chamar de ação direta, cartazes, colocamos cartazes na rua, eu acho que talvez a gente podia ter até radicalizado um pouco mais assim, ter levado para opinião pública e tal. Mas a própria publicação desses artigos todos assim tinham a ver com esse espaço de defesas sabe? Usar o latifúndio do saber como campo de defesa da escola pública e tinha uma escola pública de qualidade, escola pública que seja no espaço amplo, que tenha direito também é arte, não seja só aquelas matérias curriculares elas também, mas que tenha, como diz Anísio, que tenha a formação integral, não só de tempo integral, mas formação integral do sujeito, esse talvez seja o nosso patrimônio, o pensamento de Anísio Teixeira empregado na prática. Essa é a minha defesa.
Juliana: Eu sei que essas últimas perguntas estão nos encaminhando para uma finalização, mas teve uma que eu não fiz e que é um pouco básica que seria interessante, que você fala muito do papel do projeto político pedagógico e fala que foi feito uma avaliação diagnóstica e com isso vocês começaram a atuar e fazer propostas para escola e eu queria pedir para você explicar um pouco, tanto a relevância do projeto político pedagógico como que vocês utilizaram ele para essas novas propostas.

Simone: Juliana, ele tem sido trincheira, no sentido, como a escola sempre teve essa ameaça do fecha e não fecha, é no projeto político pedagógico que ela se sustentou, na maioria das vezes, então ele tem sido trincheira em vários níveis, nesse sentido de sustentação da escola de maneira institucional, tem sido trincheira no sentido de que por mais que ele seja, ele tem uma construção coletiva que se mantém mesmo com a dinâmica de mudanças da escola, então assim, Brazlândia por ser distante tem uma rotatividade muito grande de professores, tem um quadro de professores na escola parque o composto por pouco professores efetivos, a maioria dos professores são professores que estão em regime de contrato temporário e que passam um ano ou dois anos e muda esse quadro. Então ela tá o tempo todo precisando se formar e se reafirmar, então ali dão as bases para quem chega do que já foi feito, de como que pode avançar sem esquecer o que já foi feito, sem precisar se reinventar ou com certo respeito à memória de quem tava antes. Então acho que ele é trincheira nesse sentido assim e, ao mesmo tempo, ele precisa ser vivo e coletivo, então ele é vivo e se reelabora a partir da demanda daqueles que fazem, assim quem é central, quem deve ser central no projeto político pedagógico é o estudante, é o estudante que deve trazer a centralidade. Claro que isso tudo é negociado, então, por exemplo, eu falei eu tenho o desejo de trabalhar com a cultura latino-americano, esse é um desejo meu profissional, pode ser que o estudante nunca esteja nem aí, mas eu desejo apresentar isso pelo menos, assim, então, eu acho que essas negociações entre o desejo dos professores, da direção deve ser negociada com os estudantes dando a centralidade desse processo aos estudantes. Então essa avaliação diagnóstica, ela serve um pouco para balizar com quem que a gente está se relacionando ali, com quem que vai estabelecer esse processo de pesquisa anual, por isso que todo ano ele precisa ser revisto, então ao mesmo tempo, aquele carrega essa memória ele também é propositor de caminhos futuros, né?

Leyberson: Quando você falou lá do estudante, foi falando questão que fiz a pergunta do patrimônio. Eu queria saber se de alguma forma por ser Brazlândia uma cidade que existiu, existe antes de Brasília, se eles trazem elementos desse passado assim também. Não sei se são muito jovens ou se eles lembram de elementos… porque assim eu conheço um pouco de Brazlândia, mas fala muito de “Coluna Prestes passou por aqui e foi para lá”, “teve a missão Cruls”, “teve isso não sei o quê”, “aí eu só lembro da festa do morango” assim, eles trazem alguns elementos seja do campo, seja anteriores a Brasília no dia a dia?

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Simone: Sim, Brazlândia é uma cidade que não teve o centro histórico preservado como Planaltina né, Planaltina conseguiu cultivar o centro histórico. Mas apesar disso e muitas vezes infelizmente em ruína, esse passado ele ainda tá presente. Então tem casa de adobe que você esbarra aqui e ali, tem uma outra imagem muito forte que tem assim, muita gente traz foi do Seu Beija, um senhor que tratava com as ervas a comunidade, inclusive ele teve a farmácia verde.
[Enxerto] Meu pai que fez a primeira casa de telha em Brazlândia, depois eu vim também, para pôr os menino na escola e fui lutar… e eu já comecei com o comércio de farmácia que toda a vida eu gostei muito de farmácia.
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Simone: Então na voz eu acho que da geração dos estudantes esse passado não tá talvez tão presente a não ser no modo de fazer, no modo de vida de trabalho camponeses. Mas você dá um passo atrás da geração então na geração dos pais ou mesmo dos professores que são de Brazlândia essa memória ela tá muito viva ainda assim, desses sujeitos pioneiros, então a tal da família Braz ali de quem foram os primeiros, então não só da família Braz como das famílias que fundaram que estão lá desde o início da cidade, tem muita gente ainda que tá morando em Brazlândia. Tem um colega nosso que é da escola, o Geraldo, por exemplo, ele tá desde o início, a família dele e ele tem a memória, se sentar para conversar com ele e algumas vezes ele já fez isso de forma muito espontânea, ele vai te contando a história da cidade sabe? O tio dele, logo no início, na inauguração da escola, a gente foi visitar uma das fazendas inaugurais, era a fazendo do tio do Geraldo, aí ele “Ah não é que passou a coluna Prestes” foi contando assim a história “a gente ficou assim tava todo medo aí meu pai colocou as mulheres para dentro fez uma comida, vocês podem acampar aqui” então uma geração anterior à dos estudantes é gente que viveu mesmo esse processo.
Juliana: Bem, conversando com você Simone, eu tô lembrando de outro educador muito famoso que é o Paulo Freire que ele vai falar que ninguém educa ninguém né, que tem uma educação que é mediada entre os dois e aí pensando na sua experiência nessa escola, imagino que transformou muito os alunos, mas que deve ser transformado muito você também e eu queria pedir para você me dizer quais são os aprendizados em dois níveis: um que tem a ver com o conhecimento, com práticas que você pode usar em outros momentos educacionais ou mesmo na pesquisa e o outro se teve também aprendizados para você pessoalmente?

Simone: Nossa, Juliana, gente não dá nem para comparar assim. Claro que tem a vida que corre, né? E o quanto que a gente muda, mas é o que você falou assim a mudança ela é completa, é uma… parece que a escola parque ela empurra a gente assim, ela dilata a gente mesmo, então não só eu como colegas meus também falaram isso. Como eu estou de licença para fazer o doutorado, eu dei aula na licenciatura na educação do campus no nível superior, né? Como professora voluntária e eu não consegui dar aula diferente da aula que eu dava no Braz. Em que sentido? Primeiro que tem o corpo, eu não consigo mais dar aula enfileirada sabe? No mínimo uma roda pra gente conseguir se olhar, no mínimo, mas se puder trazer o corpo… a outra coisa é olhar para o espaço assim, olhar para o ambiente onde a gente tá e usar a favor esse ambiente, as potencialidades então… ainda nesse exemplo, o campus que ele é rodeado de cerrado, o campus de Planaltina da UNB, então sair da sala de aula, não ter medo de sair da sala de aula, não ter medo de explorar o ambiente externo assim e tá muito mais à vontade que o ambiente externo do que do ambiente interno. Mas eu acho que talvez o principal seja não ter medo de horizontalizar a relação sabe? Isso não necessariamente é específico da Escola Parque, mas nessa escola parque a gente aprende isso, a gente aprende a respeitar da formiguinha ao diretor ou pelo menos tentar respeitar da mesma forma os seres que habitam ali, não só os estudantes, mas eu acho que passa por isso tudo assim para tentar manter uma gentileza mesmo que isso gere negociações, que gere conflitos, que gerem confrontos. Então acho que levo essa ideia de ter uma gentileza horizontal e eu não me lembro qual que é a segunda pergunta, você me desculpa, Juliana.

Juliana: Tranquilo, é porque eu perguntei sobre o aprendizado em duas esferas, uma é essa que você falou da própria educação que você pode replicar em outros lugares e pessoalmente também teve transformações para você Simone?
Simone: Ah, sim e muitas, mas eu quero elencar uma que pensei agora que é de ser muito feliz fazendo as coisas, a gente não admitir não ser feliz fazendo as coisas, então para começar tem que ser divertido, eu acho que a minha mudança na relação profissional é de que eu vou estar onde eu quero ser feliz, então 2026 acaba a minha licença. Eu tô contando os dias para voltar para sala de aula e quero ser muito feliz com os meus estudantes, então é agregar a diversão dentro da rotina.

Leyberson: É depois dessa fala eu fico até meio receoso de fazer uma outra pergunta e acabar com a graça, mas a minha última pergunta, pegando também analogia aí do latifúndio de saber você tá aí fazendo doutorado, queria que você contasse um pouco mais do que você tá plantando aí de pesquisa, seja no doutorado ou o que ficou depois desse artigo, depois desse trabalho, até meio dessas inspirações, né? Que tanto no pessoal quanto no profissional, por assim dizer, você tirou e o que você tá aí semeando na área acadêmica?

Simone: Ah legal, que bom poder falar disso, paralelo ao processo como escola parque ainda na pesquisa de mestrado surgiu nesses comentários um projeto de extensão que chama “Escola de teatro e vídeo político popular do Distrito Federal” que faz parte de uma rede internacionalista de escola de teatro e vídeo político popular. Então tem escolas no Brasil e na Argentina, em Quito e em Madrid e o meu interesse de pesquisa então ele foi girando para educação popular que existe nesses processos de militância e educação popular e para o teatro político assim, então eu faço uma pesquisa que tá articulando a experiência da Frente de Trabalhadores de Costa América que se deu em meados do século XX, muito impulsionado pelo Augusto Boal, pelo Atahualpa del Cioppo do Uruguai e pelo Enrique Buenaventura que é da Colômbia. Essa experiência foi uma articulação latino-americana de resistência às medidas dos golpes que estavam correndo na América Latina e ela acontece entre 72 e 74, têm uma interrupção longa e essa rede eu comentei agora com vocês ela vem na inspiração dessa frente, então eu pesquiso a educação popular e a cultura política contra hegemônica latino-americana na perspectiva dos movimentos sociais das universidades e das escolas que compõem essa rede latino-americana. Foi um giro após ter pensado muito sobre a EPN BRAZ, uma coisa muito local, muito regional, esse giro mais de América Latina. Então pensando no que tô semeando, que tá muito perto da Educação Básica, o meu desejo no retorno à escola, se tiver oportunidade, trabalhar com a cultura política latino-americana com os estudantes, ficaria muito feliz inclusive se forem os mais novos, que tenho feito aí um levantamento em paralelo à pesquisa do doutorado, um levantamento de quem tá trabalhando com cultura política na América Latina para crianças e ficaria muito feliz de experimentar isso em sala de aulas.

Juliana: Bem, vou agradecer a participação da Simone. Acho que foi um bate-papo muito legal e deixar o microfone aberto para se você quiser acrescentar alguma coisa que a gente não perguntou.

Simone: Quero parabenizar a iniciativa do podcast, a partir desse convite eu fui conhecer os outros episódios e acho que o trabalho de vocês é de uma competência enorme. É um trabalho que tem trazido temas tão relevantes assim e, ao mesmo tempo, me questionando, será que isso que a gente faz na academia ainda é lido? E foi uma surpresa tão boa vocês terem chegado pela pesquisa, sabe? Fiquei muito feliz, então parabéns pelo o que vocês estão fazendo e quero aproveitar esse espaço também para mandar um abraço gigantesco ao pessoal da escola parque de Brazlândia. Eu já não estou mais tão lá, mas que eles estão sempre aqui.

Leyberson: Bom, eu vou deixar então aqui no encerramento desejo de que a escola vá para um lugar que faça sentido ao seu pronome, né? Que tem uma mudança e também que os futuros estudantes e também comunidade escolar possa ouvir esse episódio, compartilhar nos seus ambientes, tocar aí no radinho lá, o MP3 Player que seja e a gente encerra aqui o episódio deixando um recado de que o Dazumana tá no YouTube e em várias plataformas de Podcast como Spotify, Google podcast, iTunes e a gente volta em 15 dias com um novo episódio. E se vocês quiserem ver as sugestões aí pessoal de Brazlândia o nosso e-mail é voz@dazumana.com.

Juliana: Esse projeto é feito com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, do Governo do Distrito Federal e realização da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal. É isso, até a próxima. Dazumana, a ciência sem jaleco.

 

CRÉDITOS:

Enxerto 1 (comentário): SBT Brasília Jornalismo - Brazlândia é a segunda cidade mais antiga do DF, 94 anos de muita história e produtividade ( https://youtu.be/esaVnkme72U )

Enxerto 2 (comentário): TV Brasil - Máquina de Fazer Democracia - Vida e Obra de Anísio Teixeira ( https://youtu.be/gsobYRhetCs )

Enxerto 3 (comentário): Aruê! - Afinal, o que é um inventário participativo? ( https://youtu.be/HzOOn3JQjFI )

Enxerto 4a (comentário): Maria Coeli - História de Brazlândia 2 ( https://youtu.be/_DpjLzhP40A )

Enxerto 4b (comentário): Maria Coeli - História de Brazlândia 3 ( https://youtu.be/O45ZJWYNZfE)

Materiais extra:

Dissertação “Escola Parque da Natureza de Brazlândia: utopias educacionais” da Simone a Rosa
Manual do inventário de bens culturais

Dissertação “Escola Parque da Natureza de Brazlândia: utopias educacionais” da Simone a Rosa
http://icts.unb.br/jspui/handle/10482/34474

Manual do inventário de bens culturais
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Manual_do_INRC.pdf

FICHA TÉCNICA:
Entrevistada: Simone da Rosa
Pesquisa e locução: Leyberson Pedrosa e Juliana Mendes
Gestão e Produção executiva: Carolina Villalobos
Montagem: Gabriella Braz
Edição de som: Ricardo Ponte
Música tema: Ricardo Ponte
Tema do lattes: The Angels Weep de Audionautix
Design gráfico: Bárbara Monteiro
Ilustração: Juliana Mendes
Transcrição: Gabriella Braz
Janela de Libras: Brenda Kroslowsk
Redes sociais: Zizi Villalobos
Assessoria de Imprensa: Rafael Ferraz
Site: Marcelo Nogueira