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Biblioteca de sons

Quais sons você escuta quando fecha os olhos? Existe técnica e poesia na colheita de áudios. A diretora de som e pesquisadora Camila Machado caminhou conosco, mostrando seu trabalho de oficinas, gravação e organização de biblioteca. Ela falou até mesmo sobre sons que não existem mais. O resultado de seu trabalho é o inventário sonoro, realizado com integrantes do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) no sertão baiano e intitulado Sonário do Sertão: www.instagram.com/sonariodosertao.

O Dazumana é um podcast informativo de divulgação científica. Comentamos fatos da vida para entender as teorias, sempre com finalidades educativas. Artigo 46 da Lei 9.610/1998.

Juliana Mendes: Olá, começamos mais um episódio do Dazumana.

Leyberson Pedrosa: E como vocês podem perceber pela nossa vinheta de abertura, o som tem um papel fundamental na comunicação, ele constrói ambientes e mundos.

Juliana Mendes: Por exemplo, vou chamar: vozes animadas, instrumentos tocando um forró e o ruído do crepitar do fogo. De repente temos uma noite de São João. Cada ambiente tem um aspecto sonoro diferente, e as bibliotecas de som podem refletir essa diversidade regional. Quem vai explicar isso para a gente é a Camila Machado, nossa convidada. Olá, Camila, tudo bem?

Camila Machado: Olá, boa tarde, boa noite, bom dia. Como vão?

Leyberson Pedrosa: Estamos ótimos, ainda mais agora, que eu vou poder ler o seu Lattes. A gente já está ouvindo - que é uma coisa muito importante aqui do Dazumana - o som dos anjos tocando o momento marcante do Lattes da nossa convidada. E, para marcar essa leitura, eu vou contar para vocês que a Camila é pesquisadora, professora, cineasta e diretora de som. Ela é mestra em Comunicação pela Pós-Graduação da Universidade de Brasília, na linha Imagem, Som e Escrita com bolsa do CNPq. Atualmente é doutoranda em Artes Contemporâneas na Universidade Federal Fluminense, na linha Experiência, Conceito e Sonoridades. Possui graduação em Comunicação Social pela Universidade de Brasília, com habilitação em Cinema e especialização em Som pela Escuela de Cine y TV de San Antonio de Los Baños em Cuba, e também trabalha como diretora de som e produtora executiva em filmes independentes brasileiros. Ela é sócia-diretora da produtora de cinema Trotoar e criadora do projeto Sonário do Sertão, de formação de acervo do patrimônio cultural imaterial sonoro do sertão da Bahia e de Pernambuco, que é apoiado pelo Rumos Itaú Cultural. O projeto Sonário do Sertão recebeu o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade do Iphan em 2018, e essa biblioteca de áudios está disponível no Instagram do projeto, @sonariodosertao. Eu li rápido porque a gente quer muito conversar com a Camila, mas eu queria saber, Camila, se faltou alguma coisa, se gostaria de acrescentar.

Camila Machado: Atualmente a pesquisa no doutorado prevê e pensa a ampliação do Sonário. Como o Sonário é uma ideia de imaginário sonoro, de inventário sonoro, como o nome dá para várias interpretações, e no próximo ano a gente está trabalhando em um Sonário aqui no DF, Goiás, de onde eu sou, então quando você falou Bahia, Pernambuco, eu falei, "agora, daqui a pouco vai aumentar para Distrito Federal, Goiás", e aí depois a gente pode colocar Minas Gerais, Amazonas, mas é isso mesmo, isso que você falou.

Juliana Mendes: Cobrindo o Brasil inteiro, não é?

Camila Machado: Principalmente, o primeiro passo, é esse vínculo com o sertão, e aí esse sertão brasiliense e goiano também faz parte assim.

Juliana Mendes: Como surgiu a ideia do Sonário dos Sertões e se tem alguma conexão com o seu fazer como diretora de som?

Camila Machado: Ele surge um pouco com uma certa crise: ao ser diretora de som, ao ser editora de som, eu sempre fui criando acervos e planejando, catalogando sons que eu gravava nos filmes em que eu estava participando, então quando eu estava captando o som de um filme, não só o som, aquele som sincrônico com a imagem, mas eu também fazia questão de, independentemente de onde eu estivesse e se isso fosse ser importante ou não para o filme posteriormente, eu sempre fazia um acervo do som desses filmes, e esse acervo acabou sendo também um acervo pessoal. Ao editar os filmes, muitas vezes eu ia notando isso, que as bibliotecas de sons de que a gente tem acesso muitas vezes têm sons com que a gente não se identifica, não territorializa. Então eu tinha acesso a muitas bibliotecas de som gringas, e aí, realmente, eu precisava de um burburinho de crianças em um parque, e aí eu escutava o burburinho de crianças falando inglês, "hey you, give me the ball", e aí, realmente, eu pensei, "preciso eu mesma gravar esses sons", e, "que falta de ter esse acervo". Hoje em dia tem cada vez mais, nessas bibliotecas estrangeiras, tem lugares para você alimentar - muito durante a pandemia também grupos começaram a se juntar para que as gravações, cada pessoa pudesse gravar sons e formar esse acervo -, mas nesse momento em que eu estava como editora de som era muito difícil. Você tinha uma biblioteca que era do México, uma na África, tudo em uma ideia de como se México fosse toda a América Latina, África resumisse todos os países africanos, então nessa ideia eu comecei a pensar sobre como esse som que eu vou fazer em um filme, que eu preciso na hora da edição de som, o quanto ele é território, o quanto ele é aquele espaço, o quanto ele é um tempo, o quanto ele está vinculado à sonoridade de certos lugares, às vezes muito específicos, que você só escuta ali, e às vezes um pouco mais gerais, você pode dizer sons que você pode até usar de uma cidade para a outra, mas, realmente, quanto mais específico e quanto mais você consegue sonoridades do lugar onde foi filmado, foi feito um filme, você cresce muito a banda sonora de um filme. Então essa crise com a edição de som começou um pouquinho antes, e eu comecei a pensar essa ideia de acervo, e fui, então, bem paralelamente, apresentar um projeto para o Itaú Rumos, que é quem patrocinou e apoiou a primeira parte do projeto, e esse era um projeto de formação de acervo no sertão de Pernambuco e Bahia, justamente dois lugares em que eu tinha um vínculo com o Movimento dos Pequenos Agricultores, então esse projeto, além de territorializado, também tem um aspecto que cada vez mais retroalimentou, com a relação com o Movimento dos Pequenos Agricultores, a pesquisa acadêmica.

Canto das Mulheres do MPA (Sonário do Sertão)

Camila Machado: Porque, também, ao pensar os sons dos lugares - para o movimento era muito importante pensar o pertencimento àquele espaço, o quanto refletir sobre imaginários sonoros, refletir sobre sons, os sons que existem, existiram, podem existir mais, e sons que se perderam, sons que se transformam a cada dia -, e pensar tudo isso junto com o Movimento dos Pequenos Agricultores foi super importante para, aí sim, essa pesquisa de conceito, pesquisa teórica sobre imaginário sonoro. Então, à medida que a gente ia gravando os sons, escutando, fazendo propostas de instalação, propostas de edição, propostas de escuta coletiva desses sons nesses três territórios que estão no site, que estão no Instagram, que tem esse acervo - à medida que a gente ia pesquisando e gravando, também a pesquisa acadêmica ia tomando corpo, muito durante o canto. O surgimento é por aí, na experiência de som profissional.

Canto das Mulheres do MPA (Sonário do Sertão)

Leyberson Pedrosa: Eu queria pontuar que a gente está aí em um processo de tentativa de fazer uma experiência sonora também para quem não ouve, então a gente tem um processo de transcrição dessa temporada, a gente tem aí um aplicativo de libras que funciona no site para quem está acessando. E eu acho que seria legal você explicar alguns conceitos base, tanto para quem ouve quanto para quem não ouve também, que é o próprio conceito de Sonário, porque quando você joga no Google, ele vai traduzir para sumário, ele vai querer te dizer, "você quis dizer isso?", aí você não consegue achar fácil, e outro também é a própria ideia de sonosfera que você traz. Então, assim, independentemente se a pessoa ouve, se ela ouve bem, dependendo do nível de audição, ela consegue ter essa ideia, e eu queria que você explicasse para a gente então.

Camila Machado: Realmente não vai ter no Google Tradutor tradução de Sonário porque essa palavra não existe. Eu fui estimulada a pensar esse termo e pensar novos termos em um grupo de amigos pesquisadores que, justamente, eram de regiões diferentes. E aí a gente foi percebendo o quanto que, em alguns outros países, o uso de algumas palavras era vinculado mais ao auditivo. No espanhol, quando você está falando com alguém, você fala “Oye escúchame” que vem do som, e aí a gente ficou nesse inventário de palavras até chegar na palavra imaginário, e a palavra imaginário tem sua raiz em imagem, então a partir daí que veio um pouco esse jogo de palavras, que é um neologismo, Sonário não existe, então é um jogo de palavras que pode vir de imaginário, trocando a raiz imagem por som, então você fala Sonário. Aos poucos foi virando também um inventário, então é um inventário de sons, é um acervo, dialoga muito com o patrimônio imaterial, então você pode pensar Sonário como um inventário de sons, e tem mais dois outros termos que foram em apresentações, conversas e congressos, que acabaram surgindo outras interpretações. Uma delas era cenário, que um pessoal que era das artes, do cinema, da direção de arte, falou, "li Sonário, achei que era uma exposição sobre cenários", e eu falei, "mas tem muito a ver", porque é o som e o espaço. O cenário também é algo construído, algo que você pode plantar uma árvore e mudar o som do lugar, você pode colocar elementos sonoros que mudem o som do lugar.

Guinzés no Umbuzeiro (Sonário do Sertão)

Camila Machado: Você pode construir esse som, então cenário faz sentido também. E dicionário é outra palavra que se vinculou ao Sonário por conta da criação, da invenção com palavras ao escrever a dissertação também, como o sertão, como os sertanejos e as sertanejas descrevem os sons. Eu tenho um capítulo que é sobre zoadas, troquei a palavra ruído pela palavra zoada para a gente também inventar e criar termos que sejam Sonário, então a palavra Sonário tem um importante ato de pensar essa raiz, que a partir do som, o imaginário sonoro e o inventário. Outra palavra é sonosfera, que é um dos conceitos que eu uso na dissertação, que é um conceito do Sloterdijk. Ele tem uma teoria das esferas e como a formação das comunidades, a formação da humanidade também pode ser pensada pensando em uma estrutura de esferas. E aí quando ele chega na estrutura da sonosfera é quando ele começa a perceber que o mundo se partilha de forma muito forte a partir do sonoro, como se fizesse uma cúpula de sons, como você pensar que as pessoas compartilham, quando elas estão no mesmo território, os sons que elas compartilham formam aquele grupo. Você pode pensar isso em vários nichos, esferas menores e esferas maiores. Posso pensar a minha casa: o som que eu produzo na minha casa meus vizinhos escutam, quem dorme no quarto ao lado escuta o som da geladeira, o som do despertador e aos poucos os sons dos vizinhos, aos poucos o som da rua, o som da casa com o som da cidade, o som do bairro. Existe um partilhar de sonoridade que vai formando comunidades, pequenas, grandes, maiores. Então a ideia da sonosfera é essa, de você partilhar, e a partir de várias teorias de som, não só do Sloterdijk, mas ele também cita e compartilha uma ideia de que, sonoramente, o som, a audição é o primeiro órgão que forma um ser humano quando ele está em processo de formação dentro da barriga, enquanto bebê, e aí você forma a audição. Nessas teorias, a gente pode pensar que esse partilhamento de mundo forma uma recepção ao mundo, então você chega ao mundo tendo a sonoridade. E aí a gente depois é bombardeado com uma estrutura muito visual - visão, a visibilidade, tudo que passa imagem pelo olhar -, e você acaba, a partir disso, de certa forma invalidando, ou anulando, ou até só diminuindo um pouco a importância dos outros sentidos. Então, ao valorizar esse sentido da escuta, acho que também a gente faz uma espécie de inversão, de tensão para o Sonário, justamente para tensionar.

Juliana Mendes: No início você falou um pouco dessa experiência dos agricultores, de coletar os sons, fazer instalações. Aí, eu queria perguntar se teve uma metodologia, como foram essas oficinas, e também para você avaliar a experiência, o que você tirou dessa interação com esses agricultores coletando sons.

Camila Machado: A coleta dos sons? Adoro esse termo porque eu uso na dissertação "colheita", vinculando coleta, colheita, mas a ideia de vincular essa captação de sons também ao camponês, ao campesinato, ao que a gente estava fazendo também.

Na Carroça de Seu Dado (Sonário do Sertão)

Máquina na Casa da Farinha (Sonário do Sertão)

Dona Luiza dá comida de sua janela (Sonário do Sertão)

Camila Machado: O primeiro lugar que eu participei de oficinas - que eram oficinas de audiovisual - como oficineira foi com o Vídeo nas Aldeias em aldeias indígenas do Acre, algumas do Norte, basicamente no Acre e no Amazonas, e depois em um projeto que teve na Universidade de Brasília com os estudantes cotistas indígenas também. A gente realizava essas oficinas de vídeo nos territórios dos estudantes cotistas. Então o projeto se chama PVPI, e com o PVP em um projeto com os movimentos do campo, a gente continuou essa metodologia, que é inspirada em muitas das maneiras do Vídeo nas Aldeias, mas ela vai sofrendo certas adaptações, mas a ideia principal é essa do aprender fazendo, fazer aprendendo. Então a gente tem a mediação de um equipamento: tem um gravador, no caso um gravador de áudio, um gravador portátil semiprofissional; também trabalhava com alguns microfones profissionais para poder também ter uma diversidade de formas de captação, mas o uso principal era de um gravador portátil com para-vento, com suspensão, porém tudo isso a gente ia desnudando. Começava nu, começava com o gravador, "vamos lá, vamos coletar sons", e aí todos saíamos para coletas sons, e aí o importante era, após a gravação, a escuta incessante de tudo que a gente ia gravando, e aí, a partir dessa escuta, a gente ia caminhando. A metodologia era essa, mas a partir da escuta iam caminhando as questões importantes daquele lugar em relação ao que se gravar, à maneira como gravar, "está bom", "está ruim", "está com vento", "então está com vento? O que a gente tem para acabar com o vento?", "agora está com muito eco", "então quais são as maneiras para absorver e acabar com as reverberações?", "vamos gravar a fala de ancião, como a gente grava isso?", "a gente grava isso com a televisão do lado ligada? É importante essa sonoridade? É importante a sonoridade já mixada com muitos sons em volta?", então eu acho que a gente, aos poucos, gravando, escutando, gravando, escutando, a gente ia, ao mesmo tempo, percebendo a diferença entre o gravador e o nosso ouvido - acho que isso era uma das principais coisas -, e aí aos poucos também aprimorando e entendendo o que se queria gravar. Isso era muito bacana porque as oficinas geralmente eram com jovens camponeses do Movimento dos Pequenos Agricultores, mas a nossa sala de aula geralmente ou era um galpão ou era embaixo de uma árvore, a nossa sala de aula era bem aberta, e volta e meia principalmente todas, curiosas, entravam em algum momento na oficina para falar de sons. Acho que som é uma coisa que toca muito as pessoas, e às vezes você nem percebe que toca tanto, mas quando você fala de som, alguém aparece para contar uma história, para falar de um instrumento, para falar de algum som que existia e que não existe mais, no caso das pessoas mais velhas, sons que quer gravar, que não quer gravar, "você precisa gravar aquele som em tal lugar".

Ô Entra Mulher no Samba (Sonário do Sertão)

Camila Machado: Ou mitos e causos, e a parte em que eu me interesso muito, que no mestrado foi caminhando também, que é a relação do som com o invisível: se você gravar esse som, significa que é mau agouro; se você gravar três vezes seguidas o vento no pé da serra é porque no quarto dia vai chover, então a gente ia todo dia tentar gravar o vento no pé da serra, torcendo para que chovesse no quarto dia. Então é toda uma estrutura de histórias, de contos, de experiências em relação ao gravar os sons, ou estar simplesmente falando sobre os sons, e a gente gravava todos os encontros, então tem sons que eu não tenho gravado, a gente não tem gravado, mas tem essas pessoas contando, então esse som do pé da serra realmente não conseguimos gravar, mas tem dona Ceci contando, "mas vai dar certo, a gente vai conseguir gravar esse som no pé da serra", ou o som da coruja rasga-mortalha, que eu nunca gravei, ninguém nunca gravou, e no último dia da oficina teve uma oficinanda que falou, "ainda bem que a gente não gravou porque quem escuta esse som é porque vai morrer; se a gente não gravou é que a gente está vivo", então está ótimo. Tem sons que a gente não grava, melhor coisa. Acho que eu fui um pouco respondendo a metodologia e a experiência, mas acho que, para mim, o fundamental foi esse encontro do que tem por trás do som, do que tem por uma história, a história daquela comunidade por trás desse som, o que tem que toca essas pessoas, o que relembra, o que é memória, o que continua e vai continuar, e une as pessoas, porque também não é um projeto pensando só memória, não é? Ele ganha o prêmio do patrimônio imaterial, mas com uma ideia de que esse patrimônio é vivo, essa sonoridade é viva. É muito bom a gente estar nesse diálogo de falar dos sons passados, sons presentes, sons futuros, quais sons a gente gosta e que não gosta, mas que atura e que está lá e o ouvido se acostuma também, ou que o vizinho não gosta, mas eu gosto, então essas disputas sonoras também existem e são importantes. A maior experiência para mim foi essa, foi de descoberta de que essa gravação ultrapassa uma gravação de uma onda sonora, esse som carrega com ele muita história, muitos afetos, e no caso do Movimento dos Pequenos Agricultores, o que a gente conversava muito e é muito importante também: o quanto isso carrega de território de pertencimento, o quanto muita gente que migra, que é retirante, precisa sair do sertão do Nordeste em algum momento para São Paulo, e o quanto essas sonoridades vão juntas, vão com os instrumentos musicais, vão com o sotaque, vão na memória, e muita gente escuta o Sonário do Sertão e fala, "é ótimo, eu estou lá escutando o Sonário do Sertão para lembrar da minha terra", então o projeto também tem esse lugar do pertencimento, como se manter na terra. O Movimento dos Pequenos Agricultores, a principal luta é essa: se manter na terra, de ter um bem viver naquela terra para não ter que migrar. Praticar escuta, a fala e gravar esses sons têm esse objetivo.

De que lado o senhor está? (Sonário do Sertão)

Leyberson Pedrosa: Há diferença entre pesquisar sons em ambientes como o sertão e dos centros urbanos? Essa é a pergunta que eu acho que já até tem uma resposta quando você fala de memória, pertencimento, memória viva, território. É uma pergunta que eu fiquei, assim, um pouco filosófica, mas uma curiosidade. Você, nesse trabalho, tem sons que vocês não gravaram porque pode trazer mau agouro, etc., tem coisas que não são possíveis captar porque talvez não se ouça como gostaria. Existem sons que se extinguem ou que se perdem? Quando você estava lá, fazendo a apuração e tudo mais do sertão, de repente alguém falou, "eu nunca mais ouvi isso"?

Camila Machado: Sobre a diferença do sertão e dos centros urbanos: o primeiro som gravado em todas as oficinas que eu dei, o primeiro som que era gravado era o som do motor da moto, o roncar do motor. E aí foi ótimo porque foi aquele tapa na cara de pelica de quem podia ter, em um primeiro momento, uma sensação de que no sertão eu vou ouvir sons que fossem mais naturais, da natureza, os animais. E aí o primeiro som que a gente foi escutar depois da captação era "bram, bram, bram". E tem todo um porquê maravilhoso também desse som ser gravado. Esse som é um som muito importante no sertão, uma região que, nos anos que eu trabalhei, entre 2006 e 2016, foram anos de muito apoio governamental naquela região, e aí a moto entrou em cena, então a zoada da moto significava também uma melhoria de possibilidades. Você poder levar as suas sacas de alimento para a feira em uma moto, você poder se transportar, você poder ir para uma escola em uma cidade distante, então o ruído da moto é muito importante. E aí eu aqui na cidade falando, "eu não aguento mais o ruído de moto", veio a pandemia, era moto, moto, moto o tempo todo - que também tem uma história, a pandemia, a moto, as tele-entregas, os trabalhadores que utilizam a moto como trabalho, que eram os únicos que se locomoviam -, então toda a sonoridade vai ter sua história e seu território, e essa palavra de "há diferença": óbvio que há diferença, porém isso é talvez uma diferença que a gente pode tratar de não julgar, de não colocar uma qualidade. Por que eu quero ouvir o som do bem-te-vi e não o som do cachorro? Por que a gente às vezes, "não, esse som aqui está me irritando, mas esse som aqui é bonito"? Isso é uma construção. Então acho que o projeto acaba sendo, o Sonário do Sertão, ele é encontro desses desejos. Nunca deixei de gostar do som do bem-te-vi, ficar maravilhada com sons de pássaros que eu nunca tinha escutado, de pensar que, por exemplo, as pessoas no sertão, cada casa, em volta dela é plantada todas as frutíferas. Elas são plantadas ali para que, às cinco da manhã, todos os passarinhos venham comer as frutíferas, aí as pessoas acordam com o som de pássaros, então isso é uma escolha e uma forma de tratar com o seu ambiente, e talvez a gente na cidade tenha um pouco menos de controle nisso. A sonoridade nas cidades é muito vinculada a um certo poder sonoro que a gente não domina. Jamais vou dominar quando passa um helicóptero ou um avião. Um avião acabou de passar na sua casa, atrapalhou a entrevista e a gravação, você não tem nenhum controle disso. "Não, gente, espera aí. O helicóptero... eu vou mandar parar." A gente tem um domínio de poder em relação ao sonoro que é uma discussão muito séria. Muitas vezes briga por causa de som, mas os sons mais altos de todos são feitos pela indústria, pelos transportes, e aí a gente tem que pensar nisso. É ignorar que existe transporte, existe indústria, existe avião? Não, existe. Então como a gente consegue conversar um pouco melhor sobre isso? Essa rua aqui vai ser uma rua para bicicletas porque mora um pouco mais de gente, aí a gente chegou a essa outra rua, a gente pode transformar em uma rua só de ônibus. É melhor ônibus do que carros? Por quê? O ônibus faz mais barulho, mas também leva mais gente. Então tudo isso é uma questão de pensar sua cidade. Ao pensar sua cidade, você pode pensar sonoramente a sua cidade sem ignorar, sem também tratar de uma forma idílica. "Só no sertão a gente escuta coisa boa", não. Eu gosto muito de como o som... eu tenho um vizinho que canta o dia inteiro no banheiro. Adoro ficar lá curiando ele cantando. Vivenciar isso te traz na memória as coisas que você lembra. Inclusive o som do cachorro: cachorros latindo é a casa da minha mãe. E aí, quando eu escuto muitos cachorros latindo, eu lembro da minha infância. Então a gente lida com essas sonoridades, e talvez não exista diferença no sentido que todos os sons são a criação desse território de um ambiente, que a gente está imerso neles e o quanto a gente consegue também apitar neles, literalmente fazer soar alguma coisa. Quando eu vou fazer o meu corpo soar nesse lugar? Quando a gente fala de ocupação de rua, "a rua é nossa, vamos ocupar a rua", o que é uma manifestação? O que é um músico de rua, uma musicista, alguém tocando? Então tudo isso faz parte de ampliar e diversificar sonoramente os lugares, então acho que a diferença talvez é que, em alguns sertões específicos, consiga ter um pouco mais de escolhas. E a sua outra pergunta é esses sons que se extinguem. Tem até umas teorias de som, de que o som nunca se extingue, porque você não sabe quando acaba a reverberação. Ela vai sempre sendo dividida por dois, por dois, por dois, aí você já não escuta no seu ouvido, mas algum animal escuta que tem um som ali. Então tem teorias assim que... não sei o quanto comprovadas, mas eu adoro pensar nelas, mas tem teorias de que algum som que foi falado lá na época dos dinossauros ainda está ressoando em algum lugar, muito baixinho, sem nenhuma força, mas que está entre nós. É ótimo pensar nisso. Mas, então, talvez eles não se extinguem nesse sentido da física: a gente para de ouvir, mas eles não se extinguem literalmente, eles se transformam. Tem uma metáfora, que a sereia que canta e encanta navegantes, e que você, escutando aquela sereia, você para o que você está fazendo, você não consegue resistir àquele canto, e você se joga no mar para aquela experiência encantadora, canto e encanto, encantadora, encantada com aquilo, e é levada para a morte ou para alguma experiência que não sabemos muito bem, e aos poucos essa sereia, do mito da sereia, dá origem a uma palavra, que é a sirene, que também é um som ao qual você não consegue ficar imune. Você está trabalhando, vem uma sirene. Você sabe que é hora de entrar no trabalho, sair do trabalho, sons de alarme. Por outro motivo, que a gente chamava do mito da sereia, que é algo absurdamente lindo ou muito incrível que você não consegue resistir, vira algo que talvez utilizado nas mãos do capitalismo, "vamos lá, todo mundo trabalhar, todo mundo tem hora", então esse som se transformou. Você vai dizer, "e o som da sereia, ele sumiu?", não, eu acho que ele existe em outros lugares. Tem sons que não são tocados mais? Tem sons que não são tocados mais, que a gente não escuta porque, culturalmente, a história daquela região, de alguma região, deixou de tocar. Agora, os motivos são diversos. Pode voltar a tocar em algum momento? Acho que pode, ou se transforma para outro lugar. Um som que é como se fosse o som da sereia e o som da sirene no Sonário do Sertão é o Buzo. Está na dissertação esse som, está no Instagram, está no site, está em todos os lugares porque para mim é um som emblemático, porque, justamente, em uma roda de conversa com os jovens, velhos, todo mundo do sertão de Pernambuco, em Bodocó, em algum momento teve uma senhora, dona Adelaíde, que falou, "Deus me livre escutar aquele som de novo, eu não quero nunca mais escutar o som do Buzo". Então para ela era ótimo que esse som estivesse extinto, porque era um som feito no corno de um boi, parecendo um berrante mais curtinho, então mais agudo também, e com esse som as pessoas eram chamadas para os enterros. Então ela lembra desse som no dia que a mãe morreu.

Histórias do Buzo (Sonário do Sertão)

Camila Machado: Então, para ela, "não quero ouvir esse som nunca mais porque esse som me lembra o dia que a minha mãe morreu", e a morte dos pais é algo que alguém quer esquecer, então ela não queria ouvir nunca mais, e eles começaram a falar, então, do Buzo para mim. Algumas pessoas mais jovens não conheciam, então, "espera aí, me conta, o que é esse Buzo?", e esse Buzo era usado em algum momento também para chamar para o almoço, então foi para o velório, foi para o almoço, e depois em uma outra pesquisa na Casa Grande em Nova Olinda, que são músicos que pesquisam o som, e lá eu descobri que o Buzo é utilizado até hoje em rituais do Pankararu, e é, continua sendo, a forma como muitas comunidades indígenas se comunicavam com os deuses, então é Buzo porque ele era uma comunicação com o divino. Então olha só a transformação da sereia: Buzo para falar com o divino, com os deuses, se transformou em um som para chamar para velórios e depois para chamar para o almoço, que alguém não quer nunca mais nem escutar, e no final alguém vira e fala, "hoje em dia a gente recebe o WhatsApp: velório do fulano vai ser tal hora", falei, "então pronto", ali está um som também que, "pli, pli", no seu celular para avisar alguma coisa, te comunicar. Então acho que esses sons se transformam. Eu prefiro acreditar nessa transformação dos sons, e que a gente pode estar sempre pensando nesse circular, talvez nessa espiral desse sonoro.

Juliana Mendes: Para além desses sons que claramente estão conectados a ações físicas, concretas, como o vento, em algum momento você teve ou tem a pretensão de gravar sons também que são abstratos, que falam de coisas que você não vê, que é o divino, o mitológico?

Camila Machado: O Buzo pode ser uma das primeiras, te respondendo logo, não é? Porque ele se transformou e virou um som muito mais prático, porém ele era um som utilizado nesse sentido. A gente também gravou, por exemplo, sons de tambores, uma festa muito comum, muito maravilhosa no sertão da Bahia: é a festa de São Cosme e Damião. A metodologia e o cronograma têm a ver com isso também, então quando eu fui gravar, fazer a primeira oficina, também era um momento de descobrir, "você tem que voltar em setembro, setembro é a festa de Cosme e Damião". Setembro é a festa que a gente toca para os dois santos - orixás ou santos, que é uma festa candomblé e católica no mesmo dia -, e que o toque do tambor é um toque de comunicação com o divino. Então você tocar, você cantar, chamar esses espíritos para virem dançar e comer junto nessa festa de São Cosme e Damião no Cariru, lá chama Cariru nessa parte do sertão da Bahia, na comunidade de Várzea Queimada.

Lena conta sobre dar o Cariru (Sonário do Sertão)

Camila Machado: Foi até lá que eu escutei de uma das senhoras do candomblé, do Cariru, falando, "quem tem santo, tem canto, e quem tem canto, quer dançar", então é um vínculo de você ter um vínculo com o espiritual, você tem um canto, que pode ser um lugar ou uma música, um canto, e você quer dançar, então tem uma movimentação corporal. De certa forma, essas sonoridades, elas todas também têm esse vínculo de a gente, que está nesse plano visível, tentar se comunicar com o plano invisível. E o contrário, sim, tem uma coisa muito especial da gravação, a hora que você grava, que você conseguiu, não conseguiu gravar, o que passou no momento. Então eu acho que também pode ser interessante o que está por trás desse mistério, no caso, narrativas dos mistérios, as histórias. Os causos dos mistérios também me interessam muito, então como trabalhar isso? Lembrei agora de um artista sonoro que tem um projeto que se chama Curupira, que ele grava muitas pessoas falando do Curupira e sons da mata, e você nunca sabe se você está escutando o Curupira mesmo ou não, e você fica nessa dúvida o tempo todo. É uma arte sonora muito bonita, de você escutar o causo e sons que poderiam ser. Mas eu acho que é uma linha muito forte do Sonário, porque o imaginário sonoro passa por essa ideia de que esses sons dizem algo além, do além, e ao permanecer nesses espaços, esses sons continuam soando. E tem isso, às vezes a gente pensar que você remove pessoas de um território, vai para outro, vai para a cidade, "esse pessoal daqui pode ir tudo para um apartamento", é mexer muito com esse mundo invisível que está junto com essas comunidades. Como ele vai ficar? Onde ele vai soar? Para onde ele vai ressoar? Então eu acho que dá para gravar o som dos invisíveis.

Leyberson Pedrosa: Queria saber, pegando agora porque você me falou sobre a teoria lá do reverberar e cortando, o Sonário chegou, de alguma forma, em vez de cortar, para multiplicar, porque se a gente está no Instagram, depois está lá no Soundcloud, está no site, tem as experiências, tem o próprio prêmio que ajudou a potencializar. Aí a minha pergunta é: como foi a repercussão? Eu sei que o som vai se diminuindo com o tempo, mas ele teve uso em filme, rádio, ou alguém chegou e comentou, "eu ouvi um áudio que eu não lembrava", e tudo mais, e se já puder emendar também - você já falou um pouco sobre o que te interessa, essas narrativas, a questão dos sons invisíveis e tudo mais -, se você tem alguma perspectiva de projeto futuro. Lá no comecinho, você falou que vinha aqui para o Goiás para fazer uma pesquisa mais específica.

Camila Machado: Para fazer essa sonoridade não só decair como reverberar um pouquinho mais, e aí acho que a gente acaba tocando em dois conceitos que eu estou estudando agora com professores da UFF que vão nesse caminho, tem um professor maravilhoso lá que se chama Tato Taborda, que tem um livro que se chama Ressonâncias. É justamente o quanto as sonoridades passam o que você faz, o que você faz soar. Um som que acontece acaba ressoando em algum outro corpo, então às vezes alguma coisa que a gente está conversando aqui chega ao ouvido de outra pessoa que vai escutar o podcast e vai falar, "esse negócio ressoou aqui em mim, tinha alguma coisa, vou atrás", ou, "vou sair para gravar som também", "eu vou parar para escutar, vou parar em uma esquina e ficar escutando sons", então acho que essa ressonância é algo que aconteceu muito depois do Sonário. E aí é o que faz também os sons não morrerem, então você soou aqui, você acabou vibrando outro corpo, que vibra outro corpo, vibra outro corpo, e aí isso vai se espalhando. Muito legal essa complementação ao decaimento do som. Esse projeto, então, ele é um projeto escrito e realizado com o Movimento dos Pequenos Agricultores, então o movimento segue gravando sons, segue alimentando o site, produzindo seus próprios sons e podcasts, o Rádio Zap, as oficinas de como aprender a usar um gravador, gravar, editar e colocar no ar - então um passo a passo aí que a gente ia fazendo, pensando o patrimônio, mas a gente está fazendo isso também para um movimento social, no campo. Isso é muito importante: ocupar também essas faixas do podcast, das rádios, então fazer uma contranarrativa nos meios principais que acontece. Então isso, sim, tem uma das ressonâncias, essa produção que o MPA continua cada vez mais fazendo. Durante a pandemia, a gente fez várias oficinas online também, mas isso está reverberando também por aí. O site e o Soundcloud, você consegue baixar. Volta e meia, então, tem esse contato, tem esse download para filmes específicos e também para utilização coletivamente em escolas. Em escolas bastante, bastante livros escolares que também pediram as fotos do Sonário para estarem lá, é um pouco da metodologia e da experiência do Sonário para fazer exercícios em escolas públicas. Acho que ele vai para vários caminhos, acho que é um projeto que pode ter esses frutinhos, pode colher sons e frutos em lugares diversos. Aí vem o DF e Entorno, DF e Goiás, que é o doutorado. A pesquisa do doutorado tem vários caminhos, mas no momento eu estou me aprofundando em pensar e trabalhar junto com o MST do DF, e se o mestrado foi com o MPA, agora o doutorado é com o MST, e justamente em uma teoria, em um conceito de que o MST, ao ocupar os territórios, ocupa sonoramente esses territórios. Então latifúndios que, por exemplo, estavam devastados e só tinham uma monocultura, e aí você escuta só um tipo de som, uma máquina só, mal dá insetos por causa do agrotóxico que mata os insetos, então você não escuta nem insetos, quanto mais outros animais, e aí você vê o MST ocupar, primeiramente, depois transformar esse território, monocultura, latifúndio, em parcelas, então várias pequenas moradias, pequenos terrenos em que as pessoas estão plantando. Então minha teoria é de que o latifúndio de monocultura arrasa alguns espectros frequenciais da sonoridade, então você acaba escutando uma coisa muito monoespectral, e aos poucos, com a ocupação do MST, você começa a ter essa diversidade nesse espectro, então é uma diversidade sonora a partir da ocupação. Além do MST ocupar por vários motivos que estão nas bandeiras da importância de uma ocupação e da distribuição de terra nesse país, o meu caminho com eles vai ser como isso, além da importância política um pouco mais concreta, tem essa importância política imaterial, que é da diversidade sonora, então os territórios passam a soar muito mais, os corpos que estão lá, as plantas que estão sendo plantadas. Eu estava outro dia em uma agrofloresta aqui em Brazlândia, no DF, e justamente uma das falas do seu Gilberto foi essa, "aqui não dava nem calango, agora eu escuto esse, esse, esse", ele citou vinte passarinhos. É uma transformação que o MST consegue fazer em muito pouco tempo.

Homenagem ao MST (Sonário do Sertão)

Camila Machado: E quanto mais tempo, então, mais ainda. Esse é o caminho do doutorado, está começando agora. Terminei o primeiro ano, a parte mais das matérias, as disciplinas, e vou a campo provavelmente a partir de 2023. Aí, junto com uma ocupação, um pré-assentamento e um assentamento do MST aqui no DF. Esse é o plano.

Juliana Mendes: Então eu queria agradecer a sua participação, vou deixar aberto o microfone para as palavras finais e queria lançar um desafio. Se você consegue pensar em algum áudio que marca a sua pesquisa, pensando nela como um todo, meio como se fosse uma trilha sonora da sua pesquisa no Sonário.

Camila Machado: Eu me lembrei de uma música do Gonzagão. Eu escutei essa música em outro contexto, não foi lá no sertão, mas tem uma música chamada Vem-vem.

Vem-vem - Luiz Gonzaga

Camila Machado: E que fala do canto de um passarinho, então tem uma história de amor que dá essa animação para o Gonzagão correr atrás da estrada, e é linda a música. O Gonzagão faz o som do passarinho com a sanfona, ele faz um "vem-vem" e é quando ele começa a música, a partir da escuta dessa sanfona, que é o som do passarinho chamando e avisando que vem notícia boa. Então Vem-vem quando escutei aqui, eu falei, "essa música tem tudo a ver com o Sonário, eu não conhecia", e foi uma descoberta boa no meio do mestrado.

Leyberson Pedrosa: Então não foi o Buzo do Sonário do Sertão o som da sua trilha sonora, mas sim o som de uma sanfona fazendo o som de um passarinho, ou o som de um passarinho fazendo o som de uma sanfona.

Camila Machado: Mas o Buzo é o grande achado do mestrado, mas realmente essa música tem também um significado muito importante. Como era um, aí eu acabei escolhendo o Vem-vem.

Leyberson Pedrosa: E a gente encerra, então, o episódio, agradecendo demais à Camila. Camila, ficou alguma coisa para falar?

Camila Machado: Primeiro, para mim é um prazer, muito obrigada pelo convite, pela paciência de vocês. Realmente eu estou nesse processo de transição para o doutorado, me mudando de cidade para escutar outros sons lá em Niterói, então está um pouco corrido, mas é sempre bom parar para falar sobre o Sonário e também para escutar como o Sonário ressoou em vocês e como pode ressoar em quem for escutar o podcast. A palavra-chave do Sonário é a escuta mesmo, é a gente ter esse tempo da conversa, da escuta e de se deixar ser estimulado pela escuta dos outros e pela sonoridade dos lugares. Acho que também tenho isso como um objetivo de vida, que é falar para as pessoas escutarem, mas obrigada. Obrigada demais e um beijo bem sonoro para todo mundo que estiver escutando o podcast.

Leyberson Pedrosa: Nós que agradecemos, Camila, e tenha certeza que ressoou também não só de forma acadêmica, mas de forma poética e literária, e a gente vai encerrar aqui o episódio do Dazumana dizendo que a gente está no YouTube e também várias plataformas de podcast, como o Spotify, o Google Podcasts, iTunes, então daqui a 15 dias a gente volta com mais um episódio desta temporada, e se vocês quiserem enviar sugestões, o nosso e-mail é voz@dazumana.com.

Juliana Mendes: Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF, e é isso. Até a próxima. Dazumana: a ciência sem jaleco.


00:00 - BLOCO 1: PRIMEIROS PASSOS
Introdução
O que é o Sonários do Sertão

08:32 - BLOCO 2: CAMINHANDO
Definição de sonário
Conceito de sonosfera

13:28 - BLOCO 3: LADO A LADO
Experiências de oficinas audiovisuais
Trabalho com indígenas
Sons do invisível
Disputas sonoras

20:30 - BLOCO 4: PELA CIDADE E PELO CAMPO
Sons urbanos x Sons do Campo
A extinção dos sons?
Da sereia à sirene
A História do Buzu

35:45 - BLOCO 5: PRÓXIMOS PASSOS
Repercursão do projeto
Doutorado
Perspectivas
Encerramento


Entrevistada: Camila Machado
Pesquisa e locução: Leyberson Pedrosa e Juliana Mendes
Gestão e Produção executiva: Carolina Villalobos
Redes sociais: Gabriella da Costa
Montagem: Leyberson Pedrosa
Edição: Thais Rodrigues
Site: Vinicius Cortez
Design gráfico: Diana Salu
Transcrição: Audiotext

CRÉDITOS:
Trilha sonora em CC - Little hymn de Stefan Kartenberg (http://ccmixter.org/files/JeffSpeed68/61297)
Efeitos sonoros - Audio Library do YouTube (https://www.youtube.com/audiolibrary)
Trechos Sonários do Sertão retirados do Instagram Instagram @sonariosdosertão

*Mermaid - Kevin Macleod (Youtube Library)
*Alarm Clock (Youtube Library)*Josefina - Quincas Moreira (Youtube Library)
*Daytime Forest Bofire (Youtube Library)Trechos do Sonários do Sertão retirados do Instagram:https://www.instagram.com/sonariodosertao/
*Canto das Mulheres do MPA (Sonários do Sertão)*Guinzés no Umbuzeiro (Sonários do Sertão)
*Na Carroça de Seu Dado (Sonários do Sertão)
*Máquina na Casa da Farinha (Sonários do Sertão)
*Dona Luiza dá comida de sua janela (Sonários do Sertão)
*Ô Entra Mulher no Samba (Sonários do Sertão)
*De que lado o senhor está? (Sonários do Sertão)
*Histórias do Buzo (Sonários do Sertão)
*Lena conta sobre dar o Cariru (Sonários do Sertão)
*Homenagem ao MST (Sonários do Sertão)

Música (uso educacional): Vem-vem - Luiz Gonzaga (Direitos autorais sob posse de Rosinha Gonzaga)